Revista Controle & Instrumentação – Edição nº 262 – 2021



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Balanço e perspectivas positivos, mas os desafi os continuam
 

 
 
 
E stamos todos – indivíduos, corporações, governos – avaliando os estragos – pessoais, sociais, ambientais e econômicos – causados, em 2020, pelas diversas restrições impostas para controlar o Covid-19. Uma ruptura econômica global de cerca de US$ 16 trilhões, em que todas as economias tiveram queda – mesmo a chinesa, que ainda apresentou crescimento econômico positivo de 2,3%. Outras economias não escaparam do negativo: EUA teve contração do PIB de -3,5%; Alemanha, -5,0%; -8,3%, na França; -8,8%, na Itália; -11,0%, na Espanha; -3,1%, na Rússia; -7,7%, na Índia; cerca de -4,0%, no Brasil.

A China foi uma exceção, porque conseguiu controlar a propagação do vírus no início, quando sua economia estava crescendo 6,5%. E embora pareça pouco, a retomada chinesa tem ajudado a suportar a fabricação e o comércio globais.

Mesmo depois de um ano difícil, o começo de 2021 trazia ainda desdobramentos da falta de controle do Covid-19 e, no Brasil, em janeiro, a Ford fechou sua produção local de veículos, prometendo se tornar um importador. E foi seguida pela 3M, a Sony, a Mitutoyo, a LG celulares, a Mercedes-Benz – que também encerrou produção de modelos de luxo e de Iracemápolis/MG – e pela Audi, do grupo Volkswagen, que, apesar de não sair do país, suspendeu a produção de modelos em São José dos Pinhais e Taubaté. De fato, um estudo da CNC – Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, 5,5 mil fábricas encerraram suas atividades em 2020; antes da Covid-19, o Brasil já vinha sofrendo com a desindustrialização, pois, entre 2015 e 2020, foram extintas 36,6 mil fábricas.

Dados da Abinee – Associação Brasileira da Indústria Eletroeletrônica – mostram que o faturamento do setor cresceu 1%, em 2020, ante 2019, para R$ 173,4 bilhões, já descontada a inflação do setor; a produção de bens e serviços eletroeletrônicos, em 2020, teve queda de 2% na comparação anual, enquanto as importações cresceram até dois dígitos, em GTD.

O setor eletroeletrônico foi um dos primeiros a sentir os efeitos da Pandemia, quando o problema ainda estava concentrado na China, em função da necessidade de importação de componentes eletroeletrônicos vindos daquele país. As empresas tiveram de se adaptar a essa realidade, em um primeiro momento, e depois, com a chegada do vírus no país, que ocasionou a paralisação do comércio, tivemos de adequar a produção em função das medidas de isolamento. Porém, esse cenário também reforçou a importância da indústria elétrica e eletrônica, no desenvolvimento de soluções tecnológicas que contribuíram em muito para outros segmentos continuarem sua atividade, desde a medicina, teletrabalho e ensino a distância.

A Pandemia instalou uma coleção de interrupções em diversas cadeias de suprimentos e logísticas. Mais de um ano atrás, sabíamos que estávamos enfrentando convulsões na saúde, educação, e sistemas de trabalho. Ramificações, como a escassez de semicondutores, e seus impactos, era mais difícil de prever. A McKinsey examinou uma série de consequências inesperadas, e procurou maneiras de abordá-las. Especificamente, a escassez global de semicondutores ameaça recuperações econômicas, e representa um problema urgente para muitos setores que já anunciaram diminuição ou parada da produção como resultado. Especialistas da McKinsey pontuam que se devem considerar estratégias significativas, para impedir que esse cenário se repita.

Mesmo assim, os principais indicadores do setor eletroeletrônico encerraram o ano de 2020 próximos da estabilidade: em meados de março, a Pandemia chegou ao Brasil, causando impactos expressivos na atividade do setor, principalmente nos meses de abril e maio; a partir de junho, os principais indicadores da indústria eletroeletrônica começaram a sinalizar o início da recuperação da atividade, registrando resultados mais favoráveis, nos 3º e 4º trimestres do ano. Com isso, o faturamento atingiu R$ 173,2 bilhões no ano de 2020, apontando crescimento nominal de 13%, em relação ao realizado em 2019 (R$ 153,0 bilhões). Em termos reais, ou seja, descontando a inflação do setor, verificou-se queda de 1%, visto que o IPP – Índice de Preços ao Produtor do IBGE do setor eletroeletrônico – ficou em 14%, no ano. Essa retração modesta de 1% contou com a retomada da atividade iniciada a partir do 3º trimestre deste ano. Vale lembrar que, no final do 1º semestre de 2020, o faturamento do setor caiu 7%, em comparação com o mesmo período do ano anterior. A produção de bens do setor, em 2020, recuou 2,2%, em relação a 2019, com queda de 2,6% na área elétrica, e redução de 1,7% na eletrônica. Essa retração também foi menos expressiva do que a registrada no final do 1º semestre, que apontava recuo de 6%, no acumulado dos últimos 12 meses. Por sua vez, o número de empregados no setor aumentou, de 234,5 mil, em 2019, para 248,1 mil, no final de 2020, representando elevação de 6%, ou seja, incremento de 13,7 mil postos de trabalho. A Abinee destaca os produtos ligados à área de informática, notadamente os notebooks, que registraram expressivo crescimento, decorrente do home office e do ensino a distância: conforme os dados do IDC, o mercado de notebooks aumentou 22%, em 2020, comparado a 2019, atingindo 5 milhões de unidades.
 
 
“Além dos equipamentos de informática, também tiveram grande demanda, a partir da Pandemia, produtos e soluções de automação, pois, há uma percepção de que a automação, além de eficiência, confere sustentabilidade aos negócios. Todos esses aspectos colocaram a automação na agenda de executivos de todos os portes. Na área farmacêutica, também houve procura por soluções de modernização, que terão impactos nos próximos anos, o mesmo ocorreu na automação predial, elétrica e industrial. A utilização de soluções foi potencializada de forma geral. Pode-se dizer que avançamos cerca de cinco ou dez anos, em processos de automação, durante 2020”, conta Humberto Barbato, presidente da Abinee, ressaltando que, apesar da cautela devida, as perspectivas continuam favoráveis. “Os empresários do setor esperam que a retomada da atividade permaneça, nos próximos meses. As empresas do setor eletroeletrônico permanecem atentas às ações de controle do coronavírus, à vacinação em massa, e às medidas do governo, para minimizar os efeitos da Pandemia. As expectativas para 2021 estão otimistas, com 82% das entrevistadas projetando crescimento, em comparação a 2020. Esse foi o maior percentual apontando na sondagem, em setembro do ano passado. Ainda para 2021, 17% esperam estabilidade, e apenas 1% está prevendo queda. Neste último caso, também, esse foi o menor percentual, desde setembro de 2020”.
 
 

Constantino Seixas, diretor-executivo de Industry X, da Accenture, no Brasil, pontua que, pela primeira vez, houve uma perturbação comum ao ambiente de negócios, em todo o mundo, e as reações foram similares, no sentido de que a Covid se mostrou como um grande acelerador, em direção à modernização e ao conceito de future of the work. Os projetos de robótica também foram priorizados, já que robôs não ficam doentes. Constantino acredita que os projetos de automação não sofreram descontinuidade, pelo contrário, todas as indústrias buscaram modernizar os sistemas de produção. Com o fim da Covid, muitos projetos represados, por necessitar de mais gente no campo, vão ser iniciados. Já se prevê uma falta de mão-deobra qualificada.

 
A indústria de uma maneira geral ainda sofre muito com processo de IT e OT não integrados, excesso de informações manuais, isto é, que precisam ser digitadas nos diversos sistemas, e da falta de integração horizontal das ilhas de produção. Também existe pouca exploração dos dados acumulados, ao longo de anos, pelos historiadores. E a tecnologia deu um grande salto. A computação em nuvem resolveu o problema de necessidade de fazer um upgrade de infraestrutura a cada novo projeto, ou iniciativa, tendo de buscar investimentos CAPEX que, às vezes, só aconteciam uma vez ao ano. Tudo isso emperrava o desenvolvimento. Com a nuvem, se pode crescer gradativamente, e pagar apenas pelo uso da infraestrutura. Isso economiza muito em pessoal, suporte e segurança de dados, e agiliza a implantação de projetos. O número de projetos de adequação de arquitetura para nuvem aumentou muito.

