Revista Controle & Instrumentação – Edição nº 266 – 2021



¤ Cover Page
Jornada de Transformação
Digital do setor de papel e celulose
 

 
 
 
Se alguém ficasse apenas com a superfície de no- alguém ficasse apenas com a superfície de notícias que pregavam ícias que pregavam que a indústria de papel desa- ue a indústria de papel desapareceria, com a digitalização e a economia circu- areceria, com a digitalização e a economia circular, deveria pensar em rever essa ideia. ar, deveria pensar em rever essa ideia.

“Papel é cool novamente apel é cool novamente”, disse Cristiano Teixeira, , disse Cristiano Teixeira, presidente da Klabin, em um evento internacional do se- residente da Klabin, em um evento internacional do setor, ano passado. or, ano passado.

As projeções de crescimento dos últimos dois anos ti- s projeções de crescimento dos últimos dois anos tiveram de ser revistas a partir da Pandemia – que apontavam eram de ser revistas a partir da Pandemia – que apontavam forte queda em 2020, com todos os mercados amargan- orte queda em 2020, com todos os mercados amargando perdas significativas, com exceção da China. De fato, a o perdas significativas, com exceção da China. De fato, a Pandemia catalisou tendências globais, destacando a digi- andemia catalisou tendências globais, destacando a digitalização e o trabalho remoto na indústria. Some-se a isso, alização e o trabalho remoto na indústria. Some-se a isso, o ensino a distância e o comércio eletrônico avançando, e ensino a distância e o comércio eletrônico avançando, e pode-se imaginar o impacto no setor de papel e celulose. ode-se imaginar o impacto no setor de papel e celulose.

Ressalte-se que alguns ambientes organizacionais são essalte-se que alguns ambientes organizacionais são mais propícios à inovação – caso do setor de papel e celu- ais propícios à inovação – caso do setor de papel e celulose, que percebeu que soluções ecologicamente corretas ose, que percebeu que soluções ecologicamente corretas aumentavam a competitividade, e estimulavam as empresas umentavam a competitividade, e estimulavam as empresas a se transformarem. Nesse contexto, as tecnologias disrupti- se transformarem. Nesse contexto, as tecnologias disruptivas emergiram como instrumentos, para relacionar assuntos as emergiram como instrumentos, para relacionar assuntos do ambiente, tecnologia, RH e produção, permitindo que o ambiente, tecnologia, RH e produção, permitindo que o dia a dia seja programado, e funcione como propulsor de dia a dia seja programado, e funcione como propulsor de mais inovação. Para quem não vê a sustentabilidade do uso ais inovação. Para quem não vê a sustentabilidade do uso da tecnologia, vale lembrar que, ainda nos anos 1990, John a tecnologia, vale lembrar que, ainda nos anos 1990, John Elkington ampliou o conceito de sustentabilidade, criando lkington ampliou o conceito de sustentabilidade, criando o triple bottom line riple bottom line, com a integração do viés econômico, com a integração do viés econômico, social e ambiental – sua teoria defende que os aspectos eco- ocial e ambiental – sua teoria defende que os aspectos econômicos não são suficientes para a sustentabilidade global ômicos não são suficientes para a sustentabilidade global de uma organização, por isso é preciso alinhar os aspectos e uma organização, por isso é preciso alinhar os aspectos econômicos ao contexto social e ambiental.
 

 
Integração é palavra-chave: a Internet das Coisas ntegração é palavra-chave: a Internet das Coisas também não é resultante de apenas uma nova tecnolo- ambém não é resultante de apenas uma nova tecnologia, mas de várias, que se complementam. E se um dos ia, mas de várias, que se complementam. E se um dos maiores desafios da indústria de papel e celulose é garan- aiores desafios da indústria de papel e celulose é garantir o funcionamento ininterrupto de sua produção, é pela ir o funcionamento ininterrupto de sua produção, é pela integração de tecnologias – sensores, algoritmos, gêmeos ntegração de tecnologias – sensores, algoritmos, gêmeos digitais, e outras – que ela alcança esse objetivo. igitais, e outras – que ela alcança esse objetivo.

