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Revista Controle & Instrumentação – Edição nº 273 – 2022



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Cidades vivas, em movimento, inteligentes
 

 
 
 
O termo “Smart City” caiu em uso popular, o que acaba gerando muitas interpretações e explicações diferentes sobre o tema. Existe, no entanto, a definição de “cidade inteligente” apresentada na norma ABNT NBR ISO 37122, e que, portanto, é a definição oficial, no Brasil e nos outros 166 países membros da ISO (Organização Internacional de Normalização): cidade inteligente é a cidade que aumenta o ritmo em que proporciona resultados de sustentabilidade social, econômica e ambiental, e que responde a desafios como mudanças climáticas, rápido crescimento populacional e instabilidades de ordem política e econômica, melhorando fundamentalmente a forma como engaja a sociedade, aplica métodos de liderança colaborativa, trabalha por meio de disciplinas e sistemas municipais, e usa informações de dados e tecnologias modernas, para fornecer melhores serviços e qualidade de vida para os que nela habitam (residentes, empresas, visitantes), agora e no futuro previsível, sem desvantagens injustas ou degradação do ambiente natural.

Tomando como referência o conceito de “Smart City”, da ABNT, e outros conceitos apresentados na norma ABNT NBR ISO 37122, pode-se estabelecer que há a necessidade de implementação de políticas, programas e projetos de cidades inteligentes, que respondam a desafios como as mudanças climáticas, o rápido crescimento populacional e a instabilidade política e econômica, melhorando fundamentalmente a forma como envolvem a sociedade; usem dados e tecnologias para oferecer melhores serviços e qualidade de vida; alcancem objetivos de sustentabilidade; identifiquem a necessidade e os benefícios das infraestruturas inteligentes; facilitem a inovação e o crescimento; e construam uma economia dinâmica e inovadora.

Pensando nisso, a ABNT criou o programa “Certificação de Indicadores para Cidades e Comunidades Sustentáveis”, baseado em 3 normas: ABNT NBR ISO 37120 - Indicadores para Serviços Urbanos e Qualidade de Vida; ABNT NBR ISO 37122 - Indicadores para Cidades Inteligentes; ABNT NBR ISO 37123 - Indicadores para Cidades Resilientes. Então, o município que deseje obter a certificação deve entrar em contato diretamente com a ABNT. Durante o processo a ABNT verificará, através de evidências objetivas em um processo de auditoria, se os indicadores do município estão aderentes aos requisitos dessas normas. É importante ressaltar que, nem as normas, nem a certificação, fazem juízo de valor sobre os indicadores. Isso significa que não existem metas numéricas ou qualitativas a respeito dos indicadores, mas sim requisitos sobre como eles devem ser calculados, quais fontes de dados devem ser consideradas, e como interpretar os resultados.

Cada norma é avaliada separadamente, possibilitando que cada município possa atingir até 3 certificações. Além disso, a depender da quantidade de indicadores em conformidade com as normas, a certificação concedida pode ter diferentes níveis, sendo estes Bronze, Prata, Ouro ou Platina. Os indicadores para serviços urbanos e qualidade de vida, indicadores para cidades inteligentes e indicadores para cidades resilientes, são divididos em 19 temas, a saber: Economia, Educação, Energia, Meio ambiente e mudanças climáticas, Finanças, Governança, Saúde, Habitação, População e condições sociais, Recreação, Segurança, Resíduos sólidos, Esporte e cultura, Telecomunicação, Transporte, Agricultura local/urbana e segurança alimentar, Planejamento urbano, Esgotos, Água.
 
 
A primeira certificação foi concedida a São José dos Campos/SP, mas há outros municípios candidatos em processo de certificação. É a própria ABNT quem executa, na íntegra, o processo de certificação, desde a auditoria de todas as informações, até a emissão dos certificados. A partir da certificação, os gestores públicos terão acesso a dados padronizados e auditados, para orientar suas decisões. O processo de certificação com base nos padrões ISO – International Organization for Standarlization – é uma iniciativa inédita no Brasil, e a ABNT é quem representa a ISO aqui. Apenas 79 cidades no mundo possuem essa certificação – e cada uma das normas utilizadas na certificação dá ênfase a tópicos essenciais.
 