A outra área em que houve um grande salto foi data analytics, nas suas diversas modalidades. Isso inclui, tanto as atividades de modelagem preditiva, no estilo digital twin, em que temos que prever a produção, a qualidade ou falhas em equipamentos (predictive maintenance), como os modelos para diagnóstico, que servem para analisarmos a causa raiz de um problema. Data analytics é parte fundamental do que chamamos de smart operations, a fase em que a operação deixa de depender de decisões pessoais de um operador ou chefe de turno, mas toma decisões otimizadas decididas pelo digital twin de toda a cadeia de produção. Hoje, conseguimos simular toda a cadeia de produção, e usamos otimizadores para o planejamento integrado de produção.

Para atuar nesse novo mundo digital, será preciso realizar o upskilling das pessoas: elas terão de ser alfabetizadas nesse novo universo – não substituídas. O conhecimento técnico que os operadores de processo acumularam é precioso, e leva muito tempo para treinar novas pessoas, até que elas compreendam como os processos funcionam. Por outro lado, essas pessoas precisam aprender a trabalhar de forma integrada, buscando maximizar o ganho final, e não o apenas resultado de uma etapa do processo. Eles precisam ter uma compreensão mais holística de cadeia de produção, e também saber usar as ferramentas digitais para simular situações desafiadoras do seu dia-a-dia, e tomar decisões otimizadas. Em qualquer atividade humana, até para um jogador de xadrez, em que o talento pesa tanto, pode-se fazer melhor, quando trabalhamos assistidos por sistemas inteligentes.

“A Covid-19 impôs muitas restrições ao trabalho presencial, mas fizemos isso com a eficiência de quem lança mão de experiência e tecnologia, no trabalho remoto. Para alguns clientes, contudo, a nova maneira de se trabalhar exigiu mais de seus recursos, como um todo. Nossos clientes perceberam que estar dentro da fábrica não era uma condição necessária para muitos dos trabalhadores. Hoje, podemos produzir muito bem, a partir de nosso escritório em casa. Ficou patente também que nem todo mundo dispõe de um espaço tranquilo para trabalhar no seu ambiente doméstico, e que precisamos de uma infraestrutura de rede de qualidade com todas as proteções de segurança, como temos no ambiente corporativo. Em 2020, as empresas se preocuparam em se organizar e definir um roadmap de transformação digital, antes de saírem fazendo PoCs que, depois, não convergiam para nada. Fizemos muitos planos estratégicos para diversos tipos de indústria. Os projetos de iROC – Integrated Remote Operations Centers – também se multiplicaram, para propiciar, aos operadores, trabalharem de forma remota e integrada, a partir de grandes centros urbanos. Isso elimina os riscos do ambiente industrial, e melhora a qualidade de vida dos operadores, além de ser um projeto inclusivo. O ambiente industrial implica em limitações para o trabalho das mulheres, que, muitas vezes, abrem mão da posição, porque não querem ter de ficar quatro ou cinco dias numa mina ou planta de tratamento de minério, longe da família. O iROC propicia poder voltar para casa todos os dias. Também nos possibilitou ter trabalhadores em cadeira de rodas, ou outras limitações, que dificultam grandes deslocamentos frequentes. O iROC traz um grande ganho de produtividade e redução de custos, e é um projeto âncora do plano de transformação digital”, conta o diretor da Accenture.

Todo o setor ligado a turismo, hospitalidade, cruzeiros, bares e restaurantes, comércio convencional e mobilidade sofreu muito – viaja-se menos de avião, ônibus e trens. E o setor de construção civil está assistindo a um boom, porque agora os filhos precisam de um ambiente para suas aulas remotas, e os pais constroem seus escritórios em casa: o apartamento ficou pequeno. Muita gente está mudando para apartamentos maiores, ou para casas, em busca de espaço e lazer. Trabalhar em São Paulo, ou a 100km da capital, faz pouca diferença. A SPGlobal Platts fez um levantamento sobre como a Pandemia está tendo efeitos duradouros em sete setores corporativos latino-americanos.
 
 
Segundo a SPGlobal, a demanda de petróleo e gás se recuperou mais rapidamente, no Brasil e na Argentina – que atingiram níveis quase pré-pandêmicos no primeiro trimestre de 2021 (gráfico4) –, mas ainda é lenta, na Colômbia e no México. A produção de automóveis também está abaixo dos níveis pré-Pandemia, no México e Brasil, principais mercados latino-americanos: no México, os níveis de produção caíram 18% e, no Brasil, foi 14% menor (gráfico 5).
 
O diretor da Accenture lembra que 2020 também foi o ano em que os aspectos de ESG – Environment, Society and Governance – tiveram um peso muito grande. Para algumas indústrias, como mineração, eu diria que foi um renascimento, uma compreensão de que os aspectos de sintonia com as comunidades e a busca de fontes de energia renováveis não eram apenas importantes, mas uma parte essencial do negócio, por meio da qual os investidores estavam avaliando os empreendimentos.
 
 
O Ibram – Instituto Brasileiro de Mineração – divulgou que o setor de mineração registrou alta de 95% no faturamento, em relação ao primeiro trimestre de 2020, com a produção tendo aumento de 15%, na comparação com o mesmo período de 2020.
 
 
Wilson Brumer, presidente do Conselho Diretor do Ibram, apontou três fatores para explicar o bom desempenho do setor, mesmo em meio à Pandemia de Covid19. “As principais razões desse aumento substancial no faturamento são o crescimento da China, a alta dos preços no mercado internacional, de uma maneira geral, e a desvalorização do real.”

Durante a divulgação do balanço do setor pelo Ibram, foram apresentados 92 projetos, que integram o portfólio das mineradoras, e devem receber aportes de cerca de US$ 38 bilhões, entre 2021-2025. Esses empreendimentos estão situados na área de influência regional de mais de 81 municípios, em vários estados, e vão contribuir para movimentar a economia no longo prazo, com promoção a negócios em extensas cadeias produtivas, geração de empregos e arrecadação tributária, entre outros benefícios socioeconômicos.
 
 
Flávio Penido, diretor-presidente do Ibram, ressaltou que a mineração passa por um ciclo ascendente, tanto em seu desempenho, quanto na geração de benefícios para a nação, como um todo. “Quando a mineração está em um ciclo positivo, ela assegura insumos, e impulsiona negócios para milhares de empresas, de todos os portes, e de praticamente todos os segmentos, o que é extremamente positivo para a economia nacional. Os dados que divulgamos mostram que a sociedade deve enxergar a mineração como uma parceira para o desenvolvimento socioeconômico perene do país”, acrescentou.

Apesar de o setor químico ter sido muito demandado desde o início, seu faturamento caiu. A Abiquim – Associação Brasileira da Indústria Química – e empresas associadas criaram comitês de crise, para gerenciar a situação, e os colaboradores, cuja função permitiria o trabalho remoto, passaram a adotar essa modalidade, o que diminuiu o número de colaboradores nas plantas industriais. Entre os associados da Abiquim, 95% adotaram o teletrabalho para os colaboradores das áreas administrativas da empresa.

A indústria química é fornecedora estratégica e essencial de boa parte dos produtores de itens essenciais para os serviços de saúde, combate à proliferação de doenças e garantia do bem-estar da população. Álcool em gel, luvas e equipamentos de proteção individual, anestésico, gases medicinais, detergentes, desinfetantes, descartáveis em geral, equipamentos hospitalares, e produção e conservação de alimentos, entre tantos outros itens, são fabricados a partir de diferentes produtos químicos. Portanto, foi necessário dialogar com os governos federal, estadual e municipal, para garantir o deslocamento dos trabalhadores essenciais para o funcionamento das plantas industriais; o trânsito de cargas em rodovias, portos e aeroportos; bem como a flexibilização das legislações trabalhistas, para acomodar o ritmo de produção, e a Abiquim participa de todos os grupos de gestão de crise, que foi convidada a participar.
 