O setor já é altamente automatizado, tem, por cultu- setor já é altamente automatizado, tem, por cultura, aproveitar o máximo potencial das tecnologias e, por a, aproveitar o máximo potencial das tecnologias e, por isso, há algum tempo, tecnologias como Artificial Intelli- sso, há algum tempo, tecnologias como Artificial Intelligence, IIoT, Machine Learning e Digital Twin começaram ence, IIoT, Machine Learning e Digital Twin começaram a ser implantadas, tornando a extração, o processamento ser implantadas, tornando a extração, o processamento e a análise de dados, automatizados e precisos. As tecno- a análise de dados, automatizados e precisos. As tecnologias estão em toda a cadeia do negócio, desde o flores- ogias estão em toda a cadeia do negócio, desde o florestamento e captação da madeira, produção, logística etc.: amento e captação da madeira, produção, logística etc.: rastreiam o fluxo de material, em tempo real, da colhei- astreiam o fluxo de material, em tempo real, da colheitadeira para a fábrica, com otimização da entrega, análi- adeira para a fábrica, com otimização da entrega, análises avançadas, para melhorar todas as fases da produção es avançadas, para melhorar todas as fases da produção como o controle de kappa e aumento de rendimento da omo o controle de kappa e aumento de rendimento da fibra, sempre com otimização do uso de energia.
 

 
Segundo estudo da Mckinsey, as empresas que es- egundo estudo da Mckinsey, as empresas que estão maximizando seu retorno sobre o investimento digi- ão maximizando seu retorno sobre o investimento digital fazem bem três coisas: al fazem bem três coisas: capturam o valor e colocam apturam o valor e colocam capacitadores de tecnologia certos, nos lugares certos; apacitadores de tecnologia certos, nos lugares certos; criam novos recursos internamente, já que a riam novos recursos internamente, já que a transformação di- ransformação digital requer novas habilidades e novas maneiras de trabalhar; e ital requer novas habilidades e novas maneiras de trabalhar; e gerenciam as mudanças, afinal, mesmo a erenciam as mudanças, afinal, mesmo as melhores soluções elhores soluções não agregam valor, a menos que sejam bem adotadas. ão agregam valor, a menos que sejam bem adotadas.
 

 
1 - Marco Coghi – Presidente da ISA Campinas;
2 - Cassius Barros – Gerente de aplicações na Yokogawa;
3 - Gabriel Morgan da Silva – Gerente de serviços industriais – Valmet;
4 - Danuza Santana – Gerente de desenvolvimento de portifólio da América do Sul – Siemens;
5 - Ivan Medeiros – Gerente de vendas de soluções digitals e sistemas de automação – Voith Paper;
6 - João Pedro – Consultor Sênior de soluções para América Latina da divisão de APM - AspenTech;
7 - Paulo Henrique Cardoso Mendes – Consultor de Manutenção – Suzano;
8 - Raquel Goulart – Especialista na gerência de tecnologia de automação corporativa – Klabin;
9 - Flávio Mine – Diretor Setorial Papel e Celulose da ISA Campinas e Engenheiro de Manutenção na Cenibra
 
Uma solução efetiva pede conhecimento, bons parceiros e pessoal bem-preparado. “É preciso dominar os conceitos, e utilizá-los apropriadamente em cada segmento da indústria. Por isso, a Seção Campinas da ISA – International Society of Automation –, estabeleceu diretorias setoriais, reunindo os pares de cada segmento, para otimizar as discussões técnicas. Com essa visão, já organizou cinco seminários, para tratar de assuntos ligados ao estado da arte, inovações, transformação digital e outros itens da automação industrial setorizada. Setorizar dá melhor eficácia, na tratativa de assuntos de estudo de caso, problemas enfrentados, particularidades dos sistemas, e aplicações pelos profissionais envolvidos em cada setor – temos reunido mais de 500 participantes efetivos, em média, em cada seminário”, conta Marco Coghi – Presidente da ISA Campinas.

O Seminário de Automação na Indústria de Celulose e Papel deste ano, focado em apresentar cases do setor, e identificar os valores agregados, gerados com a adoção de tecnologias, teve Suzano e Klabin como âncoras, e tratou de assuntos, como monitoramento e gestão de ativos e de alarmes, ferramentas para construir uma operação 4.0, como está sendo a jornada da digitalização na indústria de papel e celulose, e cases reais.

“O debate sobre os Fatores Críticos de Sucesso para projetos de inovação, Indústria 4.0, Transformação Digital, avaliando os desafios de implementar, e sobre capacitação e preparação das pessoas, dentro desta nova revolução industrial, gera um compartilhamento de experiências, e uma colaboração extremamente relevante para o setor”, afirma Flávio Mine – Diretor Setorial Papel e Celulose da ISA Campinas, e Engenheiro de Manutenção, na Cenibra. Mine pontua que já era comum as empresas possuírem um Plano Diretor de Automação, para direcionar investimentos, e que, com os ganhos obtidos através do uso e mineração dos dados, surgem novas tecnologias, chamadas emergentes, que agora estão sendo consideradas em investimentos futuros; migrando de um Plano Diretor de Automação para Plano Diretor de Digitalização – que pode ser dividido em etapas, conforme modelo de maturidade da Acatech (figura).

