Revista Controle & Instrumentação – Edição nº 134 – 2008

¤ Cover Page
Gerenciamento de Ativos para todos os bolsos
Supervisores de manutenção da Copesul: mobilidade com PDA

Um dia alguém percebeu que existia a possibilidade de usar a informação do diagnóstico dos vários instrumentos espalhados pelo campo para melhorar a confiabilidade das máquinas e equipamentos e, de quebra, atender melhor as normas ambientais e sociais, além de fornecer informações atualizadas aos postos de comando. Em pequenos nichos, nas áreas críticas, no setor de utilidades ou em plantas inteiras, essa idéia foi ganhando forma e força. E ganhou nomes diferentes que vão do simples monitoramento, passando pelo gerenciamento de ativos até o gerenciamento de negócios. E esse gerenciamento tem estado na maioria das listas de projetos de automação.

Mas, segundo James Aliperti, diretor de Vendas da Honeywell, o erro mais comum é pensar que gerenciamento de ativos se faz simplesmente com um software. “O software é uma ferramenta importante mas um gerenciamento de ativos bem sucedido é uma política do usuário onde se busca maximizar a disponibilidade da planta ao mesmo tempo em que se minimizam os custos de manutenção. E um software não pode fazer isso sozinho”.

Então, em primeiro lugar é preciso definir os ativos em questão. O lugar comum são os instrumentos de campo inteligentes. São importantes e o seu correto gerenciamento ajuda muito a reduzir a variabilidade da planta — oriunda de problemas de calibração ou ranges inadequados —, ajuda a reduzir o custo de manutenção — principalmente de válvulas de controle que não precisam ser retirados para determinar o seu comportamento; ou melhor ainda, podem ser constantemente monitorados para detectar problemas antes que comprometam a planta — e a organizar as tarefas de manutenção dos instrumentos.

Mas e os outros ativos da planta? José Ensinas Jr, da Polietilenos União, lembra que implantar gerenciamento apenas nos equipamentos críticos ou em toda a planta remete a aplicações diferentes. “Os críticos são monitorados por causa da segurança e da integridade do equipamento em caso de inicio de algum problema ou condição. Para os demais instrumentos o gerenciamento ajuda no diagnóstico e manutenção dos equipamentos. E para os dois casos os custos podem ser bem diferentes!”

Ronaldo Ribeiro, da Comissão de Automação da ABTCP e gerente do departamento técnico e manutenção da Cenibra, ressalta que o gerenciamento de ativos tem aplicação inquestionável na monitoração inteligente em equipamentos considerados críticos ao processo produtivo, e ainda naqueles em que, caso algum defeito ou falha não sejam detectados imediatamente, podem causar grandes prejuízos nos diversos aspectos. “Esta monitoração permite uma manutenção mais assertiva com pro-atividade, conseguindo antever situações indesejáveis e com isso otimizando as ações de manutenção”.

Ronaldo acredita que os sistemas e equipamentos com tecnologias mais recentes necessitam de projetos que contemplem o gerenciamento de ativos, e mesmo para instalações já existentes o gerenciamento deve ser pensado como forte possibilidade em oportunidades futuras, em função dos benefícios já comprovados. Ele lembra que atualmente vários fornecedores já disponibilizam opções variadas para os sistemas de gerenciamento de ativos. “No entanto, apesar de todos os benefícios já comprovados, muitos usuários ainda não se deram conta da importância do gerenciamento nos sistemas produtivos”.

Talvez o nó que falta desatar para que o gerenciamento esteja em todas as plantas seja mesmo a necessidade de entendê-lo melhor. No que toca ao investimento, os usuários de longa data são unânimes: depende da aplicação. E a maioria das tecnologias disponíveis podem ser implantadas aos poucos — a modularidade já caiu no gosto de quem compra automação e sistemas. Voltando ao nó, o que é gerenciamento de ativos? E que ativos são esses?

“Para nós da Honeywell, que temos um conceito mais holístico, a planta é composta de muitos ativos que precisam ser gerenciados além dos instrumentos inteligentes. Uma malha de controle por exemplo é um ativo. Temos um software que monitora o seu desempenho histórico e determina quando a malha precisa ser sintonizada, quando há possibilidades de descalibração da malha ou quando há problemas com os elementos primários e finais que compõem a malha. Esse software também detecta problemas de válvulas de controle e transmissores mesmo que esses não sejam inteligentes”.

