Revista Controle & Instrumentação – Edição nº 158– 2010

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Siderurgia retoma investimentos



Durante a 21ª edição do Congresso Brasileiro do Aço, que aconteceu em abril, a posição desse segmento mostrou-se otimista. O IABr-Instituto Aço Brasil, antigo Instituto Brasileiro de Siderurgia, divul- gou que a produção brasileira de aço bruto no primeiro trimestre de 2010 foi de 8 milhões de toneladas, representando alta de 59,3% em relação ao mesmo período no ano passado e queda de 1,1% quando comparada com o trimestre imediatamente anterior. Mas o consumo aparente nacional de produtos siderúrgicos em maio foi de 2,5 milhões de toneladas, totalizando 11 milhões de toneladas em 2010 – valores que representaram elevação de 63,6% e 70,5%, respectivamente, em relação a igual período do ano anterior. A margem de lucro do setor siderúrgico dificilmente voltará a ser como antes: 30% a 40% não fazem mais parte da realidade.

Se entre janeiro e setembro de 2009, a receita líquida do setor siderúrgico caiu em relação a 2008 32%, o lucro bruto sofreu uma queda de 58% e a margem Ebitda ficou em torno de 22%, ao invés dos 36%. Para algumas empresas, o tombo foi de 38% para 12%. Vale, Samarco, Arcelor Mittal... Com menor margem, mais realistas, todas as empresas voltaram a investir. A Samarco tem projeto para a quarta usina de pelotização, em Ubu/Anchieta, no Espírito Santo, com capacidade de 8,25 milhões t/a. A Vale está trabalhando na oitava usi- na de pelotização, unidade que produzirá 7,5 milhões t/a, vai consumir US$ 636 milhões e deve estar concluída até o final de 2012.

Na Arcelor, o primeiro alto-forno da siderúrgica brasileira, o mais antigo do mundo em operação ininterrupta, será desligado em abril de 2011 para reforma total e traz previsão de investimento de R$ 100 milhões. A Arcelor também anunciou a expansão de sua usina integrada em João Monlevade, MG, com a construção de um segundo alto-forno: a companhia tem um plano de investimento de US$5 bilhões no país para os próximos três a quatro anos, segundo divulgou no Congresso do Aço, em abril. Os resultados confirmam a visão do setor ainda em recuperação depois da crise econômica internacional.

A previsão de produção para este ano é de 33,2 milhões de toneladas de aço, 25,1% a mais do que no ano passado. E as previsões são boas, demonstrando acerto das ações do Governo para estimular a retomada do crescimento e equacionar problemas de tributação, logística, burocracia. Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do IABr, afirmou durante aquele Congresso que "PIB, consumo de aço e desenvolvimento econômico são indissociáveis. E estamos com o consumo per capita estagnado há 26 anos, precisamos crescer". Flávio Azevedo, da V&M do Brasil e ex-presidente do IABr, acredita que o crescimento sustentado fará o país ultrapassar a barreira dos cerca de 100 kg/hab/ano de consumo per capita rumo aos cerca de 300 a 400 kg per capita que caracterizam as economias desenvolvidas. No ano passado, algumas siderúrgicas "desligaram" o alto forno.

Com a crise econômica de 2008, mesmo a Vale decidiu paralisar a produção de algumas de suas minas em Minas Gerais, mas, com a retomada da demanda internacional, em especial da China, essas minas voltaram a produzir. Entre 2003 e 2010, os investimentos pú- blicos e privados em mineração devem se aproximar dos R$ 30,5 bilhões em 51 projetos. O setor deverá receber o maior aporte de recursos nesse período, segundo dados do Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais (Indi). O volume de aplicações corresponde a 15% do total R$ 203,2 bilhões, que, somado à siderurgia, atinge 29% do total. No ano passado, a Vale anunciou o investimento de R$ 9,5 bilhões em Minas Gerais nos projetos Apolo, Itabiritos e Vargem Grande.

Altos fornos religados, os projetos de expansão previstos para o setor envolvem R$ 71,6 bilhões, que devem elevar a capacidade de produção de aço do país para cerca de 77 milhões de toneladas até 2016. Até mesmo a Paranapanema anunciou investimentos para retomar o seu lugar de maior produtora de cobre do país é um programa que prevê aportes de R$ 1 bilhão até 2013, e deverá dotar suas fábricas de tecnologias modernas para ter custos mais competitivos e oferecer novos produtos.