“No primeiro dia de governo, um dos principais objetivos era transformar o governo de São Paulo, que é uma máquina grande, com 600 mil funcionários, em uma máquina mais tecnológica. Trabalhamos muito para isso, principalmente auxiliando muitos municípios que precisam de apoio, para evoluir na tecnologia da inteligência. É muito importante poder apoiar as prefeituras do estado de São Paulo para que a gente preste serviços públicos menos burocráticos. Quando a gente elimina a burocracia, a gente coloca mais transparência, e quando se coloca mais transparência, a gente consegue trazer mais segurança, e melhores resultados aos processos”, contou, em junho, o governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, lembrando que um bom motivo para pensar em transformar as cidades é que, para atrair investimentos, e alavancar o desenvolvimento econômico, é necessário planejar o espaço urbano de forma inteligente e sustentável.
 
A Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, através do seu hub de inovação IdeiaGov, possui um Programa de Aceleração, que visa ao fomento e apoio a negócios de impacto. Em sua terceira edição, a iniciativa selecionou startups que tenham modelos de negócio e soluções inovadoras relacionadas ao desafio Cidades Inteligentes, Sustentáveis e Humanas, com foco em conectividade. E, através do IdeiaGov, 30 startups estão prototipando soluções, para testar nos municípios que participaram da seleção. A segunda edição de aceleração de negócios de impacto aconteceu em parceria com a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente, e tratou de reduzir emissão de carbono e substituir matriz energética. Além disso, na terceira edição, diversos municípios estão pedindo soluções de mobilidade, três empresas inovadoras – Carbono Zero Courier, Getmaxx e To do Green.se – encaixaram no tema, e podem desenvolver pilotos nos municípios, ao final da aceleração. A Enel, por exemplo, tem trabalhado para tornar a cidade mais inteligente, implantando as tecnologias à disposição hoje em um quarteirão smart na cidade de São Paulo, denominado Urban Futurability, retratado na Controle & Instrumentação no 260 https://issuu.com/editora_valete/docs/ci260/32 ).
 
Vale destacar que o Centro Internacional de Tecnologia e Inovação de São Paulo (CITISP), o “Vale do Silício” da América Latina, está na capital paulista. Seu objetivo é colher contribuições da sociedade civil, para o aprimoramento da iniciativa, a qual envolve a concessão de uso durante 35 anos, para construção, gestão e operação de um distrito de inovação na área do Parque Tecnológico do Jaguaré – CITI II, por meio da atração de empresas voltadas ao desenvolvimento de produtos, processos e serviços inovadores. Assim, a região receberá investimentos, em parceria com a iniciativa privada, para a consolidação de um distrito de inovação, dotado de diversos usos, como habitação, lazer, comércios e serviços, incluindo o robustecimento da infraestrutura local, e a disponibilização de áreas verdes para a população. A primeira etapa do CITISP tem como foco o desenvolvimento e a aplicação de tecnologias de alta intensidade (hardtech). Desde o lançamento da primeira etapa, o IPT Open Experience já conta com oito empresas incubadas: Granbio, Lenovo, Instituto de Pesquisa e Liderança (Inteli), Siemens, Siemens Energy, Kimberly-Clark, 3M e Klabin. Até o momento, o IPT Open Experience totaliza R$ 380 milhões, em investimentos captados em setores, como biotecnologia, materiais avançados e tecnologia da informação.

Mas, as pessoas trabalham com diversos conceitos e rankings de Cidades Inteligentes, mais apoiados em tecnologia, mais relacionados ao meio ambiente e a sustentabilidade, etc.

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), por exemplo, criou a plataforma “inteli.gente” para que os municípios brasileiros se cadastrem, e recebam um diagnóstico de seu nível de maturidade no quesito “cidades inteligentes e sustentáveis”
 
 
O objetivo é propor diretrizes, por meio de eixos de atuação e indicadores de desempenho das cidades, para elaboração de uma política nacional customizada aos municípios brasileiros, e alinhada aos padrões internacionais de desenvolvimento definidos pelo Modelo de Maturidade para Cidades Inteligentes da União Internacional de Telecomunicações (ITU), agência das Nações Unidas para Tecnologias da Informação e Comunicação.

