Revista Controle & Instrumentação – Edição nº 252 – 2019



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Papel e Celulose: Gestão Inteligente
 
 
 
 
Segundo o projeto Indústria 2027 – CNI/IEL/UFRJ/ Unicamp – todos os sistemas produtivos conviverão com tecnologias disruptivas, em até dez anos. E, ainda que o tempo seja pouco, a indústria brasileira deve combinar soluções para enfrentar os desafios, combinação de tecnologias, como genômica, computação de alto desempenho, sequenciamento do DNA; reconhecimento de imagens com robótica; veículos autoguiados; Internet das Coisas; Inteligência Artificial; redes de comunicação avançadas; smart grids, e muitas outras.

Apesar das diferenças, todas essas tecnologias têm potencial disruptivo, e pelo menos duas coisas em comum: custos em queda, e mercados em expansão.

Ainda segundo o Indústria 2027, a celulose vem crescendo a taxas de 3%, e seu nível de utilização da capacidade instalada mundial se encontra em patamares altos (93% em 2017). E a indústria de celulose brasileira é forte, sendo pioneira mundial em várias frentes – na introdução do eucalipto, na geração de inovações para o crescimento uniforme e rápido, na utilização de enzimas para substituir insumos químicos para extrair uma celulose limpa – diminuindo as emissões de CO2, economizando no tratamento da água, e aumentando a geração de biocombustíveis, além do acompanhamento dinâmico das operações florestais, através de Business Intelligence.

A Indústria 4.0 descreve um futuro de produção industrial, caracterizado por uma nova forma de se organizar e controlar a cadeia de suprimentos, ao longo do ciclo de vida dos produtos – criando necessariamente cadeias dinâmicas, otimizadas e conectadas.

O Indústria 2027 revelou ainda que 42% das empresas brasileiras desconheciam a importância das tecnologias digitais, e mesmo da Automação Digital para a competitividade, e 46% não sabiam se utilizavam alguma das tecnologias digitais. O setor de papel e celulose ficou em 9 º lugar no uso de tecnologias digitais com foco em processo, e o 10º no uso de tecnologias digitais com foco em desenvolvimento. É um setor antenado. E realizou a primeira pesquisa sobre a Transformação Digital nas Indústrias Brasileiras de Celulose e Papel (trabalho conjunto da Unicamp e ABTCP), para avaliar o nível de automação nas indústrias de papel e celulose no Brasil, bem como diagnosticar o entendimento e ações dessas indústrias para a Transformação Digital – como é tratada pela pesquisa a Indústria 4.0, também aqui entendida como 4ª Revolução Industrial.
 
 
A indústria de papel e celulose já vive a 4.ª Revolução Industrial; não pode estacionar na consolidação da automação. É uma indústria que está baseada na revolução digital, conseguiu fazer andar em paralelo a evolução da Tecnologia de Automação (TA), Tecnologia de Operação (TO) e a Tecnologia de Informação (TI).
 
Para Ronaldo Neves Ribeiro, gerente do Detin – Depto. de Tecnologia da Informação e Telecom da Cenibra (Celulose Nipo Brasileira SA), o termo digitalização é uma das etapas da transformação digital dos negócios, está correlacionado com as ações que cada empresa toma, a fim de usar as novas tecnologias e os recursos digitais, em benefício de melhorias em seus processos, ou transformá-los, de forma que suas áreas de negócio melhorem os resultados, entregando um novo produto/serviço para sua corporação, ou para o mercado. “Se focarmos em OT (Operational Technology), estamos falando de dispositivos (sensores) mais inteligentes e conectados, computação de borda, e sistemas de controle de última geração, inteligência artificial (IA), e várias outras tecnologias. As tecnologias têm evoluído de forma exponencial e, com a intervenção correta do ser humano, os processos têm sido modificados, e esta combinação: tecnologias, processos e ser humano, tem trazido novas formas de produção em série, e de fazer negócios”.
 
André Moser, consultor especialista em digitalização, que auxilia a Pöyry em seus processos, lembra que a Transformação Digital é, antes de mais nada, um processo de transformação do negócio – seja do modelo de negócio, dos produtos e serviços, dos processos e competências – por meio da Tecnologia. “Essa transformação ocorre com o apoio de tecnologias emergentes, como Big Data, IIoT, Inteligência Artificial, Digital Twin, entre diversas outras, com o objetivo de capturar o valor existente nos dados, criando dessa maneira a ponte entre o mundo físico e o digital. A eficiência dos processos corporativos e industriais será fortemente impactada pela capacidade das empresas de coletar, analisar e gerar insights de seus dados. Neste sentido, a visão de transformação digital do epecista deve estar alinhada as necessidades de transformação do negócio de seu cliente, e nesse contexto, o epecista deve ser o provedor de tecnologias e competências, que irão ajudar o seu cliente a alcançar todo o valor em potencial de seu negócio, seja em novos produtos, maior eficiência, redução do custo total de propriedade (TCO), sustentabilidade, e até mesmo segurança”.
 