O presidente-executivo da Abiquim, Ciro Marino, conta que a entidade atuou para que o setor químico fosse incluído na lista de setores essenciais e entre as ações realizadas, a Associação participou do desenvolvimento do posicionamento global do Conselho Internacional de Associações Químicas (International Council of Chemical Associations – ICCA) entregue, em abril de 2020, aos países membros do G20, e pela Abiquim, à Presidência da República, Ministérios da Defesa, Infraestrutura, Economia e Casa Civil. A indústria química foi reconhecida como atividade essencial, por meio do Decreto nº 10.329, de 28 de abril de 2020.

 
Em 2020, o faturamento do setor químico, medido em dólar, caiu 14%, na comparação com 2019. A indústria química encerrou o ano com um faturamento de US$ 101,7 bilhões, no Brasil, ou o equivalente a R$ 508,7 bilhões. O Brasil continua tendo a sexta maior indústria química do mundo, atrás de China, Estados Unidos, Japão, Alemanha e Coreia. A produção do setor teve elevação de 0,12%, as vendas internas subiram 1,71%, e a demanda, medida pelo consumo aparente nacional (CAN), resultado da soma da produção mais importação, excetuando-se as exportações, cresceu 10,9%. No entanto, preocupa o crescimento das importações, que, em volume, subiram 17,9%, na comparação com 2019, e os produtos importados passaram a ocupar 46% da demanda interna. Em 2006, as importações tinham peso de 21% sobre o volume de demanda interna e, no início da série, em 1990, de apenas 7%.

Segundo a Abiquim, a projeção de investimento do setor, entre 2021 e 2024, é de US$ 1,5 bilhão, valor que deverá ser destinado à manutenção das plantas industriais já em operação no Brasil. Ciro Marino ressalta que o baixo nível de investimentos do setor no país não está ligado à Covid-19, mas à falta de competitividade das indústrias nacionais, em comparação com as concorrentes instaladas em outros países. O setor tinha a perspectiva de que, em 2021, fosse aprovada Lei do Gás, e isso ocorreu, no dia 8 de abril deste ano. A Lei 14.134 cria novo marco regulatório para a cadeia produtiva do gás, e oferece segurança jurídica para o programa Novo Mercado do Gás, lançado em 2019 pelo Ministério da Economia, que foi chamado pelo ministro Paulo Guedes de “choque de energia barata”, capaz de reduzir o preço do insumo em até 40%; o setor aguarda, agora, a edição dos decretos regulamentadores. Outra expectativa do setor é a manutenção do Regime Especial da Indústria Química – REIQ, revogado sem sobreaviso. Energia não pode faltar e, de fato, é um setor que vem puxando investimentos no mundo todo, já aproveitando para incentivar as renováveis, e acelerar a transição para um mundo net zero.

Corroborando isso, levantamento da Absolar – Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica – apontou que 2020 foi um ano de novos recordes para o setor solar fotovoltaico no Brasil. O segmento atraiu mais de R$ 13 bilhões em investimentos, em 2020, incluindo as grandes usinas e os sistemas de geração em telhados, fachadas e pequenos terrenos. O resultado representa um crescimento de 52%, em relação aos investimentos acumulados no País, desde 2012. De acordo com a entidade, os investimentos de 2020 criaram mais de 86 mil novos empregos no Brasil, espalhados por todas as regiões do território nacional. Desde 2012, a fonte solar fotovoltaica já movimentou mais de R$ 38 bilhões, em negócios, e gerou mais de 224 mil postos de trabalho. Em 2020, as contratações cresceram 62%, em relação aos empregos acumulados no país, desde 2012.

Em termos de capacidade de geração de energia elétrica limpa e renovável, o Brasil possui atualmente 7,5 gigawatts (GW) de potência operacional da fonte solar fotovoltaica, somando as usinas de grande porte (geração centralizada) com os pequenos e médios sistemas instalados em telhados, fachadas e terrenos (geração distribuída), o que representa mais da metade da potência instalada na usina hidrelétrica de Itaipu, a maior do Brasil e segunda maior do planeta. Segundo a Absolar, o país saltou de 4,6 GW, ao final de 2019, para 7,5 GW, ao final de 2020, crescimento de 64%, mesmo em meio a um ano desafiador de pandemia global. Em 2020, o mercado solar fotovoltaico proporcionou mais de R$ 3,9 bilhões, em arrecadação, aos cofres públicos, acréscimo de 52%, em relação ao total arrecadado no período, entre 2012 e 2019.

Atualmente, as usinas solares de grande porte são a sétima maior fonte de geração do Brasil, com empreendimentos em operação em nove estados brasileiros, nas regiões Nordeste (Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte), Sudeste (Minas Gerais e São Paulo) e Centro-Oeste (Tocantins). Os investimentos acumulados deste segmento ultrapassam os R$ 15 bilhões. A fonte solar já representa uma potência instalada 32% maior do que a somatória de todas as termelétricas a carvão e usinas nucleares, que totaliza 5,6 GW. No segmento de geração distribuída, são 4,4 GW da fonte solar fotovoltaica, que representam R$ 20 bilhões em investimentos acumulados, desde 2012, espalhados pelas cinco regiões do Brasil. A tecnologia solar é utilizada atualmente em 99,9% de todas as conexões de geração distribuída no país, liderando com folga o segmento. E o Brasil possui mais de 350 mil sistemas solares fotovoltaicos conectados à rede, trazendo economia e sustentabilidade a cerca de 450 mil unidades consumidoras.
 
Ronaldo Koloszuk, presidente do Conselho de Administração da Absolar e Rodrigo Sauaia, CEO da entidade, apontam que a fonte solar fotovoltaica deverá gerar mais de 147 mil novos empregos aos brasileiros, em 2021, espalhados por todas as regiões do país. Segundo eles, os novos investimentos privados no setor poderão ultrapassar a cifra de R$ 22,6 bilhões, em 2021, somando os segmentos de geração distribuída (sistemas em telhados e fachadas de edifícios) e centralizada (grandes usinas solares). Pela análise da entidade, serão adicionados mais de 4,9 gigawatts (GW) de potência instalada, somando as usinas de grande porte e os sistemas distribuídos em telhados, fachadas e pequenos terrenos. Isso representará um crescimento de mais de 68% sobre a capacidade instalada atual do país, hoje em 7,5 GW. As perspectivas para o setor são de chegar ao final de 2021 com um total acumulado de mais de 377 mil empregos no Brasil, desde 2012, distribuídos entre todos os elos produtivos.

Apesar do caminho percorrido, o momento ainda é de otimismo cauteloso. Não existe um consenso sobre quando a sociedade voltará a normalidade. E, de acordo com o CEO Outlook Pulse Survey da KPMG, apenas 1/3 dos entrevistados estão otimistas com o que acontecerá em breve, com 32 % esperando um retorno à normalidade no final deste ano, enquanto 22 % acreditam nunca mais retornar ao curso normal dos negócios, pois, seus negócios e operações mudaram permanentemente. Ambos os lados têm pontos fortes em seu favor, já que muita coisa foi otimizada nesse ano de pandemia, e já existem várias vacinas e testes para dar suporte ao crescente cansaço público com as restrições impostas, o surgimento de novas variantes, e o baixo desempenho global de taxas de vacinação. E, aqui, o mais correto é seguir o que foi reverberado no Fórum Econômico Mundial, em Davos, este ano: “ninguém está seguro, até que todos estejam seguros”. E todos significa todos, sem exceção. O que aumenta a ansiedade.

