Revista Controle & Instrumentação Edição nº 144 2009
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Wireless |
Wireless está no dia a dia de todos já faz algum tempo. E já existe uma vivência nem sempre satisfatória com a tecnologia – queda de linhas, falta de sinal, etc. O wireless aplicado na indústria recebe um pouco desse estigma, ainda que utilize um princípio totalmente diferente e tenha mais robustez - ele foi pensado, inicialmente, para ser aplicado em pontos de difícil acesso para o ser humano, onde os custos com infra-estrutura e mão de obra são proibitivos e até mesmo para aumentar a segurança (evitando a ronda dos operadores pela planta).
Podemos separar as aplicações wireless em três tipos:
- Solução Global: que utiliza a comunicação via satélite GSM/GPRS e as transmissões são realizadas com longos intervalos (cerca de 3 a 4 vezes ao dia apenas);
- Próximas da Planta: mais conhecida como solução híbrida e tem a finalidade de trocar dados entre estações remotas e a base. Nesse caso são utilizados equipamentos convencionais (cabeados) nas estações remotas e os dados são enviados via rádio de longo alcance para uma estação base, onde há um rádio “central” capaz de receber os dados remotos.
Leonel Bertuso, Gerente para PlantWeb & Wireless da Emerson, lembra que a grande novidade dos últimos anos é que os próprios transmissores já têm rádio e antena embutidos e que utilizam da banda de frequencia livre de 2.4GHz. “Existem três faixas livres de uso gratuito: de 900MHz, de 2.4 GHz e 5.7GHz. Essas formam a banda conhecida como ISM – Industrial, Scientifical and Medical. Apesar de serem bandas livres, os instrumentos que as utilizam precisam passar pela homologação do órgão certificador de cada país (no caso do Brasil é a ANATEL), para garantir que estão mesmo dentro dessa faixa e que não ultrapassam os limites de espectro e potência. Essa homologação é importante porque mantém o usuário dentro da Lei e livre de problemas em casos de auditorias e até mesmo de acidentes que por ventura possam ocorrer devido ao uso inadequado de radiofrequência.”.
O Trabalho “Complexo eletrônico: automação do controle industrial”, de Regina Maria Vinhais Gutierrez Simon e Shi Koo Pan, do Departamento de Indústria Eletrônica da Área Industrial do BNDES, recentemente divulgado, traz algumas linhas sobre wireless, mais para fazer o contraponto com as redes cabeadas: “ Fisicamente, as redes industriais vem sendo construídas com cabos metálicos – par trançado e cabo coaxial – e fibras ópticas. Algumas implementações de redes sem fio (wireless) começam a ser construídas. Acredita-se que as redes sem fio sejam a solução para situações em que a utilização de cabos elétricos é inviável, como aquelas que envolvem dados a grandes distâncias, obstáculos físicos, interferências elétricas ou em áreas classificadas. De acordo com o ARC Advisory Group, os negócios envolvendo redes sem fio constituem o segmento de negócios em automação industrial com maiores perspectivas de crescimento, com taxas superiores a 32% a.a. até 2010, quando deverão atingir US$ 1,18 bilhão. Em 2005, esses valores foram de apenas US$ 325 milhões”.
Wireless já parece notícia velha. Temos falado das tecnologias sem fio por pelo menos três anos e a maioria das plantas possui algum instrumento wireless – não necessariamente uma rede de sensores mas celulares, Bluetooth M2M, handhelds, etc. Então, segurança parece ser um assunto que já começa a ser tratado como mais um ponto na gestão de risco. Consumo de energia ainda é um entrave. Leonel Bertuso explica que existe muita pesquisa em torno do assunto uma vez que o grande limitante dessa tecnologia é a disponibilidade de energia. Estima-se que as baterias utilizadas hoje têm duração de 5 a 10 anos, para uma taxa de transmissão de 1 minuto. Parece bastante mas a maioria dos usuários demanda informações a cada segundo, o que reduziria muito a vida útil da bateria além de reduzir bastante a quantidade de instrumentos na rede. A Emerson está pesquisando uma forma eficaz de recarregar essas baterias como, por exemplo, através de vibração ou até mesmo diferencial de temperatura entre o processo e o ambiente.