“Saber onde se está é o primeiro passo para definir as ações de onde se quer chegar. A pesquisa setorial sobre a transformação digital nas indústrias de celulose e papel do Brasil, feita pela Unicamp e ABTCP (Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel), proporcionou uma boa compreensão do avanço da implementação de tecnologias ligadas à Indústria 4.0 no setor, e qual o seu foco. Com o resultado desta avaliação, é possível entender o que já foi feito, e o que ainda falta, para colher os benefícios deste caminho de digitalização, e com isso, por exemplo, aumentar a lucratividade e competitividade dos produtos brasileiros.” Andre Kakehasi – Gerente de Vendas da Valmet, Coordenador da Comissão de Transformação Digital da ABTCP, Membro ISA – PUPID (Pulp and Paper Industry Division) e coautor da pesquisa setorial – Indústria 4.0: a transformação digital nas indústrias de papel e celulose no Brasil.
 
E tudo começa sempre pelo sensoriamento de campo e dos processos; não é possível pular essa etapa para a obtenção das informações que vão proporcionar a Transformação Digital, pois, é a partir daí que as tecnologias digitais, entre elas Industrial Internet das Coisas (IIoT), Big Data e Analytics, começam a desempenhar o seu papel na captura, padronização, armazenamento e análise de dados – em quantidades nunca vistas antes. Depois de tratados, esses dados se convertem em informações, que irão orientar tomadas de decisões mais rápidas e precisas, levando – de forma direta e indireta – ao aumento da produtividade e redução de custos.

Nunca é demais lembrar que o sensoriamento é fundamental, pois, só é possível controlar aquilo que se mede, então, aumentar o número de dados, e trabalhar com eles de forma inteligente ( Big Data/Analytics), e em tempo real, gera ótimas oportunidades de melhorias nos processos, ainda, quando há a combinação com inteligência Artificial (IA), seguramente há a melhoria nos resultados.

“Esta combinação tem sido usada, na prática, pelas empresas que já se encontram nos patamares mais avançados com excelentes retornos aos negócios. Se observarmos o quanto a F1 melhorou os resultados dos carros com a telemetria, podemos entender bem o significado de Internet das coisas (IoT), Dig Data/Analytics e IA. A Cenibra está no caminho certo para a digitalização dos seus processos: temos várias iniciativas para acelerarmos a transformação digital da empresa, temos um planejamento para os próximos anos e, como as tecnologias são muito dinâmicas, fazemos os ajustes com o passar do tempo. A Diretoria acredita que as tecnologias são o caminho para continuarmos competitivos e, com esta visão, os investimentos têm sido aprovados de forma sustentável. Dentro da fábrica, os sistemas de controle de última geração têm sido fortemente aplicados, como novos modelos de CLPS, SDCDs, DEHCs, APCs, Analisadores de última geração, sensoriamento de ativos, gerenciamento de ativos e IA. Se olharmos o setor florestal, atualmente, possuímos coleta de dados de silvicultura e colheita por sensoriamento das máquinas e, por apontamentos através de mobilidade, combinados com computação em nuvem e Inteligência de Negócios (BI), isso tem trazido a gestão do setor florestal para um novo patamar”, conta Ronaldo Ribeiro.

André Moser conta que a Pöyry vem investindo constantemente, na pesquisa e aplicação de tecnologias que agregam valor aos produtos e serviços que entrega aos seus clientes. “Porque isso nos torna o parceiro certo para orientarmos as indústrias, no complexo caminho da transformação digital industrial, com entendimento de toda a cadeia de valor e dos principais requisitos técnicos de Tecnologia da Informação (IT), Operacional (OT) e de Engenharia (ET). E estudos ao redor do mundo mostram claramente que empresas que investem em Transformação Digital possuem indicadores de faturamento bruto, lucro operacional e retorno ao acionista maiores do que empresas que não investem nesse tema, em especial as empresas que são pioneiras na Transformação Digital em seus segmentos de negócio. A Pöyry vem obtendo resultados consistentes com relação aos investimentos em Transformação Digital, realizados nos últimos anos, seja nas perspectivas de maior integração dos times, maior agilidade, maior eficiência, ou ainda, menores custos operacionais”.
 
 
Recentemente, a Cenibra aprovou a migração para um novo sistema de gestão corporativo S/4 HANA, que permitirá que a empresa dê um grande passo para o uso das tecnologias disruptivas da Indústria 4.0: Ti e TO/TA têm de caminhar juntas, porque, como lembra Ronaldo Ribeiro, é possível digitalizar o corporativo, sem digitalizar o processo, mas não é inteligente. “Um dos conceitos trazidos pela Indústria 4.0 é a Integração Horizontal/Vertical, onde há a necessidade de integração das tecnologias do chão-de-fábrica com a gestão do negócio (ERPs). Então, caminhar de forma isolada trará benefícios, mas com limitações. O ideal é que haja um equilíbrio entre as áreas de TO/TI, seguindo os objetivos estratégicos traçados com a visão de sustentabilidade do negócio”.
 
