• Fórum Indústria 4.0
 
 
O Fórum Indústria 4.0 organizado pela Reed, Hiria e Harvard Business Review, trouxe João Fernando Oliveira - professor titular de Engenharia de Produção da USP, vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências, ex-diretor-presidente do IPT e da Embrapii - Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial – que falou sobre os Desafios Industriais: Novos Modelos de Negócio e Sustentabilidade. Para ele, a indústria deve passar nos próximos anos por grandes mudanças que devem ir ao encontro de dois fatores: o desafio da sustentabilidade e mudanças nos modelos de negócio. “Hoje estamos voltados majoritariamente para modelos de negócio cuja proposta de valor é a produção e venda de bens físicos. Mas, cada vez mais, existem serviços incorporados ao produto. Quando você compra um smartphone, gasta muito mais, ao longo do tempo, com os serviços ligados a ele e com aplicativos do que com o preço do aparelho em si. Uma das consequências, por exemplo, é que ao invés de comprar um carro, você pode utilizar um sistema de uso compartilhado de veículos, e o bem passa a representar um valor menor do que o serviço. Isso muda o conceito do produto, que agora passa a ser mais interessante se durar mais e tiver seus tempos de obsolescência tecnológica ou de design mais longos".

Então, também a indústria precisará mudar sua forma de trabalho pois no modelo linear de produção de hoje, extrai-se minério, gasta-se energia para produzir material, transformá-lo, agregar valor ao produto, vender e descartar no final – o que é ambientalmente. Em uma economia circular se fazem produtos com a vida mais longa, e que podem ser consertados, mantidos, remanufaturados ou reciclados o que leva a menores gastos de energia para produção de materiais básicos, menor dependência de minérios, menores custos de investimento e maior preservação ambiental.

Segundo o professor, além da mudança de paradigma da oferta de bens para serviços, deve haver maior qualidade dos produtos e o novo modelo da produção pede produtos confiáveis e que possam durar. Por conseguinte, novos níveis de confiabilidade de desempenho industrial surgirão.

Flávio Magalhães, sócio do Boston Consulting Group (BCG) falou sobre como a indústria 4.0 transformará o conceito de produtividade e os caminhos para a implementação no Brasil. O executivo pontuou que é a urgência é grande então é preciso fazer várias coisas em paralelo e destacou que é necessário ter princípios claros, comportamentos sustentáveis, e ter consciência de que a cadeia de suprimento é estratégica.

Ricardo Lima, sócio da Ernst Young para área de Tecnologia, pontuou que existem muitas tecnologias que podem ser chamadas de 4.0: smart cities, carros inteligentes, cuidados de saúde, wearables, smart grid, drones. Mas a aplicação de cada uma dessas tecnologias deve ser pensada pontualmente para cada negócio, ressaltando pontos como automatização de tudo ou só algumas partes; riscos e barreiras; se é necessária uma implementação-piloto, etc. Segundo o executivo, o que mais pressiona rumo à digitalização é a melhor utilização dos ativos, mas também do supply chain e da logística, além da experiência do cliente, das inovações para o negócio, dos benefícios para o ecossistema e a produtividade.

Ricardo Nezi, da ABB, falou sobre as possibilidades disponíveis hoje em automação para incluir os conceitos de smart industry nas indústrias. Marco Coghi, doutor em Engenharia Química pela Uicamp, pós-graduado em Engenharia Elétrica Controle de processos industriais pela PoliUSP, MBA Executivo em Gestão de Projetos pela Fundação Getúlio Vargas, ressaltou que, apesar dos benefícios para a indústria em geral, a Indústria 4.0 tem como grande cliente a indústria de manipulação de sólidos. Para Coghi, a indústria do Brasil possui empresas em diversas fases, inclusive algumas ilhas de excelência. O executivo falou sobre as dificuldades de se inserir nessa quarta revolução industrial e apresentou um aplicativo que ajuda a gerenciar boas práticas industriais, o Otmma3.

