Revista Controle & Instrumentação Edição nº 141 2008
|
|
¤
Cover Page
|
Minimizando incertezas |
|
Calibração pode ser a melhor arma para se alcançar precisão e uniformidade, elementos tão
importantes à produção industrial e ao estudo científico. Veja como se desenvolve o setor, suas
tecnologias e preocupações mais recentes |
por Paulo Oliveira
A calibração pode ajudar o Homem, a indústria e o
desenvolvimento científico a chegar a níveis de exatidão
cada vez melhores. E a indústria se aperfeiçoa
nesse processo adotando a calibração, interna ou terceirizada,
como uma grande parceira. Confiar esse trabalho
a prestadores de serviços leva a perceber como avaliar a
credibilidade passa a ser uma cobrança forte no mercado
de consumo. São eles certificados ou não? Os padrões de
calibração acreditados pela Rede Brasileira de Calibração
/ Inmetro tornaram-se fatores competitivos, diante da indústria
cada vez mais ligada às normas nacionais e internacionais
e aos requisitos de boas práticas. Saber onde estão
pisando pode ajudar. Discutir se as tecnologias digitais são
eficientes e saber qual é o melhor modo de calibrar, se a
nanotecnologia já nos mostrou algum resultado visível para
o setor. E a mudança no quilo ? Alguns especialistas têm a
resposta certa para cada uma das questões.
E será que tudo isso sai caro? Pode ser, depende
do ponto de vista. O Centro de Pesquisas da Petrobras–Cenpes, localizado na Cidade Universitária do Rio de
Janeiro, acabou de ter seu Laboratório de Calibração
– Labcal acreditado, após passar pelo processo junto
ao Inmetro. A equipe de metrologia do Cenpes estava
decidida a atender a demanda dos demais laboratórios
internos e isso fez com que se mobilizassem. “O mercado
se movimenta dessa forma e se aprimora. E em metrologia,
qualquer upgrade ou um décimo de incerteza
a menos envolve custos muito altos, principalmente em
equipamentos. Um multímetro de 8 ½ casas custa por
volta de R$ 30 mil, o dobro de um equipamento com 7 ½, “, esclarece o supervisor da qualidade do Laboratório
de Metrologia do Cenpes, Francisco Bacelar, pontuando
ainda que para cumprir esse trabalho foi preciso envolver
um grande número de pessoas, por um longo período de
tempo. “Treinamentos, novos equipamentos, infra-estrutura
maior e manutenção do serviço de acreditação deve ser bem avaliado em função da demanda e da necessidade
dos usuários”.
A intenção da empresa é prestar o melhor serviço
a partir de seus laboratórios de massa, pressão e temperatura. “Fomos acreditados de acordo com a norma
NBR 17025, e passamos a pertencer à Rede Brasileira de
Calibração – RBC, o que evidencia a qualidade dos laboratórios
e agrega maior credibilidade à prestação dos
serviços”, explica Francisco Bacelar. A operação inclui os
três laboratórios. Para cada um, as características mudam.
Para a área de pressão, calibram-se equipamentos que
trabalham de 1,5 psi (10 kPa) a 20000 psi (137 MPa); no
de temperatura atende-se a faixa de -5 oC a 1000 oC, e no
de balança vai de 0,5 kg a 30 kg.
“A demanda interna anual do Cenpes é de aproximadamente
dois mil equipamentos, entre termômetros
de vidro, PT100, termopares, balanças de precisão, manômetros
e transmissores de pressão. Com a acreditação,
além de atestarmos o nosso grau de confiabilidade, podemos
ampliar o escopo de calibração em virtude de atender
aos laboratórios que possuem certificação e, portanto,
precisam garantir a rastreabilidade. Também já podemos
calibrar nossos próprios padrões, eliminando o custo de
um serviço externo”.
O que melhorar? De acordo com a meta declarada
pelo supervisor da qualidade, o que se quer é ampliar o
escopo de calibração, com a aquisição de equipamentos
para calibração em pressão negativa (baixo e médio
vácuo) e em temperatura negativa até -80 oC. “Também
pretendemos adquirir conjuntos de peso padrão de classe
E1 para calibração de balanças micros e semimicro (capacidade
de medição na faixa de microgramas). Há intenção
também de criar um quarto laboratório para calibração
de vidraria, uma demanda a muito solicitada por nossos
usuários”, projeta o supervisor da qualidade do Labcal.
Dividindo a mesma expectativa sobre atendimento
ao mercado por conta da credibilidade e rastreabilidade
de seu serviço de calibração, o diretor industrial da Conaut,
Ricardo Fuchs comenta da importância em buscar a
certificação junto ao Inmetro ao inaugurar seu laboratório
de nível, cujo foco é atender a todo o tipo de indústria,
DÉIA Estúdio principalmente à Petrobras, que exige tal medida. “Já
estamos funcionando e estamos em fase de certificação
pelo Inmetro, devendo estar totalmente certificado até
fevereiro de 2009”.