Mas, por onde começar? Mine sugere a criação de um grupo de trabalho multidisciplinar, e a capacitação de profissionais que irão conduzir os projetos e iniciativas desta 4ª Revolução Industrial, e a digitalização de processos manuais de obtenção de dados, como o primeiro passo. Em seguida, a avaliação da maturidade das empresas, identificação de gaps, entre os objetivos estratégicos da empresa e situação atual, a convergência entre OT & IT e a elaboração de um RoadMap, que suportará toda a estratégia e planejamento para condução deste processo de Transformação Digital das empresas, conforme a metodologia sugerida pela Acatech (figura).

Alguns fornecedores de automação também oferecem soluções para os projetos de Digitalização e Indústria 4.0. Mas, agora, existem novos players: as startups entraram também nesse mercado – avaliado em US$ 348,83 bilhões, em 2019, projetado para atingir US$ 368,10 bilhões, em 2027, segundo a Fortune Business Insights.
 

 
As startups vieram para contribuir com a Inovação Aberta, e acelerar as iniciativas ligadas ao processo de Transformação Digital e Indústria 4.0. Estudo da AFRY Management Consulting, e da Pöyry no Brasil, apontava, em 2020, que a demanda por papel de imprimir e escrever, e o segmento de tissue, cresceram. E também que foi aquecido o mercado de embalagens, devido à maior demanda por produtos considerados essenciais, em especial em função da Pandemia. Com mudanças na demanda por produtos ambientalmente corretos, plantas energeticamente eficientes, e margens pressionadas, o setor já se ajustava antes da Pandemia e, além de otimizações pontuais, esperava o startup de três grandes projetos de celulose no Brasil: o da LD – Amadeus (MG), o da Bracell (SP), e o da Klabin (PR).
 
LD Celulose
 
A LD Celulose S.A. é uma joint venture, entre a austríaca Lenzing e a brasileira Dexco, implantando uma das maiores fábricas de celulose solúvel do mundo, no Triângulo Mineiro. Com investimento estimado de R$ 5,2 bilhões, a planta fica entre os municípios de Indianópolis e Araguari, e terá capacidade para produzir 500 mil toneladas de celulose solúvel, por ano. A celulose produzida aí será utilizada na indústria têxtil, gerando tecidos com inovação, sustentabilidade e alta tecnologia.

Iniciada em agosto de 2019, a obra segue em ritmo acelerado, para o início das operações no primeiro semestre de 2022. Pioneira na transformação digital na América Latina, executando os projetos e bases de dados dos sistemas de forma totalmente integrada, a planta está sendo totalmente construída com os mais modernos sistemas de engenharia de processo, engenharia esquemática e tridimensional, com a integração de todos os bancos de dados da planta, digitalizando todo seu ativo. Com investimento de US$ 1,3 bilhão, e pioneira no Brasil em projeto 100% em 3D, a planta está sendo totalmente construída com os mais modernos sistemas de engenharia de processo e tridimensional.

O objetivo é agregar inovação, em todo o processo de construção que atualmente forma a espinha dorsal da LD Celulose, com ferramentas de engenharia esquemática, modelos em 3D, e base de dados integrada, que abrangem o projeto, a construção, o start-up, a operação e a manutenção da fábrica.

Para a implantação do sistema, foram utilizadas ferramentas de domínio de todo o grupo e, posteriormente, criadas configurações de base de dados própria, a qual as empresas alimentam, com os seus projetos. Os sistemas buscam vantagens na segurança do processo, além da antecipação da avaliação da operação, por meio de modelos consistentes antes da construção física, então, quando entrar em operação, a fábrica terá reunido, em um só banco de dados, as informações dos mais de 70 mil documentos de engenharia, necessários ao longo de cerca de 50 meses, entre implantação e construção.

A modelagem em 3D catalogada cria o chamado “gêmeo digital”, uma representação virtual da fábrica, que permite antecipar ajustes, avaliar alternativas de construção e montagem, otimizar o planejamento como um todo, além de permitir colaboração global para otimizações nos processos, e produção usando tecnologias do mundo inteiro. A visualização em 3D, e toda a informação disponível em banco de dados, aumentam a eficácia da operação, possibilitando o rastreio de toda especificação necessária para a manutenção da fábrica.
 