Os resultados da pesquisa KPMG CEO Outlook Pulse Survey revelam que mais da metade (55%) dos líderes empresariais está preocupada com que nem todos os seus funcionários terão acesso a uma vacina, o que poderia colocar certos mercados e partes das operações das empresas e cadeias de abastecimento em desvantagem. E, ainda que recorrente, um passaporte de vacinação e testes está, mais para barreira não oficial, que solução, com novas e mais fortes cepas do vírus surgindo. E, se existem regiões declaradamente perigosas (entre elas o Brasil), não se pode afirmar, com certeza, que se podem criar ‘zonas seguras’, que se fundamentariam na cooperação e coordenação transfronteiriças, baseadas na confiança, no desempenho da vacinação, rapidez de resposta e transparência dos governos.

O surgimento de novas variantes mostra que os piores cenários não podem ser excluídos, como novas ondas de infecção, levando os governos a oscilar entre impor e suspender medidas sanitárias ou – ainda pior – estabelecer uma meta de vírus-zero, com políticas de contenção rigorosas, seguidas por medidas sanitárias combinadas, com rastreamento e testes – o que imporia custos humanos e econômicos mais baixos de longo prazo, porém, ainda assim, bem improvável, onde houver espaços densamente povoados, ou economias muito integradas.

E, ainda que não haja garantia de imunização, é bem provável que as restrições sejam duradouras nas fronteiras, com probabilidade de repetidos confinamentos, e consequentes efeitos sobre oferta e demanda – de produtos e serviços. Ou seja, no atual cenário de surtos recorrentes, o comportamento dos indivíduos vai mudar, mesmo fora de confinamento formal, o que leva à constatação de que um mundo pós-Covid, onde se possa ignorar o vírus e voltar ao modo como a vida era, não será mais possível.

A Pandemia ensinou – ou deveria ter ensinado – a importância da saúde pública, dos órgãos reguladores e da liderança política, na coordenação da resposta. Ainda de acordo com o CEO Outlook, 76 % dos CEOs veem a direção do governo como o aceno que eles desejam para voltar ao ‘normal’; além disso, 61 % dos executivos globais dizem que precisarão ver uma implementação bemsucedida da vacina nos principais mercados, com mais de 50 % da população vacinada, antes de tomar qualquer medida para retornar aos escritórios. E, nessa demora, o trabalho híbrido vai ganhando espaço permanente nas estratégias corporativas.

O diretor da Accenture pondera que as empresas adotarão um modelo híbrido para o trabalho, que inclui trabalho no site, no hub corporativo e em home office. Muitas pessoas ligadas à produção continuarão na fábrica, ou planta, e acreditamos que esse número se reduzirá, à medida que a automação avançar. “Para as atividades de escritório, acredito que haverá uma grande migração para home office, e que as pessoas comparecerão ao prédio da empresa apenas em regime de agendamento, para reuniões específicas com clientes, ou com a própria equipe. E há atividades em que o modelo remoto não funcionou bem, na minha avaliação pessoal. Eu me refiro às conferências, simpósios e outros encontros técnicos. Além de participar como palestrante, eu sempre assistia às demais palestras, e realizava o networking com clientes e especialistas. Eu também visito os estandes, em busca de novidades. Eu participei de um congresso, recentemente, em modo remoto. Só consegui entrar na hora da minha mesa redonda, e depois não consegui acompanhar mais nada, já que as tarefas do dia ganharam importância em relação às outras atividades do evento. Espero que os eventos voltem a ser presenciais”, diz Constantino, ecoando a experiência e expectativa de muitos.

O IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada já mostrava, em março, que o desempenho dos indicadores de atividade apontava para uma acomodação no ritmo de crescimento da economia, no primeiro trimestre de 2021. Embora os efeitos do recrudescimento da Pandemia afetem a economia de maneira ampla, as pesquisas setoriais do IBGE já sugeriam algumas particularidades, em relação ao seu desempenho: a produção industrial, medida na PIM-PF, registrava alta de 0,4%, em janeiro, na série com ajuste sazonal, atingindo um patamar 3,7% superior ao observado em fevereiro de 2020, período imediatamente anterior ao início da crise sanitária. Nas comparações com os mesmos períodos de 2020, enquanto março registrou uma expansão de 27%, o primeiro trimestre apresentou alta de 17%. Os resultados voltaram a ser afetados pelas operações envolvendo importações de plataformas de petróleo, ainda sujeitas, em parte, às mudanças no regime aduaneiro Repetro. No acumulado em doze meses, os investimentos apresentaram crescimento de 2%. O Instituto divulga análises mensalmente – vale a pena mantê-lo no radar.

Uma pesquisa da McKinsey, de abril de 2020, com 29.000 entrevistados em 24 países, descobriu que, embora a Pandemia tenha impulsionado a adoção de canais digitais, esse crescimento se estabilizou nos últimos seis meses, e pode cair, conforme o vírus retroceda. Então, a Pandemia ressaltou a necessidade de ter várias ferramentas que melhorem a tomada de decisão em uma crise. Uma dessas ferramentas é um modelo de previsão que use técnicas econométricas e dados contemporâneos, para fornecer uma visão oportuna dos indicadores econômicos.

Decidir quando a crise se transformará em recuperação é o mesmo que gerenciar para o presente e para o futuro, sabendo de antemão que é preciso se preparar para prevenir outra Pandemia – o que, já se sabe, custaria US$ 5/pessoa, ou cerca de US$ 357 bilhões na próxima década, em preparações. Em um mundo que ainda não se havia recuperado totalmente da crise de 2008, e um Brasil que ainda sofria com a crise de 2015, mesmo que a maioria das empresas se adapte e sobreviva, as restrições duradouras à atividade econômica resultarão em danos significativos, e parte do custo deve ser repassado para as finanças públicas.

Constantino conta que 2021 começou com forte demanda por parte do mercado, em todo o mundo. Grande número de empresas busca se alinhar à agenda digital. Na área de varejo, ficou muito clara a diferença de ser capaz de continuar vendendo com as lojas físicas fechadas. Quem estava preparado para vender e realizar a logística da entrega foi menos afetado que as empresas tradicionais. “Não creio que haverá horizonte para as empresas não digitais, para a maior parte das atividades. Vamos dar continuidade a vários novos assuntos: digital twins para simulação e análise what-if; digital worker para aumentar a segurança do trabalhador, e habilitá-lo digitalmente para realizar melhor suas tarefas; image analytics para segurança, controle de qualidade, análise de corrosão, e inspeções de campo, agricultura e mineração de precisão; IIoT para captura de dados de baixo custo, domótica e smart cities; operação autônoma de equipamentos, incluindo caminhões de minas, perfuradoras, empilhadeiras, recuperadoras de minério e veículos de passeio, novos centros de operação inteligentes, gerenciamento preditivo de ativos, robótica, etc. Espero que 2021 seja o último ano de Pandemia, mas acredito que o mundo sairá mais equilibrado dessa terrível experiência. Aprendemos que, hoje, as perturbações têm um efeito global, e que esse efeito pode ser catastrófico. Daí surgiram as preocupações com o uso de energias renováveis, em reduzir a pegada de carbono, em economizar água e energia, em diminuir efluentes e emissões para a atmosfera, em monitorar tudo o que pode trazer impacto para o meio ambiente. Já estamos vendo muitas iniciativas, em busca de um novo mundo mais sustentável. A mineração começa a usar o hidrogênio verde e eletricidade para substituir o diesel nos veículos de mina, o carvão passa a ser substituído na geração de calor. Somos sobreviventes de uma pandemia, e saímos mais sábios desse processo. Trabalhar em casa foi uma boa lição aprendida. Isso é possível e é saudável. Ainda temos de aprender a controlar quantas horas passamos sentados em frente a um computador. Temos de adequar nossa carga de trabalho, pois, acabamos trabalhando mais e sem controle do que é tempo privado e tempo disponível para nossa vida profissional”, acrescenta Constantino.

A tão esperada exuberante fase pós-Pandemia, que se aproveitaria da demanda reprimida, se torna menos provável, se não houver uma fase pós bem definida, por que as pessoas podem continuar a economizar como precaução, mostrando que existem efeitos duradouros a partir de choques temporários.

Ou seja, ninguém sabe ao certo. Não há bola de cristal, e cada organização precisa aguçar sua sensibilidade aos sinais dos mercados, para responder rapidamente.
 
