Revista Controle & Instrumentação Edição nº 229 2017
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Cover Page
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Metrologia e garantia de
qualidade na indústria 4.0 |
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O primeiro a decretar a utilização de um padrão
único para as medidas foi o Faraó Khufu. O padrão
escolhido por ele foi feito de granito preto,
chamado de ”Cúbito Real Egípcio” e seu comprimento
era equivalente a distância do cotovelo até a ponta do
dedo médio do faraó. O padrão foi muito eficiente pois
garantiu que a base da Grande Pirâmide (2900 AC) fosse
perfeitamente quadrada - o comprimento de cada lado
não se desviou mais que 0,05%.
Hoje, o Bureau International des Poids et Mesures
(BIPM) localizado em Sevres, França, é a instituição de
máxima referência em metrologia no estabelecimento
das grandezas e dos padrões metrológicos, bem como
do Sistema Internacional de Unidades, o SI. O BIPM tem
como missão assegurar e promover a comparação global
entre as medições, incluindo o provimento coerente de
um sistema internacional de unidades para descobertas
e inovações científicas, manufatura industrial e comércio
internacional, acrescentando-se a sustentabilidade da
qualidade de vida e do meio ambiente global.
O BIPM define a metrologia como “a ciência da medição
que abrange determinação experimental e teórica,
em qualquer nível de incerteza e em qualquer campo da
ciência e da tecnologia”. Outros dois importantes documentos
internacionais, um da Organisation Internationale
de Métrologie Légale (OIML) denominado Considerations
for a Law on Metrology e o outro do BIPM, o Vocabularie
Internationale de Métrologie (VIM), definem a metrologia
como a ciência da medição e a sua aplicação cujo objetivo
primeiro é fornecer confiabilidade, credibilidade,
universalidade e exatidão às medidas.
E a metrologia faz parte da maioria dos processos de
tomada de decisão no comércio, indústria, meio ambiente
e saúde. Dela depende o sucesso econômico – que
depende da manufatura e do comércio precisamente elaborados
e de produtos e componentes convenientemente
testados; os sistemas de navegação por satélite e a correlação
internacional de tempo; a saúde humana - que
depende criticamente da capacidade de um diagnóstico
preciso, que vem da medição de equipamentos confiáveis;
os consumidores precisam confiar nas quantidades
fornecidas – seja de uma bomba de combustível ou de um
pacote de arroz. A metrologia é essencial quando se trata
de competitividade no mercado, uma vez que ela agrega
valor ao produto. Existem diversas formas de medições
que podem ser realizadas, e bom que seja assim pois a
multiplicidade de métodos de medição de um mesmo
item aumenta a confiabilidade dos resultados – quando
seguidas as normas e padrões internacionais acordados.
Os países têm sua base metrológica nos Institutos
Nacionais de Metrologia (INM) como o National Institute
of Standards and Technology (NIST) nos Estados Unidos,
o Physikalisch-Technische Bundesanstalt (PTB) na Alemanha,
o National Physical Laboratory (NPL) na Inglaterra,
o Laboratoire National D’Essais (LNE) na França, e o Instituto
Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia
(Inmetro), no Brasil. |
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Os INM possuem corpo técnico de pesquisadores de
excelência e de infraestrutura que lhes permite o desenvolvimento
de pesquisas utilizadas em tecnologia de ponta
fundamentais. Esforços internacionais têm sido feitos
para definir, no futuro, todas as unidades fundamentais,
como por exemplo, o segundo, o metro, o quilograma
e o ampère, em função de constantes físicas, de modo
a torná-las independentes de artefatos. Exemplo disso
são as pesquisas para substituir a definição da unidade
de massa, ainda hoje, o padrão físico “quilograma padrão”
existente no BIPM - os experimentos com número
de Avogadro e com a balança de Watt são os fundamentos
da nova definição do quilograma. Eles representam
duas possibilidades independentes para a nova definição
– que deve ser divulgada em 2018. Caminha-se para um
sistema único internacional, o que é desejável, uma vez
que este pode impactar os setores industrial, científico,
tecnológico e comercial. Para a indústria, os benefícios
se refletem na eficiência da produção e na melhoria da
qualidade. A aceitação de produtos no mercado externo
é facilitada quando se tem estabelecido um sistema
nacional de medição competente, cuja rastreabilidade e
reconhecimento internacional estejam consolidados.