Vanderlei Bueno, diretor de Engenharia da Alstom – uma das empresas convidadas pela EY -, mostrou que a digitalização ocorre de maneira natural e que a empresa já pode produzir trens individualizados de acordo com a linha na qual serão instalados, – além de ter eliminado o uso de papel e trocado modelos 2D para 3D. Segundo ele, essas medidas já reduziram os custos fixos entre 20% e 30%”.

O diretor de Engenharia de Manufatura da Volkswagen, Celso Placeres, também vice-presidente da VDI – Associação de Engenheiros Brasil-Alemanha, postula que um dos drivers da empresa em busca de tecnologias 4.0 foi a busca por produtividade e a garantia de que as plantas brasileiras pudessem estar no mesmo nível de qualidade dos outros projetos mundiais. É uma realidade a fábrica digital: conjunto de softwares que permite o teste das instalações antes mesmo da construção e uso da fábrica, prevendo erros e falhas cujos seriam muito maiores uma vez a construção entregue. A flexibilidade trazida pela indústria 4.0 também já é uma realidade pois hoje a VW consegue, na mesma linha de produção, entregar o Golf e o Audi A3 Sedan, que são construídos sobre a mesma plataforma.

Rüdiger Leutz, diretor geral da Porsche Consulting Brasil, lembrou que as tecnologias que compõem a Indústria 4.0 são agenda do governo alemão e que o setor industrial é responsável por 20% dos empregos no país, e agora se esforça para manter-se na vanguarda da inovação para bens de capital. Segundo o executivo, “os EUA já estão à frente do desenvolvimento de softwares. Agora é correr contra o tempo, sempre em mente o fato de que lá, nos Estados Unidos, não estão pensando em desenvolver carros com design atraente, mas eficientes, cujo objetivo é o compartilhamento, e não a posse do veículo". Leutz mostrou como o Google Glass aumentou a produtividade dentro da montadora Porsche ao proporcionar a pessoas não treinadas de 80% a 90% da produtividade de funcionários experientes dentro da linha de montagem, por meio da tecnologia de realidade aumentada, trazendo instruções e dados na lente dos óculos.

Durante o encontro organizado pela Porsche, um dos cases apresentados foi o de João Coan, arquiteto de soluções da IBM, que frisou que há muita informação nas empresas, mas não são utilizadas e isso sugere que se pode investir pesado em tecnologias 4.0 sem se alcançar sucesso sem testes e melhorias anteriores a ela.

A volatilidade do mercado brasileiro pede gerentes – corporativos e operacionais – focados no curto prazo, mas, para a Indústria 4.0 é preciso acrescentar ao urgente um foco mais alongado e olhar para as operações como algo estratégico. Carlos Mandolesi, vice-presidente da ISA-Distrito 4, falou sobre a Segurança Cibernética e como a indústria está preparada para essa evolução. Mandolesi lembrou que a normatização aumenta a produtividade e a eficiência, simplifica os processos e os torna mais confiáveis. A ISA define cibersegurança de sistemas de controle com a prevenção aos riscos de invasão dos sistemas por ações maliciosas, redes ou equipamentos comprometidos. E o efeito dessas invasões pode gerar perda do sistema e da capacidade de produção, queda de qualidade, danos a equipamentos, riscos à saúde pública e a pessoas, violações de leis e muito mais.

Mandolesi lembrou que os ataques cibernéticos não se limitam a bancos e contas pessoais; há muito têm focado as empresas de utilidades. “A indústria sofre 14% dos ataques”, contou, lembrando o Stuxnet no Irã (2010), o ataque a 30 mil computadores da Aramco (2012) e o malware que parou 27 subestações e 3 usinas de geração de energia na Ucrânia (2015), entre outros exemplos. Para dar suporte às defesas nesse tipo de ataque existe a ISA99 ou IEC 62443 e a ISA possui um grupo de estudo sobre o assunto também no Brasil.
 
 
 
 
 
 
 
 


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