Revista Controle & Instrumentação – Edição nº 148 – 2009

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Siderurgia vive momento histórico

Há um ano, o setor siderúrgico se encontrava no Rio de Janeiro para discutir tendências e comemorar o excelente resultado que vinha alcançando. A previsão do IBS – Instituto Brasileiro de Siderurgia à época, era de que as vendas de produtos siderúrgicos para o mercado externo em 2008 aumentassem em 15,9% na comparação com 2007, mas as maiores expectativas de aquecimento eram para o mercado interno, onde o setor esperava crescer 13,1% em comparação com o ano anterior. Tudo isso puxado pelos setores de construção civil, bens de capital e automotivo.

Em junho do ano passado, a expectativa era de que a capacidade instalada de produção do setor se elevasse de 41 milhões para 63 milhões de toneladas até 2013, com investimentos de mais de US$ 30 bilhões.

O setor tinha condições plenas de atender o mercado interno e ainda ampliar sua participação no comércio exterior. As empresas brasileiras de siderurgia estavam inseridas na consolidação da siderurgia mundial e os temas há um ano eram expansão no mercado interno, as perspectivas no cenário internacional, a sustentabilidade do crescimento, a legislação ambiental – com o problema da superposição de poderes (União, estado e município) –, a necessidade de investimento em infra-estrutura, como atender melhor ao crescimento da demanda interna e não perder para a China.

O setor estava antenado. Nada fazia prever o choque mundial do segundo semestre de 2008. Hoje, a situação do setor poderia ficar ainda mais complicada se as alíquotas para importação não tivessem sido aumentadas - desde 2005 as alíquotas foram zeradas por pressão de consumidores que alegavam aumento de preços e problemas de abastecimento mas, até que a crise internacional atingisse a siderurgia brasileira, praticamente não houve importações, elas se intensificaram apenas quando Usiminas, CSN, ArcelorMittal Tubarão e Gerdau Açominas estabeleceram a condição de trabalhar com metade dos seus altos-fornos parados - desde dezembro. O cenário é que a demanda interna despencou e as exportações caíram drasticamente.

Então, o índice de ocupação ociosa varia de 35% a 50% e nas usinas movidas a fornos elétricos também foi reduzida a capacidade de produção - em abril deste ano, o setor siderúrgico brasileiro produziu 42% a menos que no mesmo mês de 2008 e ficou no mesmo nível de março. Segundo o IBS, historicamente, é a primeira vez que isso acontece no setor pois em outras crises as usinas compensavam a retração interna com maior exportação, ainda que com margens menores. Por isso, o setor defendia a tese de que toda a cadeia produtiva do aço deve estar protegida numa crise pois não adianta dar incentivos para a produção de automóveis e eletrodomésticos, manter 35% de alíquota para importação de autopeças e insistir com alíquota zero para o aço. Países da União Européia, EUA, Índia, Rússia e Turquia já adotaram medidas de proteção de seus mercados.

Além do desemprego que a situação gera, vários projetos - com exceção daqueles que estavam em estágio avançado - foram postergados e os investimentos ficaram comprometidos porque visavam dobrar o tamanho do setor – que atualmente é de 41 milhões de toneladas e a produção pode chegar a atingir 26 milhões de toneladas este ano, o que significa uma retração de 25%. Mas, se alguns investimentos da CSN, ArcelorMittal e Gerdau foram congelados, a Usiminas manteve a expansão da linha de chapa grossa em Ipatinga, do laminador de tiras a quente e a nova linha de galvanizado. A Vale divulgou investimentos também. Projetos greenfield maiores sempre sofrem mais nessas circunstâncias, como a nova usina de aço ao lado da já existente da Usiminas, em Ipatinga, que espera uma retomada – foi postergada para depois de 2013, até segunda ordem.

As grandes questões, contudo, continuam na pauta dos dirigentes do setor, que acreditam nas tendências de verticalização e consolidação. Exemplo disso é a preocupação da Vale com o combustível que move sua logística - para que a siderurgia seja competitiva na cadeia, é preciso verticalizar e reduzir o impacto dos custos da matéria-prima (minério e carvão) de alguma forma. E a logística afeta de fato a competitividade de qualquer setor.

Chapas versus máquinas

A Abimaq - Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos manifestou reprovação em relação ao aumento das tarifas de importação do Aço. De acordo com José Velloso, diretor de mercado interno e vice-presidente da entidade, a medida era desnecessária e prejudicial ao país e o governo deveria ter ouvido toda a cadeia produtiva antes de adotar esse aumento.

A Abimaq defende que não deveria haver imposto de importação sobre as matérias-primas e questiona porque o aço nacional é mais caro do que no resto do mundo. Velloso afirma ainda que o setor de máquinas e equipamentos tem muita dificuldade em importar aço pois é composto por 4500 empresas, em sua maioria de pequeno porte que, individualmente, têm consumo baixo para justificar a importação.

Além disso, o vice-presidente da Abimaq cita as diferenças entre as tarifas de importação de máquinas e as de matérias-primas como um exemplo da desvantagem sofrida pelo setor de máquinas e equipamentos. “A tarifa média de importação de máquinas é de 6%, e o aço tem maior proteção do que o produto acabado”, afirma, acrescentando que o governo deveria incentivar a exportação de produtos manufaturados, que possuem valor agregado e beneficiam toda a cadeia produtiva.