“Os acordos de reconhecimento mútuo entre organismos
de acreditação são uma das formas mais efetivas
de facilitar a eliminação de reavaliações nos países
importadores, problema identificado pela Organização
Mundial do Comércio (OMC) como umas das maiores
barreiras técnicas ao comércio. O Inmetro, juntamente
com organismos de acreditação congêneres de outros países,
vem buscando estabelecer, por meio de cooperações
regionais e internacionais, acordos que
possam promover a confiança daqueles que
se utilizam dos resultados dos processos de
avaliação da conformidade. |
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Os acordos de reconhecimento mútuo
entre organismos de acreditação, serão,
cada vez mais, ferramentas facilitadoras
do comércio e uma base técnica para
os acordos de comércio exterior entre governos”,
afirma Newton Bastos, Gerente de Contas
Presys Instrumentos e Sistemas e diretor da Remesp. |
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Todo esse processo de unificação torna-se ainda mais
importante quando o mundo começa a entrar em nova
era na forma de fazer – produtos, serviços e negócios: a
era da quarta revolução industrial, ou Indústria 4.0, baseada
em conectividade.
“A proposta de se trabalhar com a Indústria 4.0 será a
total conectividade dos calibradores utilizados com o sistema
de calibração, além da troca de informações entre
sistemas como o Isoplan e os ERPs. Esta solução refere-se
a Metrologia 4.0, onde a metrologia será inteligente e em
rede e que engloba as principais inovações tecnológicas.
Graças aos conectores USB, à porta Ethernet e ao sistema
de Wi-Fi os calibradores poderão ser conectados diretamente
a softwares como o Isoplan para troca de informações
de TAGs, dados de calibração, procedimentos,
tarefas, vídeos. Aliado ao software de calibração, esse sistema
permitirá obter e processar resultados de medição
com maior facilidade reduzindo erros e aumentando a
produtividade”, explica Newton Bastos.
Indústria 4.0 e a Internet Industrial das Coisas (IIoT)
são termos que com frequência aparecem juntos quando
se fala do futuro da produção, do trabalho e dos negócios.
Isso porque os dois estão intimamente ligados já que
o aumento da interconectividade que vem com a IIoT é
um componente-chave para as fábricas inteligentes.
A mudança de paradigma resultante terá um impacto
profundo em todos os aspectos do setor de fabricação,
desde processos inteiros, passando por máquinas-ferramentas
até metrologia e calibração por conta da tecnologia
de sensores que nos permite coletar muito mais
dados; no futuro, poderemos ter a medição de 100% do
que for importante, o que significa que os dados para a
garantia da qualidade e todos os parâmetros críticos não
serão mais adquiridos por amostragem, mas por cobertura.
Isso será uma mudança radical no controle de qualidade,
porque dessa forma poderemos trabalhar muito
próximos dos limites de tolerância.
Com toda a tecnologia e dados disponíveis, estratégias
inteligentes e adaptativas de qualidade serão implementadas,
como as estratégias de emparelhamento
– pouco utilizada porque as pessoas não gostam de sua
abordagem matemática. As estratégias de emparelhamento
são uma opção óbvia se nem todos os componentes
produzidos forem capazes de atender às tolerâncias
especificadas.
Dessa forma, os dados serão cada vez
mais adquiridos na própria linha de produção
– e já se nota um movimento para incluir
mais metrologia em linha e instrumentos de
medição integrados ao processo que permitam
minimizar os laços de controle. Com a
medição acontecendo diretamente no processo,
aumenta a demanda de metrologia aplicada
em linha. Esse cenário eleva a metrologia a um negócio
de projeto, fator de competitividade.
Esse movimento muito visível na indústria de processo
pode não ser tão óbvio na manufatura já que há
certa dificuldade de transformar uma máquina-ferramenta
numa máquina de medição apenas com aplicação de sensores. Os custos são elevados e existem muitos fatores
de interferência, como temperatura ou sujeira. Sem contar
que peças cortadas em metais exigem um alto grau
de precisão de medição. Some-se a isso o fato de que os
usuários querem uma estrutura metrológica independente,
que permita que as medidas sejam
tomadas em paralelo à usinagem - medição
simultânea. Mas empresas como a Bosch já
utilizam esse procedimento mesmo para
produtos de alta precisão como injetores.
