O resguardo proposto pela NR-10 relativo à normatização da área Ex e o enraizamento da IEC 60079-14 pela ABNT são os elementos chave na consolidação da segurança em instalações elétricas no país. Mas o sucesso da norma – com efetiva redução de acidentes – também passa, obrigatoriamente, pela qualificação dos eletricistas que trabalham em áreas classificadas.
Passados praticamente quatro anos da entrada em vigor da edição 2004 da NR-10, o setor industrial já está adaptado às exigências para garantir a segurança dos trabalhadores nos serviços elétricos. Boa parte das atividades estão regidas por procedimentos recomendados na norma – que é bem clara quanto aos requisitos: “observando-se as normas técnicas oficiais estabelecidas pelos órgãos competentes e, na ausência ou omissão destas, as normas internacionais cabíveis”.
A NR-10 forçou a regularização dos sistemas elétricos das unidades industriais sujeitas a riscos de explosão por gases, vapores, poeiras ou fibras. Afinada às boas condições de segurança do trabalho, exige a classificação de área conforme a NBR IEC 60079-10. Também impõe a implantação de procedimentos de segurança.
Frente à ratificação da NR-10, exige-se também o certificado de conformidade brasileiro de equipamentos elétricos destinados ao uso em áreas classificadas – desde a Portaria 164/91 e atualmente conforme Portaria 83/06, do Inmetro – agora incluídos no Prontuário de Instalações Elétricas. Todos os equipamentos e sistemas destinados à aplicação em ambientes Ex devem, por compulsoriedade, serem certificados. “A certificação visa dar tranqüilidade ao usuário, ao garantir que o produto foi fabricado em pleno atendimento às normas técnicas e aos procedimentos de fabricação aprovados”, explica o engenheiro Estellito Rangel Jr., ligado ao Comitê Brasileiro de Eletricidade.
Até mesmo equipamentos não-elétricos que podem ser fonte de risco para atmosferas potencialmente explosivas deverão ter uma “boa prática”. A International Electrotechnical Commission – IEC criou em conjunto com a ISO o subcomitê SC 31M, para elaboração de normas para essa classe de equipamentos – que inclui, por exemplo, bombas, ventiladores e caixas de engrenagens de máquinas rotativas. A iniciativa inicialmente abordará a criação de requisitos para sistemas de qualidade dos fabricantes de tais equipamentos.
As ferramentas para que os procedimentos de fabricação e ensaios de equipamentos “Ex”, além de classificação de áreas, estão disponíveis. Mas todo esse processo de certificação ainda falha ao garantir a segurança aos usuários e instalações industriais. Para o consultor técnico da área de SMS da Petrobras, Leandro Erthal, a certificação tem cumprido parcialmente seu propósito. “Existem falhas, porque falta uma centralização do processo – que o Inmetro está começando a fazer”.
Estellito ressalta que a elaboração de uma norma brasileira possui regras a serem seguidas – no caso, as Diretivas ABNT Parte 2. Mas não é difícil encontrar com normas foram emitidas sem atender às Diretivas, ou mesmo normas IEC traduzidas “ao pé-da-letra”. “Ainda temos muito que caminhar na questão de normalização técnica. Hoje ao avaliarmos os resultados de consulta pública, não raro encontramos pouquíssimos votos, a maioria sem quaisquer comentários”.
Considerando que os projetos de norma freqüentemente possuem um ou outro erro editorial, o recebimento de votos “sem comentários” pode apontar que a pessoa sequer leu o texto. No fim das contas, se textos confusos forem publicados, os usuários poderão enfrentar problemas – tanto financeiros quanto de segurança.
Outro ponto fundamental é a qualificação dos profissionais. A segurança da planta industrial em áreas classificadas depende não apenas de equipamentos certificados, mas sobretudo de profissionais capacitados para as atividades. O técnico que ainda não passou pelo Curso Básico de Segurança em Eletricidade está, literalmente, “brincando com fogo”. “A qualificação profissional é parte intrínseca do processo de segurança. A maior parte dos acidentes é causada por deficiência na formação profissional”, explica Estellito Rangel Jr.
“Somente a certificação de equipamentos Ex não é suficiente para garantir a segurança das instalações. É preciso também que os profissionais diretamente ou indiretamente envolvidos com serviços de campo em equipamentos “Ex” sejam devidamente treinados, capacitados e avaliados, através de um sistema de certificação de competências em trabalhos envolvendo equipamentos para atmosferas explosivas”, completa o coordenador do Subcomitê SC-31 do Cobei, Roberval Bulgarelli.
A boa notícia é que, junto com a Associação Brasileira de Ensaios Não-Destrutivos e Inspeção – Abende, o Cobei vêm concebendo um sistema de certificação de profissionais “Ex”, com base em documentos elaborado e publicados pelo IECEx sobre “Competencies for working with electrical equipment for hazardous areas”.
Leandro Erthal lembra que a Petrobras já puxa um movimento para qualificar os eletricistas como “certificadores” – trabalho conduzido em parceria com a Universidade de Aberdeen e o Senai.
Um levantamento criterioso da quantidade de acidentes relacionados a eletricidade em atmosferas explosivas, no entanto, é difícil de ser feito. Mas em diversas situações, os relatórios descrevem vazamentos de gases ou líquidos inflamáveis seguidos de
explosões – o que abre a possibilidade para equipamentos elétricos de uso comum terem sido a fonte de ignição.
Flávio Bosco
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