Segundo o presidente da Paranapanema, Luiz Antônio Ferraz Júnior, depois do longo período de recuperação judicial iniciado em 2002, a empresa está saneada e disposta a recuperar a sua produção, com investimentos de R$ 300 milhões em uma mina de cobre em Santa Catarina, um aporte de R$ 300 milhões para ampliar a sua unidade na Bahia; R$ 150 milhões para modernizar as instalações de sua fábrica em Santo André, no ABC Paulista; e outro investimento, de R$ 50 milhões, na divisão Eluma. O programa de investimentos da empresa, que prevê aporte de R$ 1 bilhão até 2013, dará a suas fábricas tecnologias modernas e custos mais competitivos, fazendo com que o Grupo Paranapanema salte de 26 mil para uma capacidade de 66 mil toneladas por ano e obtenha receita de US$ 160 milhões a partir de 2012.

Depois dos adiamentos decorrentes da crise econômica internacional, a indústria brasileira do aço decidiu manter os projetos greenfield para construção de usinas focadas na produção de semi-acabados para exportação. Durante o Congresso Brasileiro do Aço, levantou-se que o investimento para minério e carvão é da ordem de US$ 1 a 1,5 para US$ 1 de receita; no caso do aço é de US$ 2 a 2,5 para US$ 1 de receita. Pontuou-se também que o custo de investimento numa planta greenfield está na ordem de US$ 1.200/t e que a taxa interna de retorno, atualmente da ordem de 6%, não compensa o investimento: o Brasil ficou caro.

Nos últimos cinco anos, o câmbio foi valorizado em 32% para um IGP de 22 % e tributação de 16% sobre o investimento! Uma das conclusões mais importantes daquele Congresso é que o setor tem como certo que o Modelo Ásia não deve servir de referência para a economia brasileira. Segundo tese de doutorado "Viabilidade de proje- tos de investimento em equipamentos com tecnologia avançada de manufatura: Estudo de múltiplos casos na siderurgia brasileira", de Carlos Shinoda (2008/USP), o uso do payback para tomada de decisão de investimento de capital é rejeitado quase unanimemente pela co- munidade acadêmica, mas amplamente utilizado pela indústria e o payback aceitável varia de acordo com o setor e não há pesquisas sobre isso no Brasil.

É rara a divulgação do payback de um investimento e pode-se citar o comunicado da CSN em 2006, de que um investimento teria payback inferior a cinco anos. As principais críticas acadêmicas ao payback como critério para a decisão de investimento devem-se ao fato de ele não levar em conta o valor do dinheiro no tempo e não considerar a importância dos fluxos de caixa que ocorrem além desse período. O principal apelo para o uso do payback está no fato de mostrar ao gestor o quão rapidamente ele pode confirmar a boa decisão que tomou.

As empresas usam VPL – Valor Presente Líquido, TIR- Taxa Interna de Retorno e payback, o mais conhecido, para a avaliação da viabilidade dos projetos de investimento. O payback descontado que considera o valor do dinheiro ao longo do tempo não é indicador decisivo, isoladamente, para a tomada de decisão, mas, a experiência na condução de análise de viabilidade detectada na tese mostra que o tempo de cinco anos para uma ponte rolante e equipamentos produtivos auxiliares como o sopro combinado é considerado bom. Para equipamentos maiores, o payback sobe para 10 a 15 anos. Mas Shinoda também ressalta que alguns investimentos precisam ser feitos para a entrada em certos mercado ainda que não tenham retorno aceitável.

Em seu trabalho, Shinoda sugere um modelo baseado em lógica fuzzy para complementar a decisão sobre investimentos no setor siderúrgico. E os dados que o trabalho consegue são bem próximos à realidade, pois considera que, se um novo player pretendesse implantar uma usina siderúrgica integrada a coque, por exemplo, teria que decidir a rota tecnológica, se faria usinas integradas ou mini-mills; o investimento necessário por tonelada/ano na primeira rota seria su- perior a US$ 900 nas primeiras e entre US$ 500 e US$ 600 na segunda. Shinoda lembra que as características das plantas siderúrgicas não permitem fácil adaptação ao mercado – o investimento precisa ser bem medido.


 
Alta performance na modernização

Transformar demanda em solução e alta performance é uma necessidade de toda planta siderúrgica no Brasil. Um bom exemplo foi o trabalho concluído agora pela Converteam Brasil: uma reforma do sistema de automação e controle de laminação e resfriamento de ti- ras a quente. O trabalho exigia uma execução complexa, experiência, conhecimento global e expertise de ponta. A laminação de tiras à quente é um processo de conformação mecânica do aço, que consiste em modificar a seção transversal do metal. Essa conformação se dá pela passagem do tarugo entre dois cilindros com geratriz retilínea laminação de produtos planos que comprimem a espessura e a largura da placa através dos chamados passes de laminação.