Uma escolha que parece estar preocupando é: WirelessHart, ISA 100 ou ZigBee? Como fazer a engenharia, especificação, instalação e quem será o responsável pela rede na planta? Qual a norma de cada vertente da tecnologia? Essas normas serão compatíveis? |
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Fonte: Control Global |
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Os vários tipos de wireless
Os novos instrumentos wireless estão prontos para usar, é só instalar. A Fundação Hart Communication certifica instrumentos sem fio segundo a norma IEC/PAS 62591 – único padrão para wireless reconhecido internacionalmente. E aí começa a confusão que é sempre mais comercial que técnica. A ISA montou um grupo para estudar as tecnologias wireless, o comitê responsável pela norma ISA 100 está dividido: uma parte quer que se pareça com o WirelessHart (tecnologia já pronta e aberta, que recebeu inclusive uma carta de intenções do Comitê), outra quer que se pareça com o OneWireless (pronta e proprietária) da Honeywell – que recentemente “abriu” a norma para empresas que se associassem ao Honeywell User Group Americas; uma outra quer que seja a cara do ZigBeePro. O bom disso tudo é que existem muitas cabeças pensando o wireless para a indústria de processos que antes só era possível ponto a ponto e que, com o WiHart, possibilitou que os instrumentos se transformassem em algo mais além de um simples ponto de medição. Eles são também repetidores e uma fonte de informação bastante valiosa, já que fornecem vários diagnósticos do equipamento e do processo – nas redes mesh cada nó possui mais de uma rota (caminho) para a comunicação com o receptor. “A Emerson agregou a isso a auto-organização, ou seja, não é mais preciso dizer a um instrumento com qual outro ele pode se comunicar; todos os instrumentos da rede se auto-organizam para cumprir a missão de levar a informação até o destino final”, completa Leonel.
Depois de escolhido o rumo, será preciso decidir requisitos, documentação, simbologia para PIDs, diagramas, etc. para que se documente a rede de forma adequada e mesmo para desenhar tudo isso no contexto do que já se tem. E sobre a documentação, alguns usuários pioneiros acreditam que, ainda que não haja normatização para mostrar as redes, faz sentido, por enquanto, utilizar a simbologia eletromecânica já existente. E embora não se costume mostrar caixas de junção em P&IDs, os gateways ou muxes transmissores/receptores são componentes ativos e devem ser mostrados pois uma única planta pode ter muitos deles. Existe a necessidade de mostrar qual (is) instrumento(s) de campo é (são) wireless? A maioria dos usuários no Brasil está incluindo o instrumento wireless na sua tela como um outro qualquer, afinal, não existem marcações para instrumentos que se utilizam de Profibus, fieldbus Foundation, ou outro protocolo. “A idéia é gerar o menor impacto possível para o operador. Para fins de documentação, a diferença é que utiliza-se a linha pontilhada para determinar a rede wireless. Mas não há norma sobre assunto ainda”, afirma Leonel.
Mas o problema para o usuário é mais que optar por uma norma. Muitas vezes ele é solicitado a testar todas as existentes. O estresse pode ser menor sabendo que as três diferentes vertentes da tecnologia wireless se utilizam da IEEE802.15.4 para o mesmo “espaço no ar” e não devem interferir uma com outra em termos de firmware ou canais, o que não significa que as três serão “amigas” – nada de conversas ou intercambiabilidade.
De qualquer forma, o WiHart sai na frente com cerca de 14 fornecedores – entre eles ABB, Airsprite Technologies, Emerson, Endress+Hauser, Pepperl+Fuchs e Siemens - com sensores, transmissores e elementos de controle prontos, homologados e muitos já instalados. Os instrumentos e softwares em ZigBee PRO também podem estar disponíveis a qualquer momento. E a Honeywell está aí! |
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Principais aplicações do wireless segundo pesquisa da Control/ISA100 |
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Para começar uma rede wireless, a recomendação dos especialistas ouvidos pela C&I é listar todos os instrumentos wireless já em uso na planta. E pensar se vai utilizar Rfid, operadores móveis com instrumentos wireless, leitores de código de barras, monitoramentos importantes, etc. Sob responsabilidade de qual grupo vai estar a nova rede? É importante ter em mente que se o projeto for bem sucedido, a rede vai receber agregados e ninguém quer ficar sem espaço nas bandas.
O Comitê da ISA responsável pela SP100 desenvolveu classificações para o wireless e uma delas está assim dividida:
Classe 5: Monitoramento sem conseqüências imediatas para a operação
Classe 4: Monitoramento com conseqüências de curto prazo para a operação
Classe 3: Controle de loop aberto
Classe 2: Loop fechado, controle supervisório
Classe 1: Loop fechado, controle regulatório
Classe 0: Ação de emergência
O Comitê também inclui a coexistência e a qualidade do serviço como características básicas para uma rede wireless e isso se torna importante quando se imagina que várias redes podem conviver num emaranhado de tubos e equipamentos de uma planta, gerando, então uma latência, uma defasagem de tempo para as mensagens. Esse problema pode ser resolvido com redes em camadas.
E o gerenciamento de riscos, a segurança, está sempre condicionado às melhores práticas, desde o projeto. O básico é não esquecer a criptografia dos dados que circulam na rede e certificar-se de que os instrumentos fazem autenticação de pertinência à rede, verificação dos dados enviados/recebidos e trocas de senhas – alteradas dinamica e randomicamente -, além do anti jamming, que é a capacidade de saltar longo da banda que possui 16 canais (Channel Hopping) evitando interferências com outros dispositivos que utilizam a mesma banda.