 
E a atualização da base de dados do sistema é feita semanalmente, possibilitando a validação das informações fornecidas e, se necessário, realizar revisões com agilidade.

Quando estiver em operação, a planta terá capacidade de produzir 500 mil toneladas de celulose solúvel, por ano, que serão utilizadas para produção de roupas, produtos de higiene, beleza, entre outros. Além disso, o processo de produção gerará cerca de 144 MW de energia limpa, sendo que mais de 50% deste total será comercializado e distribuído na rede nacional de distribuição de energia.
 
Gustavo Dessotti Pinto, PMO & Intelligence System Coordinator da LD Celulose, conta que a empresa desenvolveu um Plano de Gerenciamento do Projeto Amadeus. “Este documento fornece, para o time de projeto, bem como outras partes interessadas, a organização, padronização e integração da metodologia de gestão de projetos e procedimentos operacionais aplicáveis, permitindo a melhoria e perpetuação dessa metodologia, nos investimentos atuais e futuros da LD Celulose S/A”, conta Gustavo.
 
Dentro do Plano de Gerenciamento do Amadeus, denominado PMP, há um capítulo detalhado e exclusivo, sobre a utilização de Ferramentas e Sistemas de Engenharia, em especial que fala sobre a solução escolhida para gestão integrada de engenharia do Projeto, para garantir total colaboração e transferência de dados atualizados e confiáveis, entre todas as disciplinas, ao longo de todo o ciclo de vida da planta. A LD Celulose utiliza o sistema de engenharia para indústrias de processo, contendo soluções CAE (Engenharia Assistida por Computador), CMMS (Sistema de Gerenciamento de Manutenção Computadorizado). Essa ferramenta (da Siemens) realiza ainda uma gestão integrada de projetos, desde o planejamento até a manutenção, permitindo a aplicação simultânea de engenharia, onde fluxogramas e dados de engenharia podem ser manuseados por vários engenheiros, técnicos e designers, ao mesmo tempo.
 

 
A solução de design integrado 3D (da Aveva) permite o desenvolvimento de modelos 3D para design detalhado, produzindo todos os resultados do projeto associados, dentro dos seus módulos específicos, com design 3D interativo, verificação de consistência, e listas de materiais; produção de desenhos em escala, a partir do modelo 3D; e produção de isométricos.

Gustavo conta ainda que o Projeto Amadeus é pioneiro na transformação digital na América Latina, executando os projetos e bases de dados dos sistemas, de forma totalmente integrada, em apenas uma base central.

Para o Projeto Amadeus, a LD Celulose desenvolveu um Padrão de Engenharia de Sistema Contratual, que deve ser seguido pelos parceiros. Esse projeto envolveu a definição das ferramentas; definição da configuração do projeto (referência de massa de dados), com simbologia do projeto, critérios de tag, templates; metodologia de compartilhamento de trabalho; atualização e sincronização de bases de dados semanalmente – monitoramento e gerenciamento; determinação de um nível de detalhamento compatível, entre todos os fornecedores e todas as ilhas de processo; quais padrões devem ser seguidos; ter os principais documentos para o ciclo de vida da planta, como PIDs, diagramas EIA padronizados; além de definir a Administração, treinamento e suporte aos usuários da LD e seus fornecedores, na implantação do projeto.

“Dessa forma, a fábrica terá reunido, em um só banco de dados, todas as informações dos mais de 70 mil documentos de engenharia. Toda a informação é consultada de forma digital, diretamente dentro das bases de dados do gestor eletrônico de documento (Greendocs), engenharia esquemática (Comos) detalhamento 3D (Aveva E3D). E em termos de Central de documentação, tanto a temporária para o projeto, quanto a permanente para operação, alguns resultados já podem ser contabilizados, como a redução da área e mobiliário do arquivo impresso em cerca de 90%, comparado com projetos similares; a redução de 80% da infraestrutura corporativa (recursos, impressoras, plotters, papel, toner), comparada aos padrões de mercado; redução de 50% dos custos com todo o processo de gestão de documentação, atuando com time mais enxuto, especializado e de alta performance”, conta Gustavo, que ressalta que a LD desenvolveu um o Plano de Gerenciamento do Projeto, para fornecer a organização, padronização e integração da metodologia de gestão de projetos, e dos procedimentos operacionais aplicáveis, permitindo a melhoria e perpetuação dessa metodologia nos investimentos atuais e futuros e, dentro do Plano de Gerenciamento (PMP), temos um capítulo detalhado sobre a utilização de Ferramentas e Sistemas de Engenharia, que permitiram a digitalização – como o Comos, que realiza uma gestão integrada, multidisciplinar está sendo aplicado em todas as fases do projeto; o Aveva E3D – solução de design integrado. “O Amadeus é pioneiro na transformação digital na América Latina, executando os projetos e bases de dados dos sistemas, de forma totalmente integrada, em apenas uma base central”.
 