Como a ISA se reinventou durante a Pandemia
 
 

Em 2020, a International Society of Automation (ISA) estava vivendo um momento muito positivo, após termos registrado um superávit financeiro pela primeira vez, em uma década, o que nos permitiria investir, para oferecer mais valor para nossos membros.
Ninguém podia prever o que a Pandemia nos traria em 2020. Toda crise sempre nos apresenta novos desafios, mas também sempre nos traz novas oportunidades. Antes da Pandemia, a maioria das atividades da ISA e suas seções regionais se baseavam em eventos e treinamentos presenciais, os quais tiveram de ser paralisados de forma abrupta, e tivemos de nos re-inventar e investir pesadamente, para migrar rapidamente para eventos e treinamentos virtuais. Os funcionários da ISA, com apoio de nossos membros voluntários, aceitaram o desafio, e alcançaram alguns resultados fantásticos. Hoje, temos um amplo calendário de eventos, conferências e treinamentos virtuais, que estão disponíveis para nossos membros em todo o mundo, e temos visto muitos membros que nunca tinham atendido eventos presenciais, devido à distância, que agora conseguem atender nossos eventos virtuais. Apesar de estarmos fisicamente longe uns dos outros, conseguimos aproximar-nos de muitos novos membros, através do contato virtual.
No Brasil, também temos visto uma maior colaboração entre as seções, que têm organizado vários eventos e treinamentos àa distância, e que, devido ao modelo virtual, têm sido oferecidos aos membros de todas as seções brasileiras, ao invés dos tradicionais eventos regionais.
Por outro lado, é muito difícil reproduzir virtualmente um dos principais benefícios de ser membro de uma associação profissional: o networking professional, que inclui aquele bate-papo com o colega durante o intervalo de um evento, ou a conversa no corredor. Por isso, esperamos que, em um futuro próximo, possamos voltar a nos encontrar. Imaginamos que o futuro será uma combinação de eventos presenciais e virtuais, e que o resultado dessa combinação nos permitirá alcançar mais pessoas, em todo o mundo.
Estou confiante de que seremos capazes de nos adaptar e continuar a levar a ISA adiante, em sua visão de criar um mundo melhor por meio da automação. Isso não quer dizer que mudamos por mudar. Algumas coisas são imutáveis, como o compromisso da ISA em aumentar o valor dos membros, cultivar uma comunidade mais diversa e global, criar oportunidades para os membros melhorarem suas habilidades de liderança, e sermos o líder reconhecido em educação de automação e controle.


Carlos Mandolesi
President-elect Secretary

 
Trabalhando como um corpo único
 

Mauricio Garcia – Diretor de Marketing da Ascoval, concorda que o cenário de uma pandemia que ninguém conhecia, e que vinha assombrando várias outras nações, foi o maior receio de 2020 – o desconhecido. “Frente às perspectivas ruins, fixamos meta de crescimento ZERO para o ano. Nos primeiros dois meses, tivemos redução de negócios em ritmo menor que o esperado. Porém, conseguimos nos adaptar rapidamente ao modelo de home office, webinars e atendimento remoto. Tanto, que, já a partir de junho/2020, as vendas se recuperaram, e terminamos o ano acima das metas de antes da Pandemia, e com crescimento de dois dígitos – uma vitória da equipe!
No Brasil, sempre tivemos uma atuação modesta no segmento médico, analítico e hospitalar – atuamos no controle de fluídos, temos produtos para controle de ar, vapor, fluidos criogênicos, entre outros, e devido à Pandemia, essa demanda cresceu muito, inclusive globalmente. O que fizemos foi ajustar nosso foco, e nos aproximar mais desse segmento. Clientes tradicionais, fornecedores de oxigênio hospitalar, fabricantes de esterilizadores, fabricantes de respiradores entre outros, tiveram toda atenção de nossos times. Criamos grupos de trabalho, para apoio nas áreas de Engenharia, Desenvolvimento e Produção, para atender as necessidades de nossos clientes. Isto tudo, não só ajudou nosso resultado, em 2020, mas também contribui no aspecto social, mantendo a cadeia de fornecimento de insumos essenciais operando.
Desde 2019, tivemos importantes investimentos nas instalações de Barueri, com a reforma de toda área administrativa e do refeitório. Em 2020, inauguramos um novo centro de treinamento, duas semanas antes do primeiro ‘lock-down’, em São Paulo. Mas, acreditamos que o maior investimento que tivemos foi nos nossos colaboradores. Durante todo o período de Pandemia que enfrentamos, conseguimos manter os empregos, inclusive com a manutenção integral dos salários daqueles colaboradores que tiveram seus contratos de trabalho suspensos.
O trabalho ‘home office’ foi implantado em sistema de rodízio. O time administrativo foi dividido em dois grupos A e B, se revezando semanalmente em ‘home-office’. Com os colaboradores de Operações, tivemos a divisão em três grupos A, B e C, onde um grupo por semana ficava em casa. Tudo isso, visando à diminuição da circulação no site.
Além disso, para todos que necessitam transporte público, estamos reembolsando o uso de transporte por aplicativos. Além das linhas de produtos que foram agregadas a Ascoval (TopWorx e TESCOM), vamos reforçar nossa participação no segmento de pneumática e da linha de PLCs da GE (que na Emerson é chamada de MAS). Vamos oferecer um pacote completo de automação ao mercado, potencializado com nossa tecnologia digital, para divulgar o conceito da indústria 4.0. Sustentabilidade energética, respeito ao meio ambiente, redução de risco para as pessoas no trabalho, este é o nosso caminho. Seguimos o conceito OneEmerson globalmente, então, nossas ações estão sempre alinhadas com os objetivos corporativos.

 
Infraestrutura e RH são pontos sensíveis
 
Para a Abinc – Associação Brasileira da Internet das Coisas –, a capacitação profissional continua sendo o principal desafio para todas as áreas que envolvem tecnologias e digitalização – estima-se que haja um déficit de 500 mil profissionais (vagas em aberto) no setor de TIC no Brasil. Um desafio em especial para IOT e IIOT é que, de acordo com pesquisa do Fórum Econômico Mundial, 75% dos projetos pilotos de IOT (em nível mundial) falham, por inúmeros motivos. O desafio está em aumentar essa taxa de sucesso. É nessa área que a Abinc pode atuar, divulgando melhores práticas e conhecimento, e casos de sucesso e de falha – para que os mesmos erros não se repitam.
 
 
2020 foi um ano especialmente desafiador, pois, muitos recursos que seriam destinados para inovação foram redirecionados para ações de combate à Pandemia – como verbas de subvenção de projetos piloto em IIOT do governo – ou para sobrevivência das empresas. E a situação fez com que ganhassem destaque, o monitoramento remoto de processos industriais – com a redução de pessoas nas fábricas –, a IOT, nas áreas de Saúde e Logística.

Houve investimento em setores de gestão de facilities (escritórios), que buscaram soluções de automação de medição de temperatura corporal, contagem de pessoas, detecção automática de uso de máscara facial, sensoriamento de qualidade do ar, tecnologias que reduzem ou eliminam necessidade de contato, como, por exemplo, reconhecimento facial para controle de acesso em escritórios. E a Abinc acredita que o mais provável é que o modelo híbrido de trabalho prevaleça, depois da Pandemia, e destaca o gargalo da conectividade, essencial para IOT, mas uma deficiência da infraestrutura brasileira.

A Pandemia impulsionou a digitalização de vários setores, que tiveram de correr atrás do atraso tecnológico, por uma questão de sobrevivência, no nosso cenário isolamento social. A noção da importância da digitalização e da adoção de tecnologias da chamada Industria 4.0 deve tornar-se permanente, e se acentuar em todos os setores da economia. As empresas perceberam que muitas atividades podem ser feitas de forma remota, e isso vai impulsionar tecnologias, como Gêmeos Digitais e Realidade Aumentada, principalmente em aplicações na indústria, com especialistas trabalhando de forma remota na operação e manutenção de processos e ativos industriais.