 
 
“A experiência mostra que os processos administrativos (corporativos) e industriais (processo) possuem uma estreita relação, à medida de que existem processos administrativos, tanto antes, quanto depois dos processos industriais na cadeia de valor da empresa, como, por exemplo, suprimentos (antes) e vendas (depois). Na perspectiva da transformação digital, dissociar esses dois temas é algo que deve ser evitado. A estratégia recomendada é criar uma agenda de transformação única, que enderece ações de forma combinada, sem priorizar somente um tema ou outro, e que olhe para o cenário do negócio como um todo”, pontua André Moser.

E, na Cenibra, já é possível visualizar ganhos expressivos, não só financeiros, mas também de agilidade nas tomadas de decisões, o que torna a empresa mais ágil e competitiva. Ronaldo ressalta que ter uma essa nova abordagem gera uma nova experiência do usuário, pelo uso das tecnologias, o que traz um enobrecimento dessas atividades, e maior satisfação em trabalhar na empresa. E aí entra o fator humano.

Para André Moser, o perfil dos profissionais envolvidos na transformação digital é muito abrangente, e envolve diversas áreas do conhecimento. “De modo geral, o que se percebe é que existem algumas características em comum nos profissionais que atuam nessa área. Ser um profissional questionador, e que leve em consideração o todo, é fundamental, que tenha capacidade de avaliar cenários e combinar variáveis com foco em gerar insights para o negócio. Além disso, precisa ser capaz de argumentar e transmitir, de forma clara, sua mensagem, de maneira a conseguir apoiadores ao longo do processo de transformação,” diz o especialista da Pöyry.
 
 
“Já é sabido que precisaremos aprender coisas diferentes daquelas aprendidas até então. Diante disto, iniciar as leituras sobre as novas tecnologias, que compõem os conceitos da transformação digital, é uma obrigatoriedade para os profissionais de todos os ramos produtivos. A dúvida é: o que começar a estudar? Não podemos ficar esperando o que vai acontecer, é necessário termos iniciativa e sermos agentes desta transformação. De forma geral, as empresas possuem programas de sugestões, então, através deles, temos um dos caminhos para contribuir, sugerindo novos projetos de transformação. É preciso mudar o mindset”, afirma Ronaldo que também é professor e indica autores para iniciantes: Klaus Schwab, Peter Diamandis, Salim Ismail, Yuval Harari, Satya Nadella, entre outros.

Como professor ou como colaborador da Cenibra, Ronaldo pede atenção para o atual momento da humanidade, em que os negócios – e a vida mesma – têm sido transformados pelo uso das tecnologias. Mas, que é preciso se manter sustentável, então, o caminho é fazer diferente, até mesmo do que se fez “certo” até hoje. “As tecnologias nos têm proporcionado novas formas de fazermos as coisas, para aproveitarmos este momento, é necessário sermos ousados, não termos medo do insucesso. Entender as tecnologias e aplicar as mais adequadas, para melhorar nossos processos, é o nosso desafio. Os CEOs das empresas esperam que nós – de automação, de TI, de instrumentação, de manutenção, etc. – sejamos protagonistas desta transformação. Esperar as coisas acontecerem pode nos custar muito caro”.
 
 
O setor de papel e celulose não tem mesmo a característica de esperar acontecer. Tanto que, além de se manter atualizada nas tecnologias disruptivas, já trabalha com outros desenhos de negócios, que incluem a aplicação do conceito de biorrefinaria integrada à produção de celulose – plantas químicas por definição, onde a introdução de novos processos para converter a biomassa não traria grandes alterações em suas rotinas operacionais. Será?
 
“A pesquisa setorial – Indústria 4.0: a transformação digital nas indústrias de papel e celulose no Brasil, foi um Benchmark no setor de Celulose e Papel do Brasil, pois, apresentou uma visão geral sobre a Transformação Digital, e permitirá priorizar ações para a digitalização das Indústrias Brasileiras de Celulose e Papel, e também preparar os profissionais para a Indústria 4.0 (I4.0). As indústrias de C&P precisam melhorar o nível de automação e a integração TA/TI, pois, estes pilares formam a base para implementação de tecnologias habilitadoras da I4.0.
A Transformação Digital começa principalmente com mudança de Cultura nas organizações e, posteriormente, uma Governança de Tecnologia, pois, a sinergia entre Tecnologias e Pessoas será o ponto chave, para que as indústrias brasileiras possam superar desafios e revolucionar seus processos, ou seja, tornar-se INDÚSTRIA 4.0”, afirma Alessandro Frias, Consultor de Projetos na Oji Papéis Especiais, Membro da Comissão de Transformação Digital da ABTCP, Membro ISA – PUPID (Pulp and Paper Industry Division), e co-autor da pesquisa setorial – Indústria 4.0: a transformação digital nas indústrias de papel e celulose no Brasil.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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