A tecnologia possibilita que os sensores
individuais sejam substituídos por redes de
sensores - infraestrutura essencial para o uso
de medidas inline com eficiência máxima. Se
chegar a esse ponto, é possível uma fusão de dados
de vários sensores, levando a um resultado metrológico
mais amplo. E quando se fala em dados, a pré-condição
básica é uma arquitetura de software harmonizada.
Dessa forma, a pirâmide de automação clássica está
desaparecendo e fazendo com que o MES, que opera
próximo ao processo, ganhe importância cada vez maior
inclusive pela grande aceitação do padrão OPC / UA.
Ressalte-se que nem tudo precisa ser feito em tempo
real. E de fato não é. Testes e calibrações ainda são frequentemente
realizados de maneira tradicional, no final
da cadeia de processo. Isso, em todo o mundo. Na Europa,
o que domina são plantas mais antigas então, predominam
os testes offline e se começa a equipar as linhas
existentes com tecnologia de sensores. Na China, as plantas
greenfield são idealizadas com grandes quantidades
de tecnologia de sensores, já na “onda” da Indústria 4.0. |
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“Com a indústria 4.0 juntamente com o conceito de
IoT, a otimização dos processos de calibração pode proporcionar
ganhos na qualidade e lucratividade dos processos
industriais. Dados e relatórios emitidos em tempo
real permitem a verificação regular dos instrumentos padrões
utilizados no processo fabril, avaliando tendências
dos valores medidos e antecipando informações de possíveis
falhas. Processos de calibração tradicionais onde antes
a intervenção do técnico era necessária, são realizadas
automaticamente neste conceito, diminuindo drasticamente
retrabalhos consequentes de falha humana. Um
ponto importante a ser destacado é sobre a capacitação
dos profissionais que antes atuam nos processos de calibração
tradicionais. Neste novo contexto, técnicos de
calibração desempenharão cada vez menos o
papel operacional, assumindo um perfil analítico
e tornando-se fundamentais na avaliação
dos resultados e tendências fornecidos
em tempo real”, comenta Eric Bizarro, coordenador
do Laboratório de Metrologia
da Yokogawa América do Sul. |
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“Os dados provenientes de uma calibração, o controle de uma ou mais variáveis do processo, o controle metrológico dos instrumentos de medição, esses sim podem e devem se beneficiar da indústria 4.0. Uma vez que na indústria 4.0 esse controle e a comunicação passam a ser on line, utilizando-se da comunicação sem fio e da agilidade nas transmissões dessas informações, permitindo a rastreabilidade e monitoramento dessas medições remotamente por meio de diversos sensores distribuídos ao longo da planta industrial. Com relação a metrologia e indústria 4.0, o Brasil está só iniciando”, pontua o professor titular de metrologia do IFRJ, Alexandre Mendes. |
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O que é preciso notar é que essa “febre”
baseada em sensores e dados deve aumentar a
complexidade das fábricas aumentando, assim,
o mercado de serviços de calibração e reparação
– segundo recente estudo da Frost & Sullivan. O estudo
conta, ainda, que a demanda por serviços avançados de
calibração e reparação está sendo impulsionada por uma
maior conectividade nas indústrias de usuários finais, como
a automotiva, bem como a crescente penetração de produtos
complexos nas indústrias aeroespacial e de defesa.
O mesmo estudo prevê que o mercado europeu passará
de US $ 1,51 bilhão - em 2015 - para US $ 2,12
bilhões em 2022, com uma taxa de crescimento anual
de 5%. O levantamento da Frost & Sullivan ressalta que a
complexidade dos produtos inteligentes requer um nível
superior de testes e atenção aos detalhes no estágio de
projeto, intensificando a demanda por instrumentação
sofisticada e precisa. Também identifica a automação de
serviços de calibração e reparação como forte tendência
porque a automação aumenta a consistência dos resultados
e reduz os custos de calibração e tempo de reparo.