Em São Paulo , a Conaut possui três laboratórios de
vazão, o laboratório certificado pela RBC que faz calibrações
de 2,5 mm até 1500 mm, e também a torre de
calibração que atinge as aplicações de grandes vazões,
podendo calibrar medidores até 3000 mm, sendo as duas
calibrações feitas com água. Em Macaé / RJ, há mais dois
laboratórios, sendo um de água e outro de óleo, também
certificados pela RBC.
Inteligência Digital
Numa abordagem sobre o que alguns especialistas
desse meio entendem por adotar uma instrumentação
de inteligência digital, o supervisor da qualidade
do Labcal mencionou a credibilidade do instrumento
mecânico, modelo analógico, até pouco tempo atrás,
o mais popular. E ainda é. “O sistema simples dá a seu
funcionamento grande confiabilidade perante o mercado;
no entanto, a tecnologia está progredindo e uma
tendência é a indústria adotar sistemas eletrônicos”.
O espaço conquistado pelos equipamentos analógicos
ainda é maior, e essa questão da confiabilidade se traduz
até na forma como devem ser calibrados: o modelo
convencional analógico é calibrado, geralmente, de
ano em ano, enquanto para os digitais essa calibração
é, na maioria das vezes, semestral.
“Os instrumentos digitais inteligentes contêm componentes
eletrônicos que sofrem aquecimentos, e baixa
ou alta umidade relativa do ar que prejudicam os componentes
elétricos e sua vida útil, sem contar que os instrumentos
possibilitam regulagens como autocalibração,
rotinas de autodiagnóstico, linearização e compensação
de erros de ‘offset’”, explica o presidente da Remesp, José
Antonio Lladó Espigado.
Francisco Bacelar defende a idéia de que, embora
haja essa resistência comum à etapa evolutiva da tecnologia
digital, ultimamente há uma menor deterioração
desses equipamentos dada a maior qualidade de
seu componentes. “Eles estão mais confiáveis e muito
mais duráveis, mais práticos e também levam vantagem
quanto à exatidão de leitura, por isso estão paulatinamente
substituindo os amis antigos”. Para Marisa
Ferraz, pesquisadora do Centro de Metrologia, Mecãnica
e Elétrica – CME – do IPT, é importante ressaltar
que os instrumentos digitais estão há pouco tempo no
mercado. “É mais sensato que a periodicidade entre
calibrações seja diminuída, ou seja, que o instrumento
seja calibrado mais vezes até que se tenha assegurada a
sua estabilidade temporal, com relação à exatidão das
indicações e respectivas incertezas”. |
|
Calibração no Laboratório de Nível da Conaut |
|
Norma a serviço da menor incerteza
Mas um novo tipo ou uma nova concepção de
instrumento de medição dão quais garantias de que
métrica e metodologia estejam corretas? Quanto mais
se convive em meio a inexistência de normas, quando
as novidades saem à frente de sua elaboração. A
sugestão fica em torno da necessidade para se criar
procedimentos ou métodos para calibrá-los. Eles, que
antes de serem colocados em uso, devem ser validados.“Devemos ter como base as normas de referências
nacionais ou internacionais. Sendo avaliada através
de intracomparações ou intercomparações, validando
através de estudos estatísticos como o cálculo de ‘erro normalizado’, onde são realizadas medições entre técnicos
treinados e capacitados para cada procedimento”,
complementa Espigado.
Segundo Marisa Ferraz, as normas geralmente são
elaboradas após o lançamento de novos instrumentos
no mercado, a partir da demanda de usuários e fabricantes.“Em muitos casos é possível fazer-se pequenas
adequações às normas já existentes. Em outros casos,
há necessidade de se preparar uma completamente
nova”. Mas e se o maior impasse não for a adequação
à norma e sim a segurança que se pode realmente ter
em relação ao serviço prestado por um laboratório,
mesmo que acreditado? Francisco Bacelar baseia sua
justificativa favorável à busca por referenciais de credibilidade,
ou seja, o laboratório deve estar balizado
por organismos competentes, quanto mais atendendo
a normas como ISO 9000, ISO 14000, OHSAS 18000
e NBR 17025 internacionalmente reconhecidas e,
sobretudo, ser acreditado sob o aval de instituições
como o Inmetro.