A pesquisadora Luísa Paseto, bolsista de pós-doutorado no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (ICMC-USP), é representante do Brasil no grupo técnico SG20/Q7, do ITU, e uma das responsáveis por adaptar esse modelo internacional para a plataforma digital inteli.gente do MCTI. O projeto de pós-doutorado, “Transformação digital sustentável frente aos desafios da oferta de serviços e aplicações inteligentes à população”, está alinhado à Rede Inteligência Artificial Recriando Ambientes, apoiada pelo Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID), da FAPESP.

Paseto está contribuindo com a construção e a análise dessa base de dados, e o primeiro passo foi estabelecer critérios, para diagnóstico e determinação do nível de maturidade de uma cidade, nas dimensões econômica, ambiental, sociocultural e capacidades institucionais. As quatro dimensões estão divididas em sete níveis de maturidade, medidos por um conjunto de indicadores e qualificadores-chave. A ideia é que todos os municípios acessem a plataforma, e façam parte dessa rede, preenchendo seus dados e respondendo fielmente aos itens da plataforma, reconhecendo problemas-chave para cada uma das áreas. Essa é a primeira etapa, para que possamos reconhecer trilhas de transformação. A iniciativa vai permitir criar e manter um banco de dados atualizado, que reflita a realidade dos municípios brasileiros, com os resultados disponíveis de forma detalhada para os gestores municipais, estaduais e federais, com recomendações de ações e políticas públicas. Os resultados do trabalho também chegarão à ITU, colaborando com a comparabilidade internacional das cidades e soluções de processo de estudo de concorrência para o desenvolvimento das cidades, melhorando a qualidade de vida da população.
 
 
O IESE Business School of University of Navarra elabora há quase 10 anos um Índice CIMI Índice de Cidades em Movimento (CIMI), abrangente e orientado, com critérios de relevância conceitual e utilidade prática. O índice de 2020 analisou 101 indicadores em 9 dimensões: capital humano, coesão social, economia, governança, meio ambiente, mobilidade e transporte, planejamento urbano, projeção internacional e tecnologia, refletindo objetivos e dados subjetivos, para oferecer uma visão abrangente de cada cidade. O IESE também introduziu uma Calculadora CIMI online – ferramenta útil, tanto para aquelas cidades que já estão refletidas no ranking, e que desejam ver as mudanças que ocorrem com variáveis mais atualizadas, quanto para aquelas que não estão no CIMI, mas gostariam de saber onde eles estão no ranking.

Uma das principais recomendações do IESE é reconhecer a colaboração como aspecto fundamental, porque detectou, ao longo dos levantamentos, que os desafios de hoje são grandes demais para serem enfrentados individualmente. Então, o melhor é trabalhar para quebrar os ‘silos’, e construir uma cultura de cooperação, em direção a uma estratégia inclusiva de recuperação social e econômica. Seu índice coloca as pessoas em primeiro lugar, e se dispõe a ser um trunfo para alcançar uma melhor governança, o que se traduzirá em maior bem-estar para os cidadãos.
 
 
Também se pode tirar muita informação no trabalho da Urban Systems – empresa especializada em análise de dados demográficos em mapas digitais, para dimensionamento e levantamento de tendências em mercados e cidades. Ela desenvolve cenários denominados de Lógica Urbana, que explicam a relação entre o comportamento das pessoas no espaço urbano, suas influências e as correlações com o mercado e com as instituições, dentro de um determinado espaço geográfico, denominado Cidade Mental. Neste quadro, a cidade se revela como um agente ativo nas decisões de consumo. A Urban Systems mantém um ranking que considera o Conceito de Conectividade como a relação entre os diversos setores analisados. O Ranking Connected Smart Cities é composto por 75 indicadores, em 11 eixos temáticos: Mobilidade, urbanismo, Meio Ambiente, Tecnologia e Inovação, Empreendedorismo, Educação, Saúde, Segurança, Energia, Governança e Economia.
 
