Revista Controle & Instrumentação – Edição nº 162– 2010

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Ponto de inflexão


O diretor de assuntos estratégicos da Emerson, Peter Zornio, resume a necessidade de um gerenciamento de ativos através do desejo que os engenheiros têm de tomar boas decisões que vão acabar impactando as atividades no chão de fábrica, no campo. Só que esse campo é composto de milhares de equipamentos e instrumentos que trabalham 24 horas por dia, sete dias por semana, por anos a fio! Ou seja, numa mesma planta, várias visões diferentes têm que se casar de maneira harmoniosa para que o negócio prospere.

E, de fato, a visão da operação e da manutenção não é a mesma porque cada um tem mais a visão de usuário para aqueles detalhes específicos que mais incomodam. "Do ponto de vista da automação, acho que muitos na manutenção ainda não têm a visão completa do potencial da automação de um sistema de gerenciamento de ativos. Para se entender melhor, é só lembrar que há alguns anos os engenheiros de processo não sabiam do potencial de um sistema de informação; todo mundo planilhava, fazia relatório em Excel sobre o que aconteceu no mês anterior!" resume Márcia Silva, gerente de automação da diretoria de empreendimentos da Braskem. Os processos e sistemas estão cada vez mais complexos e com mais inteligência envolvida; é preciso a utilização de ferramentas adequadas e a disponibilidade de profissionais preparados para se desenvolver e crescer com essas tecnologias. "Estamos em uma fase de formação de novos perfis de profissional com uma capacitação diferenciada para atender aos avanços de tecnologia nessa área.

Não se pode esperar por muito mais tempo. Quando comecei a trabalhar, entregávamos um relatório para descrever um evento que aconteceu, mas não sabíamos explicar exatamente todas as causas dos problemas; tínhamos que esperar uma próxima oportunidade para fazermos mais uma coleta de informações e validarmos nossas avaliações. Se a empresa fizer um levantamento hoje, de quanto a informação e os históricos nos permitem evitar muitos investimentos e manutenções, ela verificará que o retorno é muito grande", lembra Márcia Fabiano Camargo, da Canexus planta de Calgary -, ressalta que os dados providos por um sistema de gerenciamento de ativos são mesmo vistos de maneiras diferentes pelos diversos usuários porque se para uma gerência é importante saber o final de vida de um equipamento e fazer o planejamento de investimentos para os próximos anos, para o pessoal da manutenção é importante saber o momento exato para uma intervenção e realizar uma manutenção programada em um determinado equipamento. "Já para o pessoal da operação uma curva de tendência do equipamento monitorado permite tomar uma decisão de reajustes no processo ou até mesmo fazer um alinhamento para o equipamento reserva devido a perda de eficiência do equipamento que está em operação.

Quando nem é possível ter um equipamento reserva, uma limpeza programada em determinada parte do processo pode ser o suficiente para que o equipamento retorne a curva de alto rendimento". "O objetivo da gestão de ativos é maximizar o TVO (Total Value Owner- ship) referente a diferença entre os benefícios (aumento de produção e de rendimento) e os custos (de instalação – CAPEX, operação e manutenção – OPEX) de um ativo durante todo o seu ciclo de vida. O foco na simples redução do CAPEX é ainda muito forte nas empresas em geral. A redução do OPEX, embora várias vezes maior que a do CAPEX, não é considerada com a devida atenção nas discussões de novos investimentos", lembra Márcia.

Para a executiva/engenheira, o gerenciamento automatizado dos ativos deveria estar incluído no "kit básico de automação"; não se pode esperar por melhores resultados e melhoria no desempenho operacional e do negócio sem informação. "Na Braskem e acredito na maioria das empresas, não existe engenheiro ou operador que não entenda que essas informações têm que vir em qualquer tipo de projeto – seja uma planta nova (greenfield), modificação de uma planta existente (brownfield) ou uma pequena atualização. A Braskem já colocou alguns módulos de automação de gerenciamento de ativos em todos os SDCDs. Só que muitos ainda não estão integrados com os outros sistemas de automação. "Temos apoiado as áreas industriais na prospecção e disponibilização de ferramentas que su- portem a execução dos trabalhos de manutenção de forma mais preventiva e preditiva possível, com o objetivo de redução das ações corretivas".

A área de automação é responsável pela prospecção e seleção das tecnologias, implementação, melhorias e suporte dessas aplicações que apoiarão principalmente as equipes de manutenção e confiabilidade a empresariar suas áreas com informações que vão impactar em redução de seus custos e na melhoria no desempenho operacional. Esse trabalho é detalhado no PDA - Plano Diretor de Automação da Braskem, que contem o plano estratégico para implantação dessa e de todas as tecnologias de automação que agregam valor ao negócio da organização.