É um dos processos de transformação mecânica de metais mais utilizados, pois, apresenta alta produtividade e um controle dimensional do produto acabado que pode ser bastante preciso. Na laminação o material é submetido a tensões compressivas elevadas, resultantes da ação de prensagem dos rolos e a tensões cisalhantes superficiais, resultantes do atrito entre os rolos e o material. As forças de atrito são também responsáveis pelo ato de "puxar" o metal para dentro dos cilindros. A redução ou desbaste inicial dos lingotes em blocos, tarugos ou placas é realizado e depois dessa fase segue-se uma nova etapa de laminação à quente para transformar o produto em tiras a quente.

O sistema de automação e controle de um processo de laminação é complexo, contemplando aplicações de alta tecnologia em termos de hardware e software, bem como o desenvolvimento da modelagem matemática, tracking do processo de laminação etc. "O trabalho exigia uma equipe de engenharia com domínio da tecnologia aplicada e pleno conhecimento do processo de laminação. A partir destas premissas o cliente optou pela Converteam", comenta Alex Alvarenga, diretor de Operações da Converteam Brasil. Alex explica que nesse projeto, o processo de laminação existente possuía boa capacidade de produção e qualidade, mas o sistema de controle estava completamente obsoleto apresentando muitas dificuldades de reposição de peças sobressalentes para manutenção do sistema em operação.

Este laminador é responsável pela maior parte da produção da planta, tornando o sucesso do projeto vital para a manutenção dos níveis de produção. O escopo de fornecimento de equipamentos contemplou todo o hardware para o sistema de automação baseado na plataforma da Converteam HPC – High Performance Controller, com características de desempenho técnico requeridos para o controle do processo, além de painéis de remotas I/O contemplando aproximadamente 6.500 pontos digitais e analógicos, painéis de comando e auxiliares; conversores CC, mesas e postos de comando local, reforma de cabines de operação, UPS, sistema ITV; estações de supervisão e engenharia; computadores para sistema de supervisão, servidores de banco de dados, dispositivos de rede de comunicação, impressoras, licenças de software, mobiliários, instrumentos e sensores, cabos de controle e sobressalentes.

Também contemplou o levantamento de dados em campo, desenvolvimento de toda engenharia do sistema de automação e controle, testes de plataforma, treinamentos, supervisão de montagem, comissionamento incluindo testes à frio, testes à quente, testes de desempenho e operação assistida. Estas atividades de engenharia foram desenvolvidas pela equipe do Brasil, com apoio de profissionais da Converteam de Rugby, no Reino Unido, detentores da tecnologia do processo.

A implementação deste projeto em campo consistiu em migrações parciais do sistema de automação e controle realizadas em pequenas etapas, aproveitando as paradas programadas semanais de manutenção, sem interrupção da produção, com a filosofia de operar e controlar o processo pelo novo sistema de automação, bem com o permitir o retorno ao sistema existente após os testes necessários do novo sistema. A transferência do controle e operação para o novo sistema de automação ocorreu durante uma única parada geral de um dia de duração. Todo o planejamento e desenvolvimento da engenharia e do comissionamento foram realizados baseado nesta es- tratégia de implantação.

A estratégia de implantação sem paradas de produção é uma inovação proposta pela Converteam, porque não é necessário interromper a produção exclusivamente para troca do sistema. O sistema de automação da Converteam foi instalado como um gateway entre o sistema existente e o processo. O sistema faz a aquisição de todas as entradas do processo e saídas do sistema existente e atua suas saídas para o sistema existente repassando as entradas do processo - e para o processo.

Isto permite a comparação entre as respostas do sistema existente aplicadas no processo e as respostas do sistema. Por meio de seleção via software, é realizada a comutação entre o sistema que atuará no processo, o sistema existente ou o novo. À medida que as respostas do sistema da Converteam eram sintonizadas para o processo era realizada a migração para o novo sistema sem distúrbios na produção.

Para Alex, o sucesso deste projeto está baseado em alguns aspectos e requisitos como a utilização de tecnologia adequada aos requisitos de controle para o processo de laminação; engenharia do sistema de automação e controle desenvolvido por profissionais capacitados com conhecimento e domínio do processo de laminação; excelente interface entre equipes do cliente, Converteam Brasil e Reino Unido com alinhamento total em relação aos objetivos e desafios para execução do projeto; aplicação dos conceitos e diretrizes e padrão da Converteam alinhados com a filosofia de gerenciamento de projetos, com destaque para a atuação do respectivo gerente do projeto e equipe do projeto; planejamento detalhado de todas as atividades de engenharia e migrações do sistema de automação em campo, com um contínuo acompanhamento e controle da realização de todas as atividades.

 
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