Projeto Star – Bracell
 

 
O Projeto Star, a nova fábrica da Bracell, é um ambicioso esforço para expansão da capacidade atual de produção. Ele representa o maior investimento privado, no Estado de São Paulo, nos últimos 20 anos, e vem criando oportunidades de desenvolvimento econômico e social, não apenas em Lençóis Paulista e Macatuba, mas também nas proximidades de Agudos, Areiópolis, Borebi, Bauru, Pederneiras, São Manuel, Barra Bonita, Jaú e Igaraçu do Tietê, e em todo o Estado de São Paulo.

O startup viabilizou o ambicioso projeto de expansão da companhia em São Paulo, que irá diversificar e aumentar a produção da unidade para 1,5 milhão de toneladas de celulose solúvel, ou até 3 milhões de toneladas de celulose kraft, por ano. Com o início das operações, a empresa passa a ser a maior produtora de celulose solúvel do mundo.

A Bracell tem a maior caldeira de recuperação do mundo, e o primeiro gaseificador de biomassa em operação no setor de Papel e Celulose na América do Sul. Estes e outros investimentos, com foco em desenvolvimento sustentável e economia circular, refletem a preocupação da empresa com o clima, com a comunidade e com o país. A nova fábrica foi construída com duas linhas, que operam de forma flexível. Nos próximos dois anos, o planejamento da produção será realizado em etapas, com foco na estabilidade operacional dos dois produtos. Após este período, as linhas serão utilizadas para a produção de celulose solúvel ou celulose Kraft, de acordo com as demandas da companhia. E o projeto contará com o que existe de melhor, em termos de tecnologia para o setor, aliado à estrutura da Bracell, e mão-de-obra capacitada já existente na região.
 
“A Bracell possui um Plano Diretor, que foi desenvolvido pela equipe de Engenharia e Manutenção da companhia, para orientar os colaboradores, por meio de procedimentos e instruções de trabalho em atividades técnicas em campo. O documento define uma estratégia de trabalho, com norteadores que dividem as ações e responsabilidades em três etapas: a construção do Projeto Star, o período de startup e estabilização; e após a estabilização da fábrica. A Rede Industrial do Projeto Star foi projetada pelas áreas TI e TO, com os princípios da Indústria 4.0, totalmente integrada, e com suporte para obtenção de informações gerenciais, para subsidiar a tomada de decisão. Para otimizar o processo, criou-se o Business Partner, uma posição que envolve as duas áreas técnicas, para integrar e acelerar iniciativas inovadoras, ligadas a temas como Cybersegurança”, conta Ciro Cesar Nascimento Tasso, gerente de TI da Bracell, que destaca que as equipes de Automação e de Engenharia de Manutenção por lá fazem parte da Coordenação de Confiabilidade, e os trabalhos realizados pelos times contemplam digitalização, desenhos e ações descritas.

 
“Nas fases de finalização do Projeto Star, startup e estabilização da fábrica, o foco da automação está em garantir as instalações e funcionalidades, ou seja, garantir que o que foi adquirido pelo projeto funcione e gere valor. Existem ainda as etapas de utilização das ferramentas, e o mapeamento de softwares e sistemas, que possam integrar as tecnologias,” esclarece Ciro. E nem poderia ser diferente, já que a Bracell é sócia-fundadora do grupo C4IR, centro afiliado do Fórum Econômico Mundial, focado na Indústria 4.0, cujo objetivo é discutir e implementar tecnologias emergentes e disruptivas, a fim de aumentar a produtividade, a competitividade e o desenvolvimento social. Esses temas são debatidos no grupo, e geram potenciais melhorias, a serem implementadas na Bracell – que tem o cuidado de manter treinados, com as tecnologias implementadas, todos os públicos envolvidos, das áreas de tecnologia, operação e manutenção, passam por treinamentos; isso faz parte do plano de implementação da empresa. Da mesma forma, a Bracell escolhe parceiros que estejam alinhados aos seus objetivos, ligados às soluções digitais e de Indústria 4.0; seus fornecedores precisam ser aderentes à estratégia de longo prazo, e oferecer soluções que se comuniquem com os sistemas existentes, além de atender aos requisitos de disponibilidade de equipamento, de confiabilidade e de previsibilidade de falha.