“A referência primeira a ser observada por um
cliente sempre vai recair sobre tais aspectos qualitativos,
invariavelmente. A princípio, quando mando um
equipamento para um laboratório da RBC, eu acredito
que ele siga as normas”, diz. Se mesmo assim persistir
a dúvida quanto ao alinhamento dessas diretrizes
determinadas pelas normas e pelo próprio Inmetro, o
cliente deve solicitar uma vistoria, pedir para ver alguns
documentos que atestem a qualidade do serviço
prestado. “O que se sabe é que, quem tem certificação
está melhor no mercado, seja interno ou externo”,
comenta o supervisor da qualidade do Labcal, que destaca o viés exportador na acreditação junto ao
Inmetro. O convênio do órgão com seus correspondentes
internacionais adiantam o caminho para quem
tem vistas ao exterior. |
|
Padrão de referência (balança de peso morto) |
|
A melhor calibração, a melhor freqüência de
ajustes
A freqüência de calibração para instrumentos de
campo pode ser definida por uma série de passos. Ela é norteada pelo tempo de uso do equipamento, devese
atender às orientações do manual do fabricante e
realizar estudo através de três históricos de calibração,
desde que seja o mesmo laboratório, o mesmo instrumento,
que não tenha sofrido manutenção ou ajuste,
e aprovado conforme o critério de aceitação. Marisa
Ferraz lembra também que a freqüência de calibração
de um instrumento que opera em campo deve ser sempre
menor do que a de um mesmo instrumento similar
que seja somente utilizado em laboratório. “Por mais
cuidado que se tome, ele está sujeito a maiores riscos
como variação de temperatura e umidade, transporte,
queda”, explica.
“Quem determina a freqüência de calibração é o
cliente através de histórico, de tendências de calibrações.
A orientação que damos é que se comece a fazer
a calibração anual, depois é que se começa a montar
o histórico seguido por duas ou três calibrações.
Há software de calibração que já faz análise, que nos
ajuda a decidir o que é melhor: diminuir essa periodicidade
ou aumentá-la”, conta o engenheiro de aplicação
da Presys, Newton Bastos. “Um calibrador de má
qualidade, certamente, vai ter um drift alto, ou seja,‘desregulado’ que no jargão popular significa perdendo
o padrão”. Em função do drift, dado de catálogo, e
da incerteza encontrada e do requerimento
do profissional, começa-se a
cobrar no mercado uma análise crítica
do certificado de calibração. “Poucas
pessoas estão fazendo isso, apesar da
importância que se tem em detectar
nesse certificado os resultados, a tolerância
de erro. Há uma regra de boas
práticas, a regra dos três: o padrão
deve ser três vezes melhor na medida
do que vai se fazer. Ou seja, aplicando
o conceito na indústria em que o
processo de temperatura varie 1oC, a
cadeia metrológica levaria em conta
que se o processo é de mais-ou-menos
1oC o instrumento teria que ser
0,3 oC; se o instrumento fosse 0,3 oC,
o padrão teria que ser 0,1 oC”, explica
Newton Bastos sobre o padrão que
calibra o instrumento que está no processo
exemplificado de temperatura.
E a autocalibração funciona? “Quem procura por instrumentos com
a função de ‘autodiagnóstico’, tem em
seu poder uma tecnologia que avisa ao
usuário quando tem algum parâmetro fora da especificação,
ajudando na decisão de retirar um equipamento
para a calibração”, comenta o diretor industrial da
Conaut, Ricardo Fuchs, que complementa, “no caso de
medidores de vazão, normalmente, a calibração é feita
no laboratório e é feita uma verificação em campo. Mas
também podemos utilizar estações móveis para fazer o
serviço em campo”.
“Sem dúvida ter um equipamento autocalibrado é
útil para o pessoal da manutenção, pois o equipamento
sempre vai buscar os parâmetros originais. O fabricante
de um analisador de CO2, conserva os valores principais
do gás, da curva, na memória do equipamento. Isso é
ótimo, pois esse tipo de equipamento se ‘autocalibra’ a
partir dessas referências originárias dele. É isso o que todos
os aparelhos fazem, corrigindo a indicação de acordo
com o que estava gravado. Só que para efeito metrológico
até para uma empresa de seguros, isso não tem a
menor validade. O que vale é o certificado de calibração
do equipamento, a rastreabilidade.
Se você procura por equipamentos autocalibradores,
preste atenção ao termo. “Para efeitos metrológicos o ato
da calibração é a comparação de um equipamento com
outro padrão melhor (pelo menos 3 vezes), então por
mais que se atribua ao equipamento capacidade de autoajuste,
autosintonia, autoconfiguração, autoparametrização,
não é correto mencionar autocalibração”, lembra
Newton Bastos. “Essa é uma calibração chamada de calibração
sem referência externa, com referência inclusa.
Isso não é claro para o mercado”, critica o especialista o
uso incorreto do termo por parte dos fabricantes – o que
pode até confundir o consumidor na hora da compra de
um equipamento.
|
LEIA MAIS
NA EDIÇÃO IMPRESSA |
|
DESEJANDO
MAIS INFORMAÇÕES: redacao@editoravalete.com.br
|
|
Leia mais na edição impressa |
Market |
Westlock apresenta nova estrutura para a América Latina |
Special |
Crescimento do setor siderúrgico abre boas perspectivas para a Yaskawa |
|