 
A edição 2021 do Ranking Connected Smart Cities coletou dados e informações de todos os municípios brasileiros, com mais de 50 mil habitantes (segundo estimativa populacional do IBGE em 2019), totalizando 677 cidades, sendo: 48 com mais de 500 mil habitantes, 274 com 100 a 500 mil habitantes, e 349 com 50 a 100 mil habitantes. Para manter a transparência e a coerência das informações, os dados são coletados em fontes secundárias, que agrupem o universo de cidades pesquisadas, mantendo a mesma origem e o mesmo período de coleta dos dados de todos os municípios do estudo. É possível saber mais sobre as fontes e data das informações coletadas, na edição 2021 do Ranking Connected Smart Cities.

A importância de estudos e rankings se destaca, quando suas informações são bem utilizadas nos planos estratégicos, que mapeiam necessidades e traçam objetivos de curto, médio e longo prazos. Mais importante é entender que a transformação das cidades deve ser pensada em ciclos de desenvolvimento, e não políticos.

Soma-se a esses rankings, toda a tecnologia que está na base dessa transformação. E a visualização que essas tecnologias possibilitam: a construção de um gêmeo digital de uma cidade! Construir esse gêmeo é um grande desafio, porque existem infinitas variáveis, de pessoas a tráfego e clima, cada uma aumentando exponencialmente a complexidade do modelo. Mas os benefícios são enormes.

Os planejadores da cidade podem simular tudo com antecedência, permitindo-lhes ver como os novos edifícios ficariam, ou estimar o efeito que as obras rodoviárias terão no tráfego.

Os gêmeos digitais também podem ajudar a descobrir os prováveis efeitos de desastres naturais, como incêndios, inundações e terremotos. Usando essas informações, os planejadores podem tomar medidas preventivas agora e, esperançosamente, salvar vidas no futuro.

As dificuldades não impediram que algumas cidades tentassem. Singapura, por exemplo, investiu milhões, no Virtual Singapore, para criar uma plataforma digital 3D oficial, destinada ao uso pelos setores público, privado, pessoas e pesquisa. E está sendo seguida por cidades como Boston, Glasgow, Jaipur, Helsinque. Também existem projetos que querem começar, do zero, a cidade e seu gêmeo, como Amaravati (Índia), Neom (Arábia Saudita), Silk City (Kuwait), Madrid Norte (Espanha), Nagpur (Índia) e Aguaduna (Brasil).

Os gêmeos digitais contam com tecnologias principais, como a Realidade Virtual (VR), para que se possa olhar dentro da cidade virtual. E, mais que bonitos, esses gêmeos ajudam a entender quais regiões de uma cidade terão maior crescimento populacional, por exemplo, e assim criar novas instalações, como postos de saúde, escolas, parques, etc. Lembrando que tudo isso requer modelos matemáticos, que complementam o modelo virtual, para que não seja apenas uma representação visual: o que você vê é o que existe de fato.

Outro uso bem difundido é o planejamento da mobilidade urbana: onde devem ser criadas novas ruas? Quem é o pedestre? De onde ele vem? Onde as velocidades devem ser reduzidas? Quais prédios precisam ser movidos? Onde há mais conflitos urbanos? Quais são as áreas mais movimentadas?

E-Mobilidade

O Gartner define e-mobility eletromobilidade como o uso de tecnologias de powertrain elétrico, informações em veículos, e tecnologias de comunicação e infraestruturas conectadas, para permitir a propulsão elétrica de veículos e frotas. As tecnologias de powertrain incluem veículos totalmente elétricos, híbridos, veículos de célula de combustível de hidrogênio, que convertem hidrogênio em eletricidade... A eletromobilidade é vista como uma forma de reduzir emissões, e ajudar a alcançar as metas de zero carbono. Mas estratégias de implantação podem ser diferentes; já essa descarbonização deve levar em consideração a forma como a energia é gerada na região. O Brasil tem uma matriz energética com etanol – que gera redução de CO2 de cerca de 90%, se comparado à gasolina – energia solar, eólica e nuclear, além das tradicionais, a base de hidrocarbonetos. Some-se a isso, a iniciativa da Anfavea, em lançar a Mobilidade Sustentável de Baixo Carbono (MSBC), que busca ampliar o uso dos biocombustíveis, acelerar a descarbonização do transporte no Brasil, e tornar exportáveis as soluções locais de baixa emissão. O movimento une a Anfavea, a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), o Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), a Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), e a Sociedade de Engenharia Automotiva (SAE Brasil), além de acadêmicos e pesquisadores.
 