Ciro conta ainda que os conceitos de economia circular e produção sustentável estão presentes em todos os processos da Bracell, desde a geração da própria energia limpa, até o reaproveitamento de resíduos. “O plano de expansão da Bracell é 100% focado em redução de impactos ambientais, preservação do meio ambiente e sustentabilidade. Somos pioneiros na construção de uma fábrica de celulose de nova geração, que fornecerá produtos flexíveis e biodegradáveis, usando a mais avançada tecnologia. Com o início das operações da nova fábrica, o Projeto Star, a Bracell será capaz de diversificar e aumentar a produção, para 1,5 milhão de toneladas de celulose solúvel, ou até 3 milhões de toneladas de celulose kraft, por ano”.

Outro foco da Bracell é a geração e distribuição de energia elétrica limpa para as operações da planta, então, investiu em equipamentos de última geração e alta tecnologia nos seus ciclos de processos, e até construiu uma nova subestação de 440kV, conectada à rede de transmissão com tecnologia GIS (Gás Insuflado), com capacidade instalada de 420 MW, movidos por três turbogeradores, que são suficientes para atender a demanda da fábrica, e permitir a exportação para a rede SIN – Sistema Interligado Nacional –, de cerca de 150 MW a 180 MW excedentes de energia de fontes renováveis, sem emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), capazes de atender 750.000 residências, ou cerca de três milhões de pessoas.
 
Puma – Klabin
 
A Klabin – maior exportadora de papel do Brasil, com 23 fábricas aqui no país e uma na Argentina – está numa jornada de transformação digital, porque algumas iniciativas já foram implementadas, outras em estudo e desenvolvimento. Com um investimento de R$ 8,5 bilhões, a Klabin colocou em operação o Projeto Puma, em 2016, que já nasceu na Indústria 4.0. Com outros R$ 9,1 bilhões de investimentos, a empresa elaborou o Projeto Puma II, que deu partida na primeira máquina de papel (MP27) do projeto, que tem capacidade de 450 mil toneladas de Eukaliner, primeiro papel kraftliner do mundo, feito 100% com fibras de eucalipto.
 

 
A visão da equipe da Klabin é de que a Indústria 4.0 é a indústria inteligente, apoiando os processos industriais e buscando trabalhar de forma disruptiva, em colaboração com todos os envolvidos – colaboradores, clientes e fornecedores.
 

 
A integração e a convergência, das novas tecnologias habilitadoras com os processos, formam o conceito-chave da Indústria 4.0, sem esquecer que as pessoas são a base de tudo.

Para facilitar o andamento dos projetos de digitalização, a Klabin criou Comitês de Transformação Digital, formados por colaboradores de diversas áreas, para garantir a governança das demandas de tecnologia.

O Plano Diretor da Klabin começou em 2018, e busca avançar seu nível de maturidade. Nesse caminho, já tem controle, desde a parte florestal até a logística. Mais novidades devem aparecer em breve, até porque a Klabin está para lançar sua própria nuvem – hoje trabalha com a Amazon.
 
Veracel - Suzano
 

 
Com projetos de inovação ligados ao aumento de eficiência, somente nos últimos dois anos, a Veracel implementou diversas iniciativas no conceito de Indústria 4.0, porque acredita que a transformação digital e a ampliação de conectividade trazem enormes benefícios, tanto do ponto de vista de eficiência e redução de custos, quanto da gestão da informação.

A empresa tem trabalhado a transformação digital, através da sinergia entre TI e o time Industrial. E, entre as iniciativas, está a implementação do wifi industrial (que possui mecanismos de segurança de dados específicos para esta finalidade) em todo o chão-de–fábrica, o que vai permitir a utilização de celulares com reconhecimento térmico, em todo processo de inspeção operacional da companhia. Esses celulares poderão alimentar o histórico de desempenho de cada equipamento, reportando dados de forma contínua para as nossas avaliações.

Outro projeto – em andamento – é a implementação de sensores de monitoramento dos ativos industriais, para a verificação online da condição dos equipamentos, sem a necessidade de que um operador conecte cabos de leitura para realizar a análise das informações da máquina.

A Veracel trabalha agora na renovação da sala de confiabilidade 4.0, que vai centralizar todos os dados monitorados de toda planta, com visibilidade de informações de monitoramento em tempo real, transformando dados em informação, e abastecendo de forma contínua os gestores responsáveis.