Para Fabiano, da Canexus, o "sonho de consumo" seria um sistema de gerenciamento de ativos fornecer com mais precisão o momento exato de uma intervenção pela equipe de manutenção, evitando paradas não programadas, permitindo uma operação em condição ótima de rendimento e tudo gerando informação para os níveis superiores pertinentes. "A Canexus utiliza diversos sistemas de gerenciamento de ativos de acordo com a necessidade de cada equipamento.

Por exemplo, em algumas unidades toda a instrumentação é monitorada em um software dedicado para instrumentos e válvulas e alguns softwares específicos para monitoração de compressores. Outras ferramentas estão em desenvolvimento como piloto para que uma vez comprovada sua eficiência, sejam então implementadas nos demais sites". A Braskem utiliza hoje o Meridium – sistema de gestão da manutenção (CMMS) onde estão classificados todos seus equipamentos críticos, gestão da ordem de serviços para os técnicos, etc. Contudo, ele ainda não está integrado em linha aos dados dos equipamentos e instrumentos das plantas e nem tem seu fluxo de trabalho (workflow) automatizado.

Nos grandes players mundiais, o gerenciamento automatizado de ativos já é uma realidade, onde a ferramenta, por exemplo, já é integrada com os sistemas de gestão dos ativos da camada industrial. A Braskem ainda não chegou a esse estágio, mas já está em fase de implementação de subsistemas que vão suportar essa gestão integrada.

O "sonho de consumo" da Braskem é o mesmo de qualquer apaixonado por um serviço bem feito e pela tecnologia: ter um sistema que verifique se, por exemplo, uma válvula precisa ser trocada e mande automaticamente uma ordem de serviço para o Meridium dizendo que dali a tanto tempo deve ser programada a intervenção na válvula x, com problema y e sugestões de solução já especificadas. "Esse é o grande ganho, fazer o acompanhamento preventivo. Essa é a demanda agora que todos têm dos seus softwares de gerenciamento de ativos", comenta Márcia.

Cláudio Fayad, diretor de sistemas da Emerson no Brasil, frisa que o AMS já fala com o Meridium. "Inclusive a última versão do mesmo traz o AMS Asset Performance Manager, que traz uma parte do Meridium embutida. O Meridium seria o CMMS, que faria toda a programação de manutenção e a documentação, carregando as rotas nos hand-helds". A Braskem já vê a importância e a necessidade desses sistemas e já vem investindo. Entretanto, como as plantas são muito antigas e diferentes, ainda existe um grande passivo principalmente na coleta de dados dos equipamentos.

É preciso fazer um investimento significativo na instrumentação de campo e na automatização da coleta dos dados que vão alimentar esses sistemas. O passivo de instrumentos é mesmo grande, são plantas de 30 anos! Um forno ou uma coluna de destilação eram projetados há uns 15 anos atrás com recursos muito limitados em termos de instrumentação; hoje eles possuem recursos de medição garantindo o seu monitoramento cada vez mais detalhado. "Estamos aos poucos mudando as plantas antigas onde aproveitamos os projetos de "revamp" ou de melhoria para incluir a sua atualização tecnológica com sistemas de informação, gestão de alarmes e gestão de ativos ".

Então o objetivo é comprar os equipamentos já embutidos com tecnologias atualizadas de automação, inclusive o sistema de gestão de ativos, para não ter que investir depois. "É preciso incluir essa tecnologia como default nos equipamentos mais importantes e críticos das plantas industriais. E aqui na Braskem eles estão muito bem identificados, pois ela possui uma diretriz bem clara definida pelo seu Manual de Gestão de Manutenção, de classificação, priorização e definição de todas as informações necessárias para um atendimento adequado ao seu nível de criticidade".

As plantas novas de Eteno Verde e de Polipropileno de Paulínia, por exemplo, seguiram esse objetivo. Elas nasceram atualizadas com o melhor em termos de tecnologia de automação: CCMs inteligentes, tecnologia de comunicação com o campo via rede digital (fieldbus), sistemas de informação, de alarmes e de gestão de ativos. Hoje a Braskem pode ligar um sistema de gerenciamento de ativos com a instrumentação através da rede "fieldbus" ou através de comunicação Hart. A planta de Polipropileno da Paulínia, por exemplo, possui uma arquitetura composta de SDCD que se comunica com os instrumentos de campo dessa maneira sem a necessidade de equipamentos adicionais tais como multiplexadores ou cabos.