Mas a eletrificação do transporte vai demandar investimentos que precisam de suporte dos governos.

O Pró Veículo Verde, por exemplo, do Estado de São Paulo, objetiva trazer uma atualização ao ProVeículo, lançado em 2008, com foco no meio ambiente e na inovação, em um formato mais sustentável, com a implementação de projetos de veículos automotores menos poluentes. A iniciativa prevê, ainda, diminuir as emissões de gases de efeito estufa. Por meio do Verde, as empresas do setor automotivo poderão apropriar-se de créditos de ICMS, e utilizá-los para financiar projetos de investimento para construção e/ou modernização de suas plantas industriais, desenvolvimento de novos produtos, ou ampliação de negócios no Estado de São Paulo. Poderão aderir ao programa, as empresas do setor automotivo que tenham créditos acumulados de ICMS, apropriados ou ainda a apropriar, devem apresentar investimentos de, no mínimo, R$ 15 milhões. Para aderir ao Pró Veículo Verde, é preciso ter ao menos R$ 3 milhões de créditos de ICMS a receber, o que representa uma redução de 40% – antes eram, no mínimo, R$ 5 milhões. Já no ProVeículo tradicional, que continua em vigor, o montante do investimento é de, no mínimo, R$ 30 milhões. Além disso, o prazo de garantia (fiança bancária ou seguro de obrigações contratuais), exigido dos contribuintes que ainda não apropriaram seus créditos, mas querem aderir ao programa, passa, de 1 ano, para 3 anos, tornando o prazo mais flexível. E mais: a redução do valor da garantia, que era de no máximo 75%, agora poderá chegar a 90%.

Mas eletromobilidade não se restringe a carros de passeios. Incluem caminhões, aviões e ônibus.

A SPTrans, por exemplo, é responsável por um dos maiores sistemas de transporte por ônibus do mundo, o da cidade de São Paulo. Mesmo ainda sob efeito da Pandemia do Covid-19, o Sistema de Transporte por ônibus opera 24 horas por dia, transportando cerca de 2,6 milhões de pessoas em dias úteis, que geram 7,3 milhões de embarques, em uma frota operacional de 11.933 ônibus, e 160 mil viagens, em mais de 1.300 linhas, conectando 20,3 mil pontos de parada, e 31 terminais de transferência. Tecnologias como o Sistema de Bilhetagem Eletrônica e o Sistema de GPS embarcado nos ônibus produzem milhares de dados por minuto.
 
 
 
É mais que necessário pensar smart um sistema dessa magnitude. Por isso, a SPTrans trabalha no desenvolvimento de algoritmos de Machine Learning, que permitam, por exemplo, prever alteração do comportamento da demanda de passageiros, associando mudanças meteorológicas, eventos, etc. Além disso, essas novas tecnologias são promissoras, por permitirem construir conhecimento sobre as formas de circulação das pessoas na cidade, e apoiar o desenho e a implementação de políticas públicas mais eficazes, no aumento da acessibilidade urbana, redução das desigualdades e garantia do direito a um transporte público de qualidade na cidade de São Paulo.

Dentre essas informações, estão as estimativas da quantidade de passageiros por eixo da cidade, movimentação de passageiros e frota, embarques e desembarques por ponto, matrizes de origem e destino, taxa de ocupação de passageiros nos veículos, por trecho da linha, caracterização da demanda por idade, gênero, vulnerabilidade social e frequência de uso do Sistema. Essas informações são utilizadas por diversas áreas da SPTrans, tanto para monitorar o nível de serviço, frequência e as velocidades de vias e corredores de ônibus, quanto para subsidiar a tomada de decisão no planejamento da oferta, desenho dos itinerários das linhas e dimensionamento de abrigos dos pontos. Além disso, a SPTrans utiliza ferramentas de controle e monitoramento da frota para fazer a gestão em tempo real de todos os veículos da Cidade de São Paulo. Está em fase de contratação, um novo Sistema de Monitoramento e Gestão da Operação (SMGO), que tem como objetivo aumentar a eficiência na comunicação entre o órgão gestor e os operadores, utilizando diversos dados operacionais oriundos das tecnologias embarcadas. Este ano, a cidade de São Paulo começa uma grande adaptação, para melhorar o sistema de monitoramento, com um investimento de R$ 63,7 milhões para a aquisição de softwares, sistemas de inteligência, para aprimorar as tecnologias do sistema de controle dos 14 mil ônibus que circulam pela cidade.