A empresa passou a utilizar inteligência artificial, alinhada ao conceito de manutenção, para prever problemas e necessidades do maquinário da fábrica: o projeto está em execução desde agosto de 2020, e foi possível, através de dados históricos, predizer falhas de equipamentos, com até 6 semanas de antecedência. Mas nenhum setor vive apenas de grandes projetos. As pequenas melhorias e implantação de tecnologias de maneira pontual são constantes no setor.
 
Gaia III – Irani
 

 
A catarinense Irani Papel e Embalagens tem buscado a melhoria de seus ativos, tanto que pretende investir R$ 1,2 bilhão, até 2025 – concentrando-se em 2023 –, como preparação para um ciclo de crescimento. A empresa deve instalar uma nova unidade de papelão ondulado em Minas Gerais, vai repotencializar pequenas centrais hidrelétricas, para garantir autossuficiência energética, e continuar tocando o projeto Gaia III, atualização tecnológica da máquina #2 da Unidade Papel de Vargem Bonita/SC – um investimento de R$ 57.612,00 que está finalizando a engenharia básica, e deve startar no final de 2022.

A iniciativa mais recente da Irani – em parceria com a Nanox Tecnologia – foi o desenvolvimento de uma embalagem de papel que é antiviral, antibacteriana e antifúngica. A empresa diz estar pronta para oferecer o produto aos clientes, e vê maior potencial de adesão entre os frigoríficos, as indústrias alimentícias, além dos segmentos de e-commerce e delivery.
 
Cenibra
 

 
A Cenibra – Celulose Nipo-Brasileira S.A –, que está celebrando 48 anos neste setembro, vive em constante busca do ponto ótimo de todo o seu negócio.

Fundada em 1973, a Empresa pertence ao Japan Brazil Paper and Pulp Resources Development – JBP –, um grupo de empresas japonesas, tendo a Oji Holdings como principal acionista. Localizada no município de Belo Oriente, região leste do Estado de Minas Gerais, a Empresa tem capacidade de produção de 1.200.000 toneladas de celulose branqueada de fibra curta de eucalipto. Possui cerca de 8 mil empregados próprios e terceiros.

A celulose da Cenibra está presente em mercados como Ásia (54%), Europa (32%), América do Norte (12%) e mercado interno (2%). O produto é utilizado na fabricação de papéis para fins sanitários, papéis especiais, para imprimir e escrever, papel cartão e embalagens.

A unidade industrial é abastecida com madeira de áreas próprias, arrendadas e madeira adquirida de pequenos produtores, por meio do Programa Fomento Florestal – programa que está presente em 80 municípios mineiros, e que representou 16% da madeira consumida na indústria, em 2020.

Apoiada nas melhores práticas e tecnologias, a Cenibra realiza uma série de iniciativas, que contribuem para o desenvolvimento de seu negócio de maneira sustentável – possui programas de monitoramento de água, solo, fauna e flora, desenvolvidos em parceria com universidades e organizações não-governamentais, e alinhados a padrões rigorosos de certificações ambientais. Tanto que, em 2021, a Cenibra foi a grande vencedora, na categoria “Melhor Empresa” do Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza, considerado o Oscar da ecologia brasileira, por ser a maior premiação do país na área ambiental.

Os níveis crescentes de eficiência alcançados pela Cenibra são fruto da capacitação constante, e da alta qualidade de seus empregados. A Empresa desenvolve programas, que oferecem oportunidades de crescimento, e promovem o gerenciamento de talentos, para assumir posições gerenciais e estratégicas. Essas iniciativas visam a aumentar o nível de engajamento das equipes, por meio da ampliação do autoconhecimento dos líderes, bem como o desenvolvimento de comportamentos mais eficazes para liderar.

Ao longo dos anos, foi naturalmente sendo modernizada, e atingiu um estágio de plenitude das novas tecnologias, a automação de processos seguiu um planejamento, com vistas à modernização do seu parque tecnológico. Com a chegada exponencial das novas tecnologias – o conjunto trazido pelos conceitos da Indústria 4.0 – houve a necessidade de maior integração entre a TA/TO e TI, juntos, foi possível replanejar o processo de modernização, e agregar a ele a transformação de forma mais ampla, em que estas três áreas focam na sustentabilidade da empresa, associada fortemente ao conceito EGS (Ambiental, Social e Governança). A capacitação de funcionários com as novas tecnologias é essencial neste processo transformacional, em que o desafio de conhecer as novas tecnologias, e aplicá-las de forma a gerarem resultados para o negócio, é minimizado, quando há um conhecimento técnico consolidado.