O sistema instrumentado de segurança também tem interface com a instrumentação de campo via comunicação Hart e se integra ao gerenciamento de ativos de instrumentação, aumentando a sua confiabilidade. Além disso, a planta possui monitoramento "on line" de vibrações dos equipamentos rotativos. Heitor H Chaya, engenheiro de automação e Alexandre A Silva, técnico sênior de inspeção desta unidade publicaram um trabalho bem interessante sobre o uso do AMS nas válvulas de controle e quantificaram a redução de custos de manutenção por conta desse acompanhamento.

A Braskem possui uma central de serviços de manutenção que atende todas suas unidades no Pólo Petroquímico de Camaçari. O seu ob- jetivo é trabalhar de forma cada vez mais preditiva como vem acontecendo na unidade de Paulínia, porém com foco na gestão automatizada de ativos para equipamentos mecânicos e de processos críticos. Segundo a HPI market data 2003 Gulf Publish Company, mais de um quarto dos custos de manutenção são colocados em instrumentos e válvulas, seguidos de equipamentos mecânicos e de processo. Os softwares de gerenciamento de ativos, contudo, ainda estão voltados principalmente para transmissores e válvulas de controle, embora alguns possuam suítes específicas para gerencia- mento de bombas e compressores. "Ninguém melhor do que o fabricante de um equipamento para lhe fornecer um sistema de geren- ciamento do mesmo.

Mas o que normalmente vemos são empresas querendo vender serviços com sistemas genéricos e que muitas vezes não se aplicam aos equipamentos a serem monitorados na sua totalidade. Por isso na escolha de um sistema de gerenciamento de ativos é sempre interessante identificar o know how do fabricante sobre o sistema de e casos reais de monitoração do equipamento em questão", lembra Fabiano da Canexus.

Márcia: "gerenciamento de ativos tem que vir no
kit básico de automação"

"Os fornecedores dessa tecnologia precisam ainda se organizar para que além de vender o hardware/software, aportem também a capacitação, o serviço e o atendimento necessários," comenta Márcia. O conjunto de software da Emerson, por exemplo, é um dos mais completos, constituído de quatro pacotes: Device Manager: voltado para transmissores e válvulas; Machinery Manager: para máquinas rotativas; Performance Monitor e Advisor: para equipamentos de processo e Asset Performance Manager, que integra tudo. Segundo a empresa, ele é dividido porque cada tipo de equipamento tem formas diferentes de ser diagnosticado e muitas vezes a manutenção é feita por pessoas diferentes. O sistema de Gestão de Ativos faz parte da camada MES - Manufacturing Execution Systems que na Braskem é responsabilidade da área de automação.

"A camada MES é o conjunto de aplicações que integra e automatiza de maneira coordenada o fluxo de informações e o fluxo de trabalho entre a área industrial e a área corporativa. Com a importância da atividade de empresariamento e da aproximação da camada industrial ao business através do MES, estamos cada vez mais próximos da camada corporativa e cada vez mais alinhados com a TI", ressalta Márcia. Apesar das equipes da Braskem trabalharem com terminologias e tecnologias cada vez mais convergentes, Márcia diferencia muito TI de TA pelas suas preocupações e impactos sobre cada um dos sistemas sob sua responsabilidade.

Por exemplo, se houver uma necessidade de atualização de um aplicativo da área de TI, a indisponibilidade durante um final de semana ou um turno não traz tanto impacto na rede corporativa como uma aplicação rodando em uma área industrial. A automação trabalha com sistemas com altíssima disponibilidade garantindo confiabilidade e continuidade operacional! Mas a integração traz também convergência de preocupações tais como a segurança da informação industrial. Esta se torna mais complexa devido às particularidades dos sistemas de automação com tempos de atualização dos softwares com dinâmicas bem diferentes dos sistemas corporativos.

Essa ligação mais íntima deve levar a um maior conhecimento do dia a dia industrial para os "escovadores de bits corporativos". Por sua vez, a camada MES, ao enviar dados, transformá-los em informações de negócios e trazê-las de volta ao operador permitirá que este, por exemplo, comece a pensar em como cada variável pode impactar no resultado da empresa e consequentemente no bônus que ele vai receber no final do ano.

"A planta ideal será aquela com o mínimo de intervenções. O operador vai ser um profissional com maior visão de negócios, inserindo-se nos processos industriais para analisar as informações e o impacto de cada ação na empresa como um todo e para usar aquilo que só ele tem: o conhecimento da operação da planta, evoluindo para o funcionamento do negócio. Chegaremos lá com tecnologia e capacitação", finaliza Márcia.


 
 
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