Automação cuida dos ativos em qualquer cenário

Cada setor tem uma velocidade de processamento e, na Siderurgia, o processo de produção é em tempo real, exigindo dos sistemas de automação respostas rápidas; já no setor de mineração, o processo segue em batch, então possui tempos mais longos, de acordo com a velocidade de cada processo. A ABM – Associação Brasileira de Metalurgia tem, entre suas divisões técnicas, uma específica para debater a Automação e a Tecnologia de Informação, divisão coordenada pelo engenheiro Resilene Mansur, da Gerência de Sistemas de Operações Industriais da Diretoria de Informática da CSN. Ele fala um pouco sobre a importância da automação nesse setor, lembrando que é preciso estar sempre atendendo as demandas do mercado, que exige maior qualidade e menos defeitos. E a Automação busca ajudar com produtos, equipamentos e tecnologia de primeira linha, com tempos de resposta rápidos, de manutenção garantida, suporte local e menor custo. Como lembra Resilene, hoje não se pode pensar em qualquer projeto industrial sem que a automação esteja incluída, ela é parte intrínseca de qualquer solução, pois com a busca de maior assertividade e garantia de qualidade, a automação se tornou peça imprescindível.

Cada empresa tem a sua particularidade, mas de forma geral um comitê executivo é quem decide sobre os investimentos prioritários que serão realizados – e há muitos nichos na automação para otimizações: coleta dos dados, processamento de modelos matemáticos e de controle das variáveis de processo, geração das informações para acompanhamento com tomadas de decisão e disponibilização destas informações para que os sistemas corporativos gerenciem consumo, estoques, custos de produção e a efetividade dos processos/equipamentos.

No Brasil, segundo Resilene, a automação nas siderúrgicas está num grau de boa atualização ainda que existam linhas de produção com controles obsoletos e que necessitam de upgrades. Todas as empresas do setor estão buscando sempre modernizar seus controles para estar Up to date com a necessidade da qualidade que o mercado exige, além do inegável impacto que a manutenção tem sobre as operações – impacto que pode ser mitigado com tecnologias de automação e TI.

De certo que automatizar unidades existentes é mais complexo, pois as empresas estão produzindo e possuem os seus planos de produção já comprometidos para atender os seus clientes – no mais das vezes é como trocar pneu com carro em movimento ainda que as decisões sejam tomadas de reforma a não comprometer os resultados, deixando indisponíveis o mínimo possível de tempo os equipamentos de produção. As implantações greenfields são projetos que nascem do zero, não interferem nas unidades de produção em andamento, mas levam muito mais tempo para dar resultados. Resilene destaca ainda que, em comparação com as empresas do exterior, as brasileiras apresentam um grau de tecnologia melhor do que várias siderúrgicas nos EUA e Leste Europeu, mas são as siderúrgicas japonesas as que possuem o maior nível de automação e tecnológico.

Atualmente está ocorrendo uma evolução muito rápida em termos de tecnologias ligadas a mobilidade e disponibilização das informações para o nível de gestão. Não se pode mais dissociar a Tecnologia da Automação (TA) da Tecnologia da Informação (TI) pois os conceitos de TI já estão muito inseridos em TA. Por exemplo, o mercado fala em Inteligência Operacional, que nada mais é que disponibilizar os dados de processos em informações para tomadas de decisão dos gestores. A segurança dos dados e informações de TA já faz parte do cotidiano das empresas. Os sistemas que estão sendo implementados carregam consigo estruturas de desenvolvimento e banco de dados que antes eram particularidades de TI. Os equipamentos de TA hoje não funcionam se não estiverem em rede e a gestão não se satisfaz mais apenas com as informações consolidada no final do dia; hoje a granularidade das informações é on line. Segurança da informação é um tópico que necessita de mais atenção, pois as falhas no sistema de TI podem prejudicar a TA, uma vez que vem crescendo a comunicação da área corporativa com a área industrial.

O diretor da divisão técnica de Automação da ABM também acredita que a aplicação dos sistemas de Inteligência Artificial (IA) ainda é tímida no Brasil, mesmo que existam casos de sucesso de aplicações em algumas siderúrgicas. Ele também vê ainda com grandes possibilidades na siderúrgica os controles robotizados para aquelas atividades de alto risco operacional e pessoal e outras relacionadas a saúde do empregado como áreas insalubres. O porém seria o custo dos investimentos e a necessidade de mão de obra especializada.

Além da monitoração de gases e efluentes e o controle de consumo de energia, a automação pode contribuir com o meio ambiente – área sensível no setor – utilizando monitores LCD, equipamentos que demandam menos energia, utilização de materiais recicláveis em componentes para montagem de painéis, etc.....

Nesse momento de crise mundial, o objetivo principal de desligar fornos não é somente para economia de energia e sim para não gerar produção de gusa nem estoque de placas desnecessário, pois o produto do Alto Forno, o gusa, não se estoca, é preciso transformá-lo em placas. Enquanto está desligado, monitora-se a temperatura interna, a pressão e a emissão de gases, pois na realidade o Alto Forno fica “abafado”. Resilene esclarece que a decisão de abafar um Alto Forno é uma estratégia de cada empresa que leva em consideração o estoque de matéria prima, estoque de placas, situação e tendência/recuperação do mercado. E que não existem recomendações nem normas para isso.

Ele lembra que o Congresso da ABM, vai discutir o tema “Os desafios e as propostas para o futuro da siderurgia traçados pelo EPSS - Estudo Prospectivo do Setor Siderúrgico”, de13 a 17 de julho, em Belo Horizonte (MG).

 
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