Distinguir o que é onda tecnológica e o que é um gerador de valor para o negócio não é tarefa simples, sempre requer maturidade e decisões consensadas. Um projeto inovador deve ter o envolvimento das áreas de tecnologia, e também operacionais, juntos, aumentam a possibilidade de sucesso.
 
“A Cenibra tem um planejamento para os próximos anos, e um time muito qualificado, que discute frequentemente os próximos passos tecnológicos do negócio, a fim de mantê-lo sustentável. E é válido lembrar que nem todas as tentativas são exitosas, entretanto, a corporação deve possuir uma boa resiliência às falhas, caso contrário, o processo inovador fica comprometido”, ressalta Ronaldo Ribeiro, gerente do DETIN – departamento de TI e Telecom da Cenibra.
 
A Cenibra tem aplicado com sucesso tecnologias como Machine Learning, Drones, Edge Computing, Cloud, Realidade Virtual e Aumentada, Internet das coisas e outras, é uma jornada de longo prazo, temos um planejamento estratégico de tecnologias, alinhado com a estratégia do negócio. Muitas iniciativas estão em curso, com Provas de Conceito – testes de curta duração e de baixo custo – e, caso sejam bem-sucedidas, são ampliadas para outras unidades de negócio.

Sabendo que as pessoas são a base de todos os processos, a Cenibra iniciou recentemente um programa de pós-graduação, com foco em conceitos de Big Data e Ciência de Dados, para mais de 30 funcionários, e há uma expectativa grande para este grupo, pelo uso de Inteligência Artificial nas atividades do dia-a–dia, com a melhoria dos processos e consequente melhoria nos resultados.
 
“Mensurar os ganhos em se implantar uma nova tecnologia nem sempre é tarefa fácil; em alguns casos, dependendo do tipo de projeto, é possível calcular os retornos de forma mensurável, mas, em outros, somente conseguimos ver os benefícios quando a ferramenta implantada tem uma paralisação, por exemplo, para uma atualização tecnológica, e os usuários não mais conseguem conviver sem ela. Também é possível observar que tecnologias implantadas no passado possibilitaram uma operação mais tranquila de algumas unidades, durante a Pandemia. É sábio avaliar o valor que as novas tecnologias estão trazendo para os negócios, não somente o quanto em retorno financeiro. Estamos em um momento em que temos de repensar no ambiental, no social e na governança, tudo isto gera mais valor ao negócio, do que rendimentos financeiros, somente”, pontua Ronaldo, que vê o setor entrando em uma nova onda, onde os cuidados com o ser humano trazem um novo modelo de gestão, que inclui as comunidades nas quais as empresas estão inseridas, com projetos maravilhosos, que promovem verdadeiramente o aumento da dignidade dos seres humanos. Para consolidar esta nova era, as empresas têm investido em um modelo de governança focada em compliance e gestão de riscos, em que a verdade e a ética reforçam a sustentabilidade dos negócios.

“Na Cenibra, não tem sido diferente, estamos fortemente inseridos nos conceitos ESG, com ações concretas para preservação ambiental, de forma sustentável, muitos investimentos nas comunidades em que a empresa está inserida, e também nas relações com as pessoas, e uma onda forte de governança, trazendo como contribuição a cultura japonesa que nos é repassada, desde a fundação da empresa,” conta Ronaldo.
 
Economia circular
 
O Setor de Celulose e Papel é altamente dependente do meio ambiente, então, para sua sustentabilidade, ele sempre foi muito cuidadoso, e os conceitos trazidos pelo ESG chegam em um momento que fortalece este cuidado, que o setor já possuía. Muitas iniciativas são percebidas para preservação ambiental, como exemplo, os cuidados com solo, água, redução de emissões atmosféricas, dentre outras iniciativas.

A celulose solúvel é uma matéria-prima extremamente rica para a indústria. Sobre o uso da celulose como matéria-prima, vale ressaltar que ela é aplicada na produção de diversos bens de consumo e produtos para a indústria, como embalagens, papeis de impressão, de uso médicohospitalar, sanitários e autoadesivos. Nestes casos, são valorizadas as propriedades físicas das fibras, como resistência, comprimento e capacidade de absorção de água. Entretanto, outras características do insumo, como o grau de pureza, têm se tornado um coringa para a indústria, que está constantemente buscando reduzir seus impactos ambientais, e se tornar mais sustentável. Na indústria têxtil, por exemplo, a utilização da celulose empregada na fabricação de tecidos, principalmente da viscose, é produzida através da purificação química da madeira, atingindo pureza semelhante à do algodão, e viabilizando a produção de tecidos confortáveis, respiráveis e versáteis.
 

 
 
 
 
 
 
 
 
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