Flávio Maeda – Vice Presidente da Abinc – Associação Brasileira da Internet das Coisas, e Mauricio Fionotti – Presidente do Comitê de Manufatura.
 
 
Novos produtos e boa carteira
 
Tivemos um ano desafiador, assim como as demais empresas, para adaptar os nossos processos, com o início da Pandemia. Com a impossibilidade de ações presenciais que eram de costume, e com a necessidade de estarmos quase todos em home office, tivemos de nos adequar, para que os processos internos não sofressem impactos, e os clientes não sentissem essa mudança. A Yokogawa teve de fazer alguns investimentos, em termos de infraestrutura de TI, por causa do aumento de acessos remotos, aumentando a quantidade de redes virtuais privadas (VPN), buscando melhoria de segurança, e garantindo o tráfego de informações. Presencialmente, apenas as atividades essenciais na empresa, como, por exemplo, produção, logística, testes de aceitação, todas seguindo os protocolos de segurança. Diariamente, são realizadas reuniões pelo grupo de gestão de crise, para monitoramento das atuais condições, e ajustes nas medidas de prevenção. E ainda não temos uma definição clara de como será o pós-Pandemia, mas buscaremos seguir no alinhamento com as definições de nossa matriz, no Japão
 
Marco Aurélio Gonçalves Figueira, Yokogawa
 
Não foi tão simples, porém, podemos dizer que conseguimos adaptar-nos com excelência, e essa adaptação foi refletida nos resultados financeiros da empresa, em 2020. Todos os funcionários tiveram de se esforçar para realizarem seus trabalhos de casa, muitas vezes, junto com seus familiares, e acredito que isso nos tenha fortalecido ainda mais como empresa, diante desses novos desafios que ainda estamos superando juntos.

O resultado ficou acima de 2019, não apenas pelo esforço de todos para o atingimento dos resultados em 2020, mas também como reflexo do trabalho que já vinha sendo realizado, em anos anteriores. Sabemos que, quando se trata de projetos, o caminho a ser percorrido é longo até a sua conclusão, passando por diversas etapas, e esse trabalho todo refletiu em um ano que foi muito positivo para a Yokogawa, mesmo durante o período de Pandemia.

Em 2020, passamos a comercializar o Sushi Sensor, um dispositivo wireless compacto, com funções integradas de sensoriamento e comunicação, destinado ao uso na monitoração de vibrações nos equipamentos, além de medir a temperatura superficial do mesmo; o LIMS, um Sistema de Gerenciamento de Informação Laboratorial, que suporta a padronização das operações de gerenciamento de qualidade; o Flowcam, um microscópio de fluxo, que captura imagens digitais de alta resolução de partículas suspensas em um meio líquido, e que faz parte da nova linha de Life Innovation da Yokogawa; o MSS – Managed Service Suite –, um serviço de suporte remoto para monitoramento de Sistemas de Controle (DCS e PLCS) e de Segurança (SIS), que permite também realizar atualizações de vacinas e patches dos ativos em tempo real, e o TDLS8000, espectrômetro de diodo laser sintonizável, para análise simultânea de CO/ CH4 e NH3/H2O. E os softwares e serviços que envolvem monitoramento e acesso remoto ganharam notoriedade durante a Pandemia, já que realmente essa demanda aumentou no mercado, pela impossibilidade de manutenções e serviços presenciais, como exemplo o MSS – Managed Service Suite –, que é capaz dar suporte aos sistemas de controle da Yokogawa e outros de mercado.

Continuamos com grandes expectativas para 2021, baseados em uma carteira de pedidos bastante significativa, e investimentos em vários setores tradicionais nas áreas de atuação da Yokogawa. Particularmente, temos boas perspectivas de novos negócios, em virtude dos desenvolvimentos de produtos e soluções para o segmento de Life Innovation.

Todas as nossas ações na América do Sul foram realizadas seguindo as orientações de nossa matriz no Japão. Temos um monitoramento constante, para que todos se mantenham alinhados, seguindo o mesmo padrão de qualidade para os processos, pensando no bem-estar e na segurança de clientes, fornecedores e funcionários.
 
 
Crescimento baseado em tecnologia e nichos estratégicos
 
Acreditamos que o desafio tenha sido o mesmo para todas as empresas: inicialmente, a incerteza do que seria 2020, diante de todas as restrições, da gravidade da situação, e do total despreparo de toda e qualquer autoridade governamental, não só no Brasil, em enfrentar uma pandemia. Com o passar do ano, as coisas se foram assentando, e o horizonte ficou mais definido, não que tenha melhorado, mas, pelo menos, podíamos planejar como agir diante da nova situação. E tivemos um crescimento sobre 2019, já que alguns dos segmentos estratégicos, para nós, não pararam, nem tiveram queda significativa, ao contrário, alguns cresceram nessa pandemia. Nossa matriz investiu muito na ampliação da produção, em novos edifícios e ampliação dos existentes, em máquinas e pessoal. Muito por conta do crescente aumento de pedidos. No final de 2019, lançamos o XPlanar – sistema de transporte com levitação magnética, com alta flexibilidade e manutenção mínima –, continuamos com novidades no TwinCAT, em PCs Industriais e sistemas de ES. O XTS – sistema mecatrônico de transporte – ganhou bastante destaque, aqui no Brasil, tendo aumentado as aplicações locais. E, com isso, todos os benefícios da tecnologia de controle no PC estão sendo cada vez mais percebidos pelo mercado de automação.

Aqui no Brasil, nós suspendemos contratações, mas não houve redução no quadro de colaboradores. Nossa matriz, por sua vez, aumentou o quadro de pessoal, tanto de produção, como de desenvolvimento e marketing. A partir da última semana de março de 2020, praticamente, 80% do nosso pessoal foi deslocado para trabalho na modalidade Home-Office. Em agosto do ano passado, voltamos com algumas pessoas, mas, atualmente, estamos nessa relação de 80% em Home Office, e 20% em trabalho presencial.
Marcos Giorjiani, Beckhoff
 
A verdade é que nós sempre soubemos que poderíamos adotar essa modalidade de Home-Office, mas faltava “um incentivo” para implementá-lo. Agora, mesmo quando essa pandemia finalizar, provavelmente, manteremos esse modelo atual. Em 2021, estamos crescendo, e acreditamos que vamos atingir a meta estabelecida para este ano, o que representará um crescimento de 25% sobre o ano passado, ainda que as regras de restrição impostas pela Pandemia afetem alguns dos nossos prazos de entrega. A Beckhoff sempre será uma empresa inovadora em tecnologia de automação. Isso nos garantirá um crescimento contínuo, pois, essas inovações trazem sempre como resultado máquinas melhores, e processos mais precisos, com redução dos custos com matéria prima e recursos.
 
Desempenho melhor que a matriz
 
Luiz Ribeiro, Fluke
 
O Diretor Geral da Fluke para a América Latina, Luiz Ribeiro, pontua que a Pandemia, que tomou proporções globais, foi de longe o maior desafio para a Fluke, não apenas na América Latina, mas em todo o mundo. E, se o resultado de 2020 do grupo foi abaixo ao de 2019 na América Latina, no Brasil, apresentou crescimento extraordinário de dois dígitos, com a busca incansável por inovações tecnológicas, e muitos lançamentos, com destaque para a câmera acústica ii-910.

Nossos produtos tiveram como finalidade manter nosso mundo funcionando! Durante o início da Pandemia e lockdowns, houve momentos críticos, de falta de alguns produtos essenciais nas prateleiras de mercados e farmácias, por isso, as indústrias tiveram de encontrar soluções de aumentar produtividade, ou evitar paradas de equipamentos para manutenção, seja corretiva ou preventiva, e, portanto, nossos produtos e soluções se tornaram ainda mais imprescindíveis.