Trocadores de calor também podem ser ativos, o sistema de controle é um ativo, equipamentos rotativos são ativos, equipamentos elétricos são ativos, controle avançado é um ativo, enfim qualquer coisa que afeta o desempenho do processo e a continuidade de produção tem que ser levado em conta. Para os mais adiantados, as pessoas também entram no rol de ativos! E, quando o gerenciamento vai ser feito numa planta inteira, o caso já não é mais de um software, mas de um conjunto de softwares que desempenham várias funções, que sejam adequados à realidade da planta em questão, e que sejam implementados em harmonia para garantir que serão usados corretamente. Aliperti dá um bom exemplo: “bombas normalmente são instrumentadas localmente através de instrumentos manuais, indicadores de nível de óleo, temperatura, etc. Então é possível estabelecer uma rotina de inspeção periódica das bombas da planta — através do SAP por exemplo —, o operador de campo pode ter um dispositivo sem fio tipo palm top e anotar a cor do óleo, pode tomar a temperatura do motor com uma pistola de medição acoplado ao handheld, ou tomar as medições de vibração acoplando o handheld aos sensores de vibração. Todos estes dados poderão ser registrados automaticamente agilizando a análise”.

E entram em cena tecnologias mais novas, como o wireless do handheld para enviar as informações para o controle diretamente do campo, ou mesmo o gerenciamento de qual operador está no campo naquele momento, através de identificadores wireless. Já se pode mesmo gerenciar o uso de chuveiros de segurança juntando as duas tecnologias! O que nos leva ao fato de que um bom sistema para gerenciar ativos deve ser incorporado a outros sistemas de gerenciamento, como o ERP existentes nas empresas, pois com essa ligação alguns benefícios podem ser configurados com grande valia: disparar ordens de manutenção em equipamentos críticos, emitir mensagens de alarmes aos setores responsáveis pela manutenção e inspeção dos equipamentos, manterem com segurança o tempo de operação do equipamento próximo ao máximo permitido, dentre outros benefícios. Observa-se um crescimento no desenvolvimento de sistemas para atender esta tecnologia como os sistemas de automação associados aos sistemas historiadores de dados de processo (PIMS), sistemas de gerenciamento de processos produtivos (MES) e sistemas de gerenciamento de negócios (ERP), que agora possuem mais informações disponibilizadas pelos sistemas de gerenciamento de ativos.

Ronaldo Ribeiro lembra que os sistemas de gerenciamento de ativos não são para determinar falhas nos processos, mas sim para oferecer diagnósticos antecipados de possíveis falhas nos equipamentos em operação, para que boas práticas de manutenção sejam efetuadas preventivamente, evitando paradas não planejadas. “Vale ressaltar também, que de nada adianta um sistema bem estruturado tecnologicamente, se o usuário não o acompanha periodicamente. Após a implantação de um sistema acontece de os usuários não o utilizarem como deveriam e isto faz com que o mesmo caia no descrédito ou que a subutilização de um bom sistema não traga os benefícios esperados”.

Em teoria parece simples mas, como escolher um software desses? O que perguntar ao fornecedor ou a quem já utiliza um gerenciamento de sucesso? Alex Ferreira, da Foxboro Invensys, ressalta que hoje os clientes têm procurado soluções de gerenciamento de ativos para diversos propósitos e que normalmente um único pacote de software não dá conta de todos os requerimentos. Ele ressalta que, com relação aos dados, uma abordagem para a escolha é a capacidade de capturar informações de diagnósticos online. E então surgem perguntas sobre quais são as fontes de informação? Instrumentação de campo, equipamentos de processo, subsistemas de processo, subsistemas de laboratório, subsistemas de lubrificação e vibração/stress, subsistemas corporativos? Qual a escalabilidade da solução? Quantas fontes são gerenciadas ao mesmo tempo? Quantos dispositivos podem ser cadastrados? Que tipo de informação é capturada? Que tecnologias (FDT/DTM, EDDL, OPC, ODBC, API, etc) são usadas para a busca das informações relevantes de cada uma das fontes indicadas acima? Qual o tempo de captura?