A cidade de São Paulo, em parceria com o Governo do Reino Unido e o Banco Mundial, desenvolveu também uma série de projetos, com foco na mobilidade inteligente, o Smart Mobility Program, que contempla a implantação do conceito de Mobilidade como Serviço, MaaS, para disponibilizar opções de transporte, público e/ou privado, possibilitando que o usuário use o poder de escolha, tendo, como espinha dorsal da plataforma, o Transporte Público.
 
 
Tecnologias para cidades e veículos do futuro, hoje
A Toyota criou uma cidade para mostrar que uma cidade inteligente e a e-mobilidade podem dar certo... como está o projeto? Quanto esse projeto influencia outras ações da companhia, no mundo e no Brasil? A cidade da Toyota, batizada Woven City, ainda está sendo construída, como um laboratório vivo para futuras tecnologias e iniciativas sustentáveis e de mobilidade. O projeto fica localizado próximo ao monte Fuji, um dos principais cartões postais do Japão. O protótipo de cidade inteligente terá, como objetivo, que todas as pessoas, edifícios e veículos possam se comunicar uns com os outros, por meio de dados em tempo real, e sensores incorporados. Essa conectividade permitirá que a Toyota teste de que forma a tecnologia de IA funciona no mundo real, com riscos mínimos. E, a partir destes estudos, a montadora pretende pensar em soluções tecnológicas de mobilidade para o resto do mundo.
A Toyota acredita que a eletrificação começa pelos híbridos flex, e tem razões para isso. A primeira é que a infraestrutura está pronta, e não requer investimentos, e a segunda é que o etanol já é uma realidade, e gera emprego e renda para o país. Por isso, foi a primeira, e, até agora, a única montadora a oferecer essa tecnologia no mercado nacional, e a produzi-la no país. Um veículo híbrido flex é um dos mais limpos e eficientes do mundo, com um dos maiores potenciais de compensação e reabsorção de CO2 , se se levar em consideração todo o ciclo de produção do etanol, ou seja, o que chamamos do poço à roda. Para se ter uma ideia, um veículo híbrido flex, como o Corolla, é cerca de 70% mais eficiente do que um veículo convencional abastecido com gasolina. Importante citar que as vendas do Corolla sedã e Corolla Cross híbridos já somam mais de 40 mil unidades.

A Toyota acredita que as tecnologias autônomas e semiautônomas devem estar cada vez mais presentes na indústria. Porém, na sua visão, elas devem sempre ser um suporte, e auxiliar o motorista. A Toyota tem desenvolvido testes de tecnologia para carros autônomos, mas há muito a evoluir ainda. E acredita que o prazer de dirigir deve existir sempre, tendo sempre as tecnologias como um suporte ao motorista.

Com a intensa transformação do mercado automotivo, a Toyota se posiciona como provedora de soluções amplas em mobilidade, e tem a missão de oferecer aos seus clientes experiências memoráveis, em toda sua jornada de mobilidade, de forma segura, eficiente e sustentável.

A Toyota entende que os veículos elétricos à bateria desempenharão um papel importante na redução das emissões globais de CO2 . E continuará oferecendo uma linha completa de veículos elétricos numa plataforma global, neutros em carbono, prontos para atender às necessidades de cada região. Importante lembrar que, para cada região, a Toyota realiza um estudo, porque entende que mercados e culturas são diferentes, e quer se firmar como a maior provedora de soluções de mobilidade do mundo.