Além dos novos produtos, investimos no desenvolvimento de pessoas – embora impactados pelo isolamento social e a restrição de visitas e viagens, isso foi resolvido em parte por treinamentos online, via plataforma corporativa mylearning, assim como eventos virtuais, usando MS Teams e ZOOM. Os investimentos em ativos na região da América Latina não foram representativos, pois, não temos manufatura local – e, em nossa matriz, esses investimentos foram irrelevantes –, porém, em pesquisa e desenvolvimento, os investimentos seguiram forte, tanto que, em 2021, estamos lançando diversos produtos, como Fluke 377/378FC , LinkIQ, dentre outros.

Não podemos considerar que houve desinvestimento, mas reduzimos despesas discricionárias, e postergamos investimentos de capital, para poder equilibrar as contas e manter a saúde financeira da empresa. Nós adotamos, por um período curto, inferior a dois meses, a redução de jornada com redução salarial, por exemplo. Entramos em home office na Fluke, antes mesmo de ser declarado o lockdown, como orientação da matriz: a segurança de nossos associados esteve sempre em primeiro lugar. Durante grande parte da Pandemia, ficamos com 90%-95% dos associados em trabalho remoto, e por volta de 20%, onde há manufatura. Desde o 3º trimestre de 2020, temos uma rotatividade média de, no máximo, 25% de associados em nosso escritório. O trabalho remoto definitivamente chegou para ficar, estamos sim pensando num modelo, ainda não formatado, por que precisamos esperar que a CLT – Consolidação das Leis Trabalho – seja revisada, provendo flexibilidade, para não gerar riscos e exposições.
 
 
Para 2021, temos expectativas de crescimento, em relação a 2019. Para a Fluke Brasil, mesmo tendo crescido dois dígitos em 2020, esperamos novamente mais dois dígitos de crescimento este ano – o que já é uma realidade, considerando os resultados realizados de janeiro a abril.

A Fluke faz parte do grupo Fortive, e todas as empresa seguiram as diretrizes corporativas, muitas vezes mais restritivas e seguras que das legislações locais. Houve apoio mútuo, seja em ambiente virtual, centenas de reuniões exclusivas para falar de contramedidas de prevenção ao Covid, como também respaldo financeiro e distribuição de máscaras, álcool em gel e mantimentos, quando necessário.
 
 
Gestão compartilhada, tecnologia e vigor trazem crescimento
 
Ricardo Max Kowalski Argolo, Diretor Executivo da Nova Smar, conta que o maior desafio da empresa foi, sem dúvida, ajustar as operações durante o período da Pandemia, principalmente em 2020, quando ainda eram muitas as incertezas e, por isso, era preciso avaliar a situação diariamente. “Fomos agindo em conformidade com as leis sanitárias, com planejamento e monitoramento do cenário à nossa volta, de forma a fortalecermos o relacionamento de apoio mútuo com o mercado – isso foi crucial na preservação da saúde dos colaboradores, desde o início da Pandemia, investindo em estrutura para trabalho remoto, criando turnos de trabalho, afastando com remuneração os colaboradores com comorbidades, custeando despesas para uso do transporte individual, e com a intensa campanha para conscientização do uso de máscara, higienização das mãos, distanciamento social, dentro e fora da empresa, e a testagem para casos suspeitos. Estas ações resultaram no reconhecimento, por parte dos colaboradores, do esforço que a empresa colocou na garantia do bem-estar de todos.
 
Ricardo Max Kowalski Argolo, Nova Smar
 
Os resultados da Nova Smar, em 2020, foram superiores ao ano de 2019, indicados pela demonstração financeira, que apurou o crescimento do Lucro Líquido em +96%, e do EBITDA, em +63%. No Brasil, as vendas cresceram 44%. O ano de 2020 foi conduzido com muito esforço pelo ineditismo da situação, por isso, realizávamos reuniões diárias com os nossos representantes, para avaliarmos o cenário, tomar juntos as decisões, e agir sempre proativamente.

Esse tomar as ‘decisões juntos’, no caso da Nova Smar, é algo a se destacar, pois, ela é gerida pelos funcionários: numa decisão única, um juiz transferiu os ativos da antiga empresa para funcionários e ex-funcionários, como parte de pagamento de dívidas trabalhistas, com a exigência de que continuassem a tocar o negócio.

E uma decisão foi realizar investimentos em estrutura e capital humanos, lançando em 2020 um portfólio de softwares de 64 bits, com recursos para atender à demanda da Indústria 4.0: a nova versão do supervisório ProcessView64; o historiador HistoryView; o indicador de eficiência KPIView; iIoTView, para aplicações em nuvem; AnalyticsView, para análise de dados; AssetView, para gestão inteligente de manutenção; AspectView, para a gestão do conhecimento; OrchestrationView, para aplicações em workflow; e Connectivity, para aplicações em conectividade. Estes softwares incorporam as mais recentes tecnologias digitais, tais como a realidade aumentada e a tecnologia responsiva, que permite o ajuste automático da visualização dos aplicativos, para qualquer tipo de interface (monitor, smartphone, tablet, etc.).

“Percebemos que a Pandemia também está estimulando a Transformação Digital, ou Indústria 4.0. Acreditamos que os investimentos que virão na era pós-Pandemia levarão em conta requisitos que estão sendo pensados agora, em meio às dificuldades que a Covid gerou. E é nítido que as tecnologias digitais fazem parte desta solução, principalmente com o rápido crescimento do mercado de softwares, que já está começando a fazer a diferença, nas soluções para automação industrial”, comenta Argolo.

A Nova Smar seguiu investindo na modernização do parque fabril e na infraestrutura de Tecnologia da Informação e Comunicação, este último com estímulo adicional vindo da Pandemia. Com a publicação da nova Lei de Informática, incrementou os investimentos em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, com a incorporação de novas tecnologias, e também na modernização do nosso portfólio, fortalecendo, dessa forma, o core business da Nova Smar como empresa de tecnologia.

Durante a Pandemia, a empresa seguiu as orientações sanitárias, mas apostou em avaliar, caso a caso, o local de trabalho para que o resultado final fosse positivo – o modelo híbrido deve prevalecer no período pós-Pandemia.
 
 
A empresa espera crescer, ao longo de 2021, com maior intensidade no segundo semestre, quando deve acontecer a diminuição progressiva das restrições da Pandemia, momento no qual esperam que o mercado deva estar mais animado, para retornar gradualmente os investimentos que estão represados. “Mas, precisamos estar muito atentos ao câmbio, à forte elevação dos preços e à escassez de itens que estão afetando diretamente a cadeia de suprimentos, que poderão causar distúrbios no mercado no período pós-pandêmico. Para este e qualquer outro momento, a solução é se adaptar, inclusive pondo em prática algumas das lições aprendidas neste período delicado que estamos todos vivenciando”, pontua Argolo.

A Nova Smar não tem filiais, mas conta com uma vasta rede de representantes espalhados por todos os continentes, e que nos tem reportado as mesmas dificuldades causadas nos mercados que atuam devido à Pandemia. Então, a empresa intensificou as ações junto aos representantes como facilitadores, e estimulou para que continuassem a buscar e realizar negócios, ainda que escassos, preservando o vigor para o momento da retomada e, ao que parece, teve êxito nesta estratégia, pois, nos últimos meses, as vendas voltaram a crescer em grande parte dos mercados e, apesar da Pandemia, a empresa atraiu novos representantes, que já estão realizando negócios com os produtos da marca SMAR.
 
Saneamento ganha destaque e marco regulatório
 
O presidente da AESBE – Associação Brasileira das Empresas Estaduais de Saneamento – e presidente da Cagepa – Companhia de Água e Esgotos da Paraíba, Marcus Vinícius Fernandes Neves, conta que o setor teve muitas situações que impactaram seu resultado. “Sofremos, como todos os setores, com maiores cobranças, talvez por ganharmos mais visibilidade nacional com a Pandemia, destacando a importância da manutenção dos serviços de saneamento, por estar associado diretamente à higiene das mãos e ambientes. E, internamente, precisamos incrementar procedimentos que já tínhamos, além de implantar novos, com maior atenção à higienização e proteção dos funcionários e equipamentos. Também tivemos desafios de fornecimento de insumos, necessários, não apenas à manutenção dos sistemas – como produtos químicos –, como também rearranjos nos produtos derivados de PVC e readequação de contratos.
 