O estudo da Frost & Sullivan ressalta que, nos próximos
15 anos, a divisão entre inspeção tradicional e inspeção
inline pode quase não existir mais já que as tecnologias
vão gerar novas oportunidades para fabricantes de
medição industrial, com inovações em produtos, softwares,
processos de inspeção e TI que devem reinventar as
atuais soluções.
Bom lembrar que o termo medição industrial no levantamento
se refere a tecnologias como metrologia dimensional,
monitoramento de condição, testes não destrutivos,
instrumentação analítica e ferramentas de teste de materiais
usadas para inspeção de qualidade, tecnologias usadas
em diferentes estágios dos processos. Com o aumento da
conectividade, surgiu e vem crescendo a medição industrial
orientada para TI, integrando dados de medição
de todo o processo e disponibilizando-os aos formadores
de KPIs e tomadores de decisão. Essa
integração reforça a garantia de qualidade em
toda a organização, incluindo fornecedores,
materiais recebidos e produção.
E ainda deve acontecer um salto na inspeção
de qualidade com a combinação de software
intuitivo e computação em nuvem. Porque
a inteligência e a conectividade dos softwares de
medição industrial permitem uma nova gama de serviços que podem ser agrupados em monitoramento,
controle, otimização e
autonomia, onde cada uma dessas
etapas é valiosa e define a plataforma
para a próxima: os recursos
de monitoramento são a base para
controle de medição, otimização de
processos e autonomia. Então, um
fornecedor de medição industrial
deve escolher a combinação certa
para gerar maior valor ao cliente.
“A principal importância das
ações de Calibração, será a de
agregar qualidade aos serviços
prestados, fornecendo suporte para
a qualificação de equipamentos e
validação de processos e principalmente
dar atendimento e conformidade com as normas
de qualidade, segurança e meio ambiente que a empresa
busca atender. Além é claro, de dar sustentabilidade do negócio,
devemos ter a disponibilidade de mão de obra, de
equipamentos e serviços que agreguem valor na produção
e o conceito do departamento de manutenção se transformar
em parte integrante da produção, se possível com um
forte Controle Estatístico de Calibrações em tempo real, no
andamento da calibração”, destaca Newton.
“A calibração é indispensável para garantir a melhor
performance de um instrumento utilizado dentro do processo
produtivo e assegurar um bom nível de qualidade
do produto final. A garantia de que o processo de medição
esteja dentro de limites pré-estabelecidos e assegurando
que o produto final atenda ou supere a expectativa dos
clientes é endossada pelo processo de calibração. Além
disso, ela deve ser compreendida não somente como um
simples requisito para atender normas de qualidade, mas
também como um fator determinante para garantir competitividade
no mercado atual. A Yokogawa possui um
laboratório no Brasil acreditado ao INMETRO de forma
a proporcionar aos nossos clientes produtos com um alto
nível de qualidade” comenta Eric Bizarro. |
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Grande parte dos países utiliza a maneira convencional
de ramificar a rastreabilidade pela formação de redes nacionais
de calibração e de ensaios, principalmente no que
se refere às grandezas físicas. No Brasil, a Rede Brasileira
de Calibração (RBC) e a Rede Brasileira de Laboratórios de
Ensaios (RBLE), criadas pelo Inmetro, vêm atuando desde
o início da década de 1980. Desta forma, os padrões nacionais
fornecem rastreabilidade aos padrões de referência
ou de trabalho dos laboratórios acreditados e estes aos padrões
e instrumentos de medição utilizados nas indústrias.
Atualmente existem 346 laboratórios acreditados integrando
a RBC e laboratórios acreditados integrando a RBLE, segundo
a revisão mais recente da Norma ABNT NBR ISO/IEC
17025. E o acordo de reconhecimento mútuo estabelecido
pelo CIPM MRA propicia que os certificados de calibração
emitidos por esses laboratórios sejam aceitos em qualquer
dos 38 países membros da Comissão do Metro. |
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Newton Bastos, ressalta aqui a importância de se
utilizar as palavras certas.
Ele destaca que se deve saber a diferença entre calibração,
aferição, medição, com definições estabelecidas pelo VIM – Vocabulário Internacional de Metrologia
– Portaria INMETRO 029 de 10/03/1995 onde calibração
é uma operação que estabelece, numa primeira etapa e
sob condições especificadas, uma relação entre os valores
e as incertezas de medição fornecidos por padrões e as
indicações correspondentes com as incertezas associadas;
numa segunda etapa, utiliza esta informação para estabelecer
uma relação visando à obtenção de um resultado de
medição a partir de uma indicação.