Durantes os dois últimos anos, vários usuários resolveram se aventurar para serem os primeiros na tecnologia. E não são usuários quaisquer: BP, Shell, Petrobras, Usiminas... E inseriram o wireless em vários monitoramentos, alguns impensáveis até para os fornecedores. Alguns clientes arriscaram, e tiveram sucesso, fazendo controle de malha fechada para variáveis que variam lentamente (como temperatura, por exemplo). Embora ainda não utilizem o wireless para controle de variáveis rápidas (como pressão), alguns desses pioneiros não descartam essa possibilidade, para um futuro não muito longínquo. |
Wireless seguro |
Os usuários querem wireless. Os fornecedores querem vender mais wireless. Então, qual o problema? Fala-se muito que wireless não é seguro para o ambiente industrial, ainda que, de uma forma ou de outra, a tecnologia já esteja nas plantas.
Poucas pessoas se aventuram a falar (oficialmente) sobre o assunto.
O Blackout do sistema elétrico da Califórnia em 2003 não foi um cyber incidente mas deu uma boa idéia do que pode acontecer se alguém desautorizado tiver acesso a certos sistemas. O incidente gerou inclusive recomendações que podem ser acessadas nas páginas da NERC CIP. O certo é que o Governo dos Estados Unidos está elaborando uma estratégia nacional para segurança do cyber espaço. Para Jeff Potter, ainda é cedo para mensurar o impacto dessa estratégia na indústria americana, ou no resto do mundo.
Apesar da cyber security ser uma questão multidepartamental numa planta, quem controla o assunto é o pessoal de TI. Algumas companhias estão trazendo o pessoal de TI para as discussões sobre as redes wireless nas plantas, outras não. A cyber segurança industrial possui similaridades com a segurança praticada pelo pessoal de TI corporativo, mas existem diferenças importantes também. Por exemplo, disponibilidade é absolutamente imperativo, é soberana num sistema industrial enquanto que no corporativo, a falta de disponibilidade é “apenas” inaceitável. Por outro lado, se os emails estão inacessíveis por 30 minutos ou uma hora, o corporativo pode chorar mas o negócio não entra em colapso ou gera custos altíssimos.
Se existem diferenças para a cyber segurança entre corporativo e planta, elas não existem entre um wireless mesh ou um wireless ponto a ponto, seja para o gerenciamento da segurança, controle de acesso, autenticação, etc. Mas é bom lembrar que a cyber segurança industrial tradicional não existe além dos perímetros de defesa (firewalls, DMZs, etc) graças as deficiências inerentes da maioria dos protocolos. Ter um perímetro de segurança é quase tudo o que se pode fazer – o que não é muito já que ele sempre pode ser quebrado. Cada vez mais sistemas estão atentos para manter zonas seguras dentro da planta, com propriedades internas consistentes de segurança e caminhos seguros entre essas zonas protegidas e os limites de acesso. A medição de segurança, ainda que ligada a métricas de segurança, é uma parte difícil de se abordar – existem muitos livros sobre o assunto. O problema aí é como dar uma prova negativa porque pode-se mostrar que um sistema possui fraquezas mas como se prova que um sistema NÃO possui fraquezas? Talvez o fabricante ou o usuário não passem a vida pensando nas vulnerabilidades mas um hacker sim... Entram aí as normas e as melhores práticas. As normas estão a caminho e vão facilitar muito os esforços para manter a conformidade, mas ainda leva algum tempo.
É certo que existe carência de uma norma de segurança para o espaço do sistema de controle industrial, o que inclui a tecnologia wireless. Em outras palavras, essa carência não é apenas uma questão do wireless e de fato não existe acordo sobre normas de cyber security seja para redes cabeadas ou sem fio. A ISA99 está trabalhando em algumas regras que serão adotadas pelo IEC, quando publicadas. E alguns dos trabalhos da ISA99 estão baseados na NIST, especialmente na SP 800-53. Já a CS2SAT é uma ferramenta de auto avaliação atualmente suportada na NERC CIP, na NIST 80-53 e na IEC 15408 que ajuda um usuário a encontrar pontos onde ele precisa trabalhar mais a segurança para estar em conformidade com esses documentos. Além da NERC CIP, que foca o espaço na geração e transmissão de energia, existem normas verticais específicas, como por exemplo para a indústria química.
Sobre a classificação de 0 a 5 proposta pela SP 100, existe muita resistência do grupo da ISA 99 porque eles acreditam que essas classes foram estabelecidas de forma um tanto artificial e não são relevantes para a segurança. |
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