Marcus Vinícius Fernandes Neves, AESBE
 
Tivemos redução da receita com aumento de inadimplência; redução de usuários comerciais, que fecharam por conta do cenário de Pandemia; em alguns pontos, o consumo residencial aumentou em até 7% – caso de cidades dormitório, que começaram a ter uma população menos flutuante, graças ao home office – e tivemos, por questões sociais, isenções de corte. Por outro lado, cresceu o uso da tecnologia, o acesso remoto, o aumento de automação, etc.

Como o setor de saneamento começa na prospecção do projeto, e vai até a entrega da obra e sua manutenção, além do trabalho corporativo, não tivemos uma regra sobre o trabalho remoto – o setor jurídico de quase todas as empresas pode ser remanejado –, mas não há discussão sobre como isso vai ficar, pois, cada empresa precisa se adequar à realidade de seus locais de atuação, e mesmo por função.

A Aesbe, como representante do setor, com sede em Brasília, teve restrições de encontros presenciais com seus membros, e ainda com os órgãos públicos, em que apresenta e defende o setor. Perdemos para a Pandemia nosso secretário executivo, Dr. Ubiratan Pereira, que liderava as discussões sobre o marco legal, as leis e regulamentações. Também usamos a tecnologia, para manter as discussões, mas muito fica perdido, na falta de um contato mais próximo. Esse distanciamento também se refletiu na redução de viagens e intercâmbios – que pode ser visto como um desinvestimento, mas é apenas uma impossibilidade momentânea. E, dessa forma, a Aesbe e seus associados têm feito muito virtualmente, além de continuar o trabalho em campo: o setor não pára, e a Cagepa, por exemplo, tem investido em estações de tratamento no semiárido nordestino, com tecnologias, como uso de membranas para melhoria da qualidade da água; a Sanepar também tem trabalhado muito em energias renováveis; a Sabesp vem destacando-se na transferência de dados, enfim, o setor esteve vivo e ativo por todo esse período, e assim continuará.
 
 
Como o setor teve de se reinventar, os investimentos em automação ganharam destaque, não só por conta da Pandemia, mas também porque o setor está se modernizando e se acomodando a novas regras. Várias empresas de saneamento aceleraram seus projetos. Aqui na Cagepa, por exemplo, estamos investindo na implantação do centro de controle operacional de João Pessoa/PR, com recursos do Banco Mundial, incluindo o controle de perdas e telemetria, BI para aprimorar a gestão da informação. Essa modernização é um processo que não tem mais volta.

Para 2021, a gente espera que todos estejam vacinados, para enfrentar a nova realidade do mundo, que alguns chamam de novo normal, um normal diferente. A gente aprendeu muito nessa Pandemia e, para enfrentar esse mundo pós-covid, além de vacina, o setor espera que o saneamento se mantenha na pauta do país, que consigamos desenhar os melhores modelos regulatórios com a ANA, para que a gente tenha a segurança jurídica necessária, que exista um bom rearranjo do setor, a boa regionalização – os estados têm até o dia 15 de julho, para realizar, sob pena de o judicio fazer em forma de bloco –, são muitos desafios, ainda que devem se estender até 2022. Então, esse novo olhar do saneamento, envolvendo o setor privado, os investidores, as companhias de saneamento, enfim, tendem a deixar o setor mais eficiente, apesar dos novos cenários desafiadores e instigantes – que trazem um mar de oportunidades.
 
Suporte à transformação
 
Andrea Macera, assessora especial da Presidência da ABDI – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial –, conta que, no início de 2020, e, portanto, antes da Pandemia, a ABDI estava em um processo de reposicionamento de sua carteira de projetos. Dessa forma, houve um grande empenho, para conciliar a nova agenda com a necessidade, imposta pela crise sanitária, de somar o trabalho da Agência aos esforços de todo o país, de combate aos problemas causados pelo coronavírus. Paralelamente ao lançamento da sua nova carteira de projetos, a ABDI desenvolveu ações exclusivamente voltadas para o cenário de crise da Pandemia. Entre outras ações, destacamos o Edital de Inovação para a Indústria, na categoria Missão contra Covid-19, em parceria com Senai e Embrapii, além da criação das plataformas EPIMatch e Respir@.
 
Andrea Macera, ABDI
 
Nesse sentido, consideramos que o grande desafio da ABDI foi entender o que o país precisava, quais eram as necessidades do setor produtivo, como nós poderíamos contribuir para sair do cenário de crise, e ajudar a estimular o empreendedorismo nacional.

Existem diferentes variáveis, que permitem avaliar os resultados. Em termos de execução orçamentária em projetos finalísticos, os resultados superaram a média dos últimos anos. A carteira de projetos, por sua vez, mostrou estar em total sintonia com a maior necessidade enfrentada hoje pelo setor produtivo e pelo país como um todo: a transformação digital. São projetos robustos – em parceria com importantes instituições do ecossistema de inovação – voltados para o setor produtivo.

Vale lembrar que, em 2020, a ABDI consolidou seu reposicionamento estratégico, voltando sua atuação para o aumento da maturidade digital do setor produtivo brasileiro. Os objetivos estratégicos, de promover um ambiente propício para esse aumento de maturidade, e ampliar a adoção e difusão de novas metodologias e novos modelos de negócios, mostraram-se acertados.

As ações de restrição à circulação de pessoas e de funcionamento de negócios forçaram as empresas a adotarem novos formatos de trabalho e de interação com seus clientes, funcionários e fornecedores, precipitando e acelerando a transição para uma economia digital. Portanto, a transformação digital foi, sem sombra de dúvidas, o fenômeno que ganhou maior destaque na Pandemia.
 
 
Todos os projetos lançados em 2020 têm, como premissa básica, a transformação digital, entendida como um processo que permite criar valor, por meio de tecnologias digitais. Os projetos da ABDI têm como beneficiários, além de empresas de diferentes portes, segmentos, e em diferentes estágios de maturidade digital, governos, visto que atua também na melhoria da infraestrutura tecnológica de municípios brasileiros. Investimos em projetos que atuam na redução da desigualdade digital do setor produtivo, bem como em pilotos, que possam testar as tecnologias mais avançadas em ambientes controlados, para depois serem escalados. Além disso, atuamos em testes de uso da tecnologia 5G, também em ambiente industrial, do agronegócio e nas cidades.

A ABDI seguiu as regras do distanciamento social, e implantou o sistema de teletrabalho, de forma a manter seus colaboradores em segurança. Mas, a prestação de serviços não foi prejudicada. Em 2020, foi implantada a Estratégia de Transformação Digital da ABDI, cujo objetivo era garantir a eficiência de seus processos, e reposicionar a marca ABDI à luz da sua nova missão e objetivos estratégicos. O Índice de Maturidade Digital da ABDI passou, de 29%, para 61%, garantindo a eficiência dos processos e a qualidade dos serviços prestados. Esperamos, principalmente, que a vacinação assegure um clima de maior tranquilidade, saúde e bem-estar para a população brasileira. E que esse cenário possa criar um ambiente seguro para a retomada da economia. A ABDI seguirá contribuindo com ações, projetos e programas, voltados à transformação digital do setor produtivo e do país.

Embora o Brasil se tenha posicionado com sucesso na fronteira de inovação em alguns setores, como agricultura, aviação e petróleo, estudos mostram que as atividades de inovação ainda não resultaram em ganhos de produtividade, aumento de competitividade, ou uma presença mais forte nas cadeias globais de valor. Por este motivo, a ABDI entende que a transformação digital pode oferecer novos caminhos. É preciso garantir que a transformação digital seja inclusiva, e evitar que o novo normal amplie ainda mais as desigualdades econômicas e sociais do país. Deve-se garantir que os avanços tecnológicos estejam integrados à formação do capital humano. Os investimentos em transformação digital, impulsionados por uma resposta à Pandemia, devem definir um caminho para a aceleração do país, que vai além da recuperação econômica. Muito está sendo feito, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido.
 
 
 
 
 
 
 
 
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