Já o termo aferição não existe mais no VIM, tendo
sido substituído por calibração.
E foi inserido o termo ajuste, que é o conjunto de
operações efetuadas em um sistema de medição, de modo
que ele forneça indicações prescritas correspondentes a
determinados valores de uma grandeza a ser medida.
O professor Alexandre, resume: “Calibração é o
processo no qual você obtém as características metrológicas
de um instrumento de medição confrontando-o com
um padrão. A característica mais marcante e que não
pode faltar numa calibração é a Incerteza de medição
do instrumento. Sem ela, uma calibração não é considerada
uma calibração. O documento decorrente de uma
calibração é o certificado de calibração. Aferição é uma
palavra em desuso e que não consta no VIM, logo não
devemos utilizá-la. Mas, no passado, era utilizada para
designar verificação (ato de determinar o erro ou a tendência
de um instrumento de medição). E medição é o
ato de obter o valor quantitativo atribuído a uma grandeza.
A metrologia, definida como a ciência das medições,
é de fundamental importância para o processo produtivo,
uma vez que só produzimos medindo e medindo com
confiabilidade metrológica. Numa produção industrial
devemos ter a otimização dos processos. Produzir melhor,
com mais eficiência e a menor custo. Isso só é possível
com processos controlados e calibrados.”
Diferente da metrologia legal, a metrologia industrial
e científica é voluntária e muitas calibrações são baseadas
em normas técnicas, também de caráter voluntário. Mas
deve-se ressaltar a crescente procura e importância dada
aos serviços acreditados de calibração e ensaios.
E vale também ter em mente a diferença entre calibração,
teste e validação!
Uma calibração é um processo que compara um conhecido
(o padrão) contra um desconhecido (o dispositivo
do cliente). Durante o processo de calibração, o deslocamento
entre esses dois dispositivos é quantificado e o
dispositivo do cliente é ajustado de volta à tolerância (se
possível). Uma calibração verdadeira geralmente contém
os dados “conforme encontrado” e “como à esquerda”.
A incerteza de medição deve constar também porque
é um parâmetro, associado ao resultado de uma medição,
que caracteriza a dispersão dos valores que poderiam
razoavelmente ser atribuídos ao mensurando. O
resultado de uma calibração permite a atribuição de valores
ou mensurandos às indicações ou a determinação de
correções em relação às indicações. Uma calibração também
pode determinar outras propriedades metrológicas,
como o efeito das quantidades de influência. O resultado
de uma calibração pode ser gravado em um documento
chamado às vezes de certificado de calibração ou de relatório
de calibração.
Bizarro ressalta que a busca por produtos finais de alta
qualidade e especificações cada vez mais atraentes ao consumidor
final tem motivado industrias a investirem na acreditação
de seus processos de calibração, de forma a obter
maior credibilidade em seus processos produtivos. “Práticas
e procedimentos são padronizados pela ISO/IEC 17025 e
metodologias de cálculos de incerteza de acordo com EA-
4/02 – Expressão da Incerteza de medição na Calibração”.
Newton lembra que existem várias normas que a indústria
em geral precisa atender com seus processos de
fabricação com a calibração de instrumentos. “Dentre as
muitas, podemos citar: ANSI ISA 62.382 – Norma para calibração
em Malhas; Art. 480 – RDC 17 – Informa ações e
necessidades de calibração dos instrumentos. A principal
é a ISO IEC 17.025, onde alguns itens devem ser observados
com atenção por um sistema de gestão metrológica.
A Validação e Verificação/Confirmação de desempenho
- itens 5.4.2 e 5.4.5 da ISO/IEC 17025:2005; Cálculo de
Incerteza - item 5.4.6 da ISO/IEC 17025:2005; Controle
de Qualidade - item 5.9 da ISO/IEC 17025:2005; Conteúdo
de Certificado de Calibração - item 5.10.2 e 5.10.4 e
5.10.7 da ISO/IEC 17025:2005; Capacitação Profissional
– item 4.1.5 e 4.1.6 da ISO/IEC 17025:2005”.