O futuro da mobilidade está acontecendo hoje, em diversas frentes. E a Toyota faz parte, desde 2015, do “Desafio Ambiental 2050”, que contempla seis objetivos para a empresa, em todo o mundo:
  1. Zerar a emissão de CO2 em novos veículos;
  2. Ciclo de vida com emissão zero de CO2 (da fabricação, passando pela comercialização e reciclagem de veículos);
  3. Emissão zero nas fábricas (energia limpa);
  4. Minimizar o uso de água nos processos industriais;
  5. Constituir uma sociedade baseada na reciclagem; 6 - Construir uma sociedade em harmonia com a natureza (investimento em projetos de incentivo, conscientização e influência e reforçar parcerias em prol da preservação).
Em junho, os ministros Adolfo Sachsida (Minas e Energia) e Joaquim Leite (Meio Ambiente), embaixadores estrangeiros e parlamentares conheceram as quatro rotas tecnológicas para a mobilidade de baixo carbono, do presente e do futuro, em evento promovido pela fabricante Toyota, em parceria com a UNICA – União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia.

Dos quatro veículos apresentados, o híbrido-flex é aposta da fabricante para o país, por aliar um motor a combustão interna, abastecido com etanol, a um motor elétrico, obtendo alta eficiência energética. Os outros três modelos foram trazidos do Japão como exemplos disponíveis: híbrido “plug-in” (PHEV); elétrico a bateria (BEV); e célula de hidrogênio (FCEV).

O único exemplar do Mirai no Brasil, movido a hidrogênio, saiu pela primeira vez da fábrica, em São Paulo, para ser apresentado no evento em Brasília. O modelo, fabricado no Brasil desde 2019, possui um sistema que se recarrega automaticamente com o funcionamento do veículo, não sendo necessária infraestrutura de recarga. O veículo pode ainda alcançar o dobro de quilômetros, com a mesma quantidade de combustível de um carro convencional.

O presidente da Toyota no Brasil, Rafael Chang, chamou a atenção para o fato de que a inovação não tem um impacto real, se não for prática ao mesmo tempo; se a tecnologia não for acessível à maioria das pessoas, não vai reduzir as emissões.
 
Volkswagen acelera e-mobilidade
Seguindo a estratégia Accelerate, a Volkswagen pretende, até 2030, aumentar sua participação no mercado para mais de 70% das entregas de carros totalmente elétricos na Europa. Nos Estados Unidos e China, a marca busca uma participação no mercado de veículos elétricos, no mesmo período, de mais de 50%. Para conseguir isso, o Grupo Volkswagen deve investir cerca de ¼ 73 bilhões em eletrificação, motores híbridos e tecnologia digital, ao longo dos próximos cinco anos. E devem ser lançados 130 modelos, sendo 70 elétricos e 60 híbridos, até 2030 no mundo.

Já em 2016, a Volkswagen iniciou sua transformação de longo alcance, e uma maior ofensiva elétrica da indústria, com a estratégia TRANSFORM 2025+. Com a nova estratégia ACCELERATE, a Volkswagen quer transformarse na marca mais atraente de mobilidade sustentável. E se vale de três impulsionadores para isso: valor da marca, plataformas escaláveis e empresa valiosa. Todos os caminhos da montadora conduzem à mobilidade sustentável, e prevê que essa transição para os elétricos, no Brasil, será mais demorada, pois, o país não vai conseguir se eletrificar todo num curto espaço de tempo. Até por isso, o carro híbrido é uma boa saída na transição, até que cheguem os carros elétricos de forma mais concreta.
A Volkswagem não tem dúvidas de que os consumidores vão adorar o conceito do carro autônomo. Os carros autônomos são o futuro, mas ainda vai demorar para chegar, porque precisamos ter uma infraestrutura na qual as coisas funcionem. Por exemplo, é preciso ter uma rodovia sem buracos, com linhas que estejam bem pintadas, porque há sensores que vão medindo o terreno, e dirigindo de forma autônoma.

A VW possui um Centro de Excelência para Células de Bateria – o que faz todo sentido, já que a empresa, a partir de seus novos modelos elétricos, constrói o carro em torno da bateria. Essa abordagem permitiu que se desenvolvessem veículos com autonomias de até 550 km. Os módulos de bateria costumavam ser distribuídos em vários lugares do carro, mas, agora, a bateria está localizada de forma compacta entre os eixos, na parte inferior da carroceria. Isso significa que existe um ponto central de distribuição de energia.