Outra abordagem é a capacidade de trabalhar as informações capturadas para diagnosticar o ativo e gerar uma ação e aí as perguntas mudam: existe um ambiente para desenvolver regras de diagnóstico? Em que linguagem? As regras de diagnóstico admitem manipular informações de diversas fontes ao mesmo tempo? Existem bibliotecas de diagnóstico prontas para equipamentos específicos? Existem plugs-in para diagnóstico de posicionadores inteligentes? Quais? Qual a escalabilidade da solução? Quantas regras podem ser configuradas ao mesmo tempo, estão associadas aos dispositivos ou a objetivos independentes, etc.? Outra abordagem seria a capacidade do sistema em apresentar os dados lidos e trabalhados. Então as perguntas poderiam ser: a interface com o operador apresenta todos os dispositivos configurados? Em estruturas compatíveis com a S88? Os dispositivos sinalizam o estado de falha? Fornecem uma descrição da falha? A interface permite associar os dispositivos com outros documentos eletrônicos? O sistema pode disparar eventos para outros aplicativos externos como históricos, sistemas supervisórios, sistemas de alarmes por SMS, sistemas de manutenção corporativos, etc.? Que tecnologias e protocolos são usados aqui? O sistema permite a captura de seus dados por aplicativos externos? Que tecnologias e protocolos são usados aqui? Qual a escalabilidade da solução? Quantos usuários ou conexões simultâneas o sistema suporta. Se a abordagem estiver relacionada com as funções, pode-se perguntar: Além da capacidade de diagnóstico em tempo real, o sistema pode dar suporte às atividades administrativas da manutenção? A solução inclui a geração de ordens de serviço? É automático? Podem ser configurados novos modelos? A solução inclui suporte ao estoque de partes e peças? Interno ou externo? A solução permite gerar indicadores de desempenho dos equipamentos monitorados? A solução permite gerar indicadores de desempenho das atividades de manutenção?

De certo que o fornecedor pode ajudar nesse processo de conhecimento de necessidades — e o fará para ter certeza de que estará entregando uma verdadeira solução. O que os fornecedores fazem normalmente quando o contato com o gerenciamento de ativos é recente por parte do usuário é virar esse jogo: eles perguntam. Investigam os itens que mais causam problemas na planta e sugerem que estes sejam os primeiros a receber a atenção do gerenciador. Ao longo do processo de conversação, as políticas para o estabelecimento do programa de gerenciamento de ativos vão tomando forma e o elenco de produtos e serviços necessários é estabelecido quase que naturalmente. Se o usuário já possui toda a infra-estrutura e quer apenas o software, ele já sabe o que quer e o que precisa e dispensa maiores orientações. 

Carlos Fernando Albuquerque, da Siemens, lembra que existem diferenças — de resultado também — entre o gerenciamento de ativos, o monitoramento de performance e o monitoramento de condição. Para tornar mais claro: nas redes de comunicação, qualquer que ela seja, existe o perfil de dispositivo que define a classe do objeto. Inversor de freqüência, por exemplo, tem um perfil que o define e o que ele comunica cíclica e aciclicamente. E, para evitar uma avalanche de dados inúteis é preciso um mecanismo padrão de interpretação e apresentação e, apesar do básico comum, cada fabricante possui especificidades no seu software — algo que já incomoda os usuários e foi detectado pela ARC.

Conhecer as normas Namur é fundamental para um bom projeto de gerenciamento de ativos, segundo Carlos Fernando, que define gerenciamento de ativos no sentido de gerenciamento de dispositivo como configurar, parametrizar e diagnosticar de forma remota. Cobrir os dados de parametrização, configuração e diagnóstico remotos numa única ferramenta é um diferencial importante, principalmente dentro da perspectiva de que existem cada vez menos especialistas nas plantas. Mas é gerenciamento de dispositivo. O gerenciamento de ativos da planta que se quer tem o sentido de um sistema de gerenciamento em tempo real do estado dos ativos, um sistema que vai usar as informações do diagnóstico de cada dispositivo, em cada rede, em todo canto da planta para dar uma visão geral e profunda do processo. O que se busca é o controle sobre cada pedacinho da planta para que imprevistos não aconteçam e se possa reduzir custos e melhorar performance através da otimização da utilização dos ativos.

As normas relevantes da Namur para gerenciamento de ativos são:
NA64: Status messages of field devices;
NE91: Requisitos para sistemas de gerenciamento de ativos online
NE102: Gerenciamento de Alarmes
NE105: Especificações para a integração de equipamentos fieldbus em ferramentas de engenharia para equipamentos de campo
NE107: Auto-monitoração e diagnósticos de equipamentos de campo
Procure o AK 4.13 na www.namur.de/work-areas-af-and-project-groups-pg/

LEIA MAIS NA EDIÇÃO IMPRESSA

DESEJANDO MAIS INFORMAÇÕES: redacao@editoravalete.com.br
 
Leia mais na edição impressa
Inovação tecnologica é foco da ISA Show 2007
Automation Fair: lançamentos e tendências da automação
Forum da ARC em Orlando


© Copyrigth 2001 – Valete Editora Técnica Comercial Ltda – São Paulo, SP