Um teste é a operação técnica que consiste na determinação
de uma ou mais características de um determinado
produto, processo ou serviço de acordo com um
procedimento especificado. E inspeção é uma avaliação
da conformidade, medindo, observando, testando ou avaliando
as características relevantes, atividade como medir,
examinar, testar ou avaliar uma ou mais características de
uma entidade e comparar os resultados com os requisitos
especificados, a fim de determinar se a conformidade é
alcançada para cada característica.
A certificação é um procedimento pelo qual um laboratório
interno ou externo fornece garantias escritas de
que um produto, processo ou serviço está em conformidade
com os requisitos especificados. A verificação é uma
conformação por exame e fornecimento de provas objetivas
de que os requisitos especificados foram cumpridos.
E a validação é a confirmação por exame e fornecimento
de provas objetivas de que os requisitos específicos para
um uso específico previsto estão preenchidos.
No Brasil, as redes de metrologia tiveram como base
o programa de Tecnologia Industrial Básica (TIB), cujo objetivo
foi organizar, expandir e melhorar a infraestrutura
tecnológica necessária a uma indústria moderna ante a
abertura de mercados. Em países cujo idioma é o inglês,
pode-se encontrar a denominação MSTQ –Metrology,
Standardization, Testing and Quality management.
Apesar de, na origem histórica, essas disciplinas serem
relativamente independentes, um dos motivos para
a construção do conceito da TIB foi o de proporcionar a
consistência e a articulação dessas ferramentas entre si
com o propósito de serem utilizadas de maneira eficiente.
E, de fato, medição, normalização, ensaios e gestão da
qualidade estão direcionados aos produtos e processos.
O Brasil é um dos países cujo sistema de TIB está integrado
em uma mesma estrutura, o Sistema Nacional de Metrologia,
Normalização e Qualidade Industrial (Sinmetro)
e assim, o desenvolvimento da infraestrutura tecnológica
tem dado suporte às atividades produtivas.
De acordo pesquisa da Marketsandmarkets sobre
o “Mercado de serviços de calibração por segmentos de
serviço (elétrico, mecânico, físico / dimensional, termodinâmico),
por tipo (laboratórios internos, OEM, serviços
de terceiros), por indústria e geografia de usuários finais
- Previsão Global para 2013 - 2020 “, o mercado total foi
avaliado em US$ 3.410,00 milhões em 2013 e deve atingir
US$ 5.580,00 milhões até 2020, com um crescimento de
6.99% entre 2014 e 2020. Outro levantamento mostra que
o mercado global para serviços de calibração deve chegar
a US$7,4 bilhões até 2022, impulsionado pela crescente
adoção de metrologia na fabricação.
Pode-se ver no dia a dia que a calibração vem crescendo
apesar da turbulência econômica em todo o mundo
– uma abordagem útil quando as empresas querem
maximizar a produção global mantendo a infraestrutura
existente nas melhores condições, com foco na manutenção
preventiva e preditiva.
O professor Alexandre acredita que a consciência
da importância da metrologia nas indústrias vem crescendo
cada vez mais, os processos e sistemas de medição,
a utilização e analise de certificados de calibração, bem
como melhores técnicas de medição, mais confiáveis e
consequentemente mais criteriosas do ponto de vista
metrológico vem se ampliando. “No momento, devemos
investir mais na formação de recursos humanos em metrologia.
A Sociedade Brasileira de Metrologia, na qual
faço parte, está elaborando um projeto juntamente com
o Mackenzie para oferecer em 2018 um curso de especialização
a distância em metrologia. Nosso objetivo é
disseminar a cultura metrológica formando, neste caso,
especialistas em metrologia”.
Segundo Newton Bastos, no Brasil, a inserção da calibração
automática está crescendo face a demanda por redução
de custos e agilidade no processo de calibração; internacionalmente,
muitas empresas já atuam neste mercado.
Os cenários se multiplicam e torna-se mais complexo
compreender as consequências das mudanças para os
fabricantes de tecnologia de medição industrial. Porque o
futuro se desenrola em ambientes de maior risco e incerteza
e, para vencer neste ambiente, fabricantes e usuários
precisam de novo e maior rigor analítico. |
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