E a VW trabalha para que suas baterias durem tanto quanto seus carros, garantindo uma capacidade mínima de 70% por oito anos, ou 160.000 km – lembrando que os motoristas também influenciam na duração da vida útil de uma bateria.
O protagonismo do indivíduo
Aline Santos, uma engenheira do Espírito Santo, transformou um VW Fusca 1972, movido a gasolina, em um carro elétrico, com cerca de R$ 100 mil. O elétrico mais barato no Brasil não sai por menos de 64 mil. O Fusca de Aline tem baterias de 100Ah, e está incluindo uma nova bateria de 160Ah, para aumentar sua autonomia – o Fusca rodava apenas 50 km com as baterias de 100Ah. Aline conta que um dos pontos positivos do Fusca elétrico seria a versatilidade de carregamento, uma vez que o modelo pode ser recarregado em todo tipo de tomada.
 
  A Secretaria Municipal das Subprefeituras está investindo em tecnologia de ponta, para implementação de melhorias na prestação de serviços de zeladoria e gestão, das condições do pavimento da cidade. A inteligência artificial é uma das ferramentas que aumenta a eficiência dos processos, com diagnósticos de problemas (Sistema Gaia), e antecipação aos fatos, com a manutenção preditiva (Sistema Urano) – ambos melhoram diretamente a mobilidade urbana, colaborando para uma cidade mais inteligente.
 
 
O Sistema Gaia substitui o modelo anterior para inspeção das condições do asfalto: se antes isso era feito por um funcionário munido de caneta e prancheta para anotações, a partir de 2019, passou a ser realizado em tempo real, através de dispositivos acoplados aos veículos, capazes de verificar as condições do asfalto, e localizar possíveis irregularidades. Sensores são colocados no eixo dos veículos, e uma câmera instalada no retrovisor comunica as deformações para uma “caixa preta”, que fica embaixo do banco do motorista. A deformação do pavimento é imediatamente registrada numa central dentro da Secretaria das Subprefeituras da Capital. Uma outra frente do uso da inteligência artificial acontece nas principais vias de São Paulo. O monitoramento da condição da camada superficial das vias ocorre por meio de escaneamento da superfície do pavimento, realizado pelo PavScan – Pavement Scanner, que captura imagens do perfil transversal da camada superficial do revestimento asfáltico, permitindo a avaliação das imperfeições e desgastes.
 
Já a avaliação das condições estruturais é por meio do equipamento FWD – Falling Weight Deflectometer –, que permite a identificação da existência ou não das chamadas “bacias de deflexão” no pavimento. Quando constatadas, há necessidade de reparo profundo. Esse acompanhamento inédito permite que as vias recebam um recapeamento exclusivo, gerando um investimento mais eficaz, economia financeira e de material, e mais qualidade. E um outro programa de inteligência artificial, o Sistema Urano, usa a manutenção preditiva para tomada de decisões, com o intuito de prevenir situações, como alagamentos, transbordamentos, queda de árvores ou até mesmo deslizamentos. Ele funciona como módulo para gestão dos dados climáticos, através do uso de Inteligência Artificial para depuração dos dados, capturados em diversas bases climáticas, como CGE, IBM Weather, Clima Tempo, confrontando com os dados de serviços realizados no Sistema de Gerenciamento de Zeladoria (SGZ).
A grande Rio de Janeiro também já começou a colocar inteligência no dia-a-dia do Centro Sistêmico Operacional, que, através de novas tecnologias da Cittati, ganhou maior controle sobre chegadas e saídas de ônibus urbanos.
A Prefeitura de Piracicaba/SP revitalizou a Central Integrada de Monitoramento e Mobilidade (CIMM), que conta com 15 câmeras para monitoramento do trânsito e suporte às forças policiais. Com as câmeras, os agentes de trânsito que operam a Central podem também alterar planos semafóricos, e se comunicar quando houver qualquer incidente nas vias monitoradas. Basta, então, um rápido olhar sobre as diversas ações que buscam colocar inteligência no dia-a-dia de uma cidade, para perceber que a cidade é um todo, e ela precisa dessas incursões tecnológicas em todas as suas vertentes. Porque a eletrificação do transporte influencia na saúde, mas também no consumo de energia. A mesma energia que aciona a telemetria do saneamento ou o ar-condicionado do escritório e a iluminação pública – ou a da sua casa, da minha...
 
 
 
 
 
 
 
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