Revista Controle & Instrumentação – Edição nº 130 – 2007

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Da produção...
...à produtividade


O setor de mineração teve ganhos de US$ 9,5 bilhões no último ano. Capitaneado pela Companhia Vale do Rio Doce, o setor vem acumulando ganhos em função dos altos preços de suas commodities, inflados pela demanda elevada. São já quatro anos de bons ventos para a mineração, puxados pela voracidade da China. Como foi amplamente noticiado, o lucro do setor chegou a 51% de seu faturamento e sua estrela mais reluzente bateu a Petrobras em atratividade nas Bolsas. Nos setores de siderurgia e metalurgia a história não é muito diferente e as principais empresas desses setores somaram ganhos de U$6,3 bilhões no ano passado.

As estratégias para o crescimento podem ter especificidades mas passam pelas aquisições e têm os pés fincados em fortes investimentos na melhoria de produtividade. O lucro da CVRD, por exemplo, subiu 29%, o que deixou a empresa com caixa suficiente para aquisições que diminuíram sua dependência de minério de ferro e a colocaram como líder no mercado de níquel. E, mais do que comprar, a empresa está investindo pesado – cerca de US$ 6 bilhões até o final deste ano – para ajustar padrões de gestão e eficiência.

Um bom exemplo da alta do mercado é o alumínio. O Brasil possui a terceira maior jazida de bauxita do mundo – é o segundo maior produtor de bauxita, quarto maior produtor de alumina e sexto produtor de alumínio primário. A China está num ciclo de demanda forte enquanto a oferta permanece tímida. O preço da alumina está 50% maior que há cinco anos.

Analistas acreditam que esse período de crescimento no setor de mineração ainda pode durar 15 anos. E, no caso da bauxita, apenas dois dos nove países produtores ainda apresentam capacidade de crescimento da exploração – o Brasil é um deles. Ponto para a Alunorte, que já planejou expansão com investimentos da ordem de R$ 2 bilhões na planta de Barcarena/PA: a partir de 2008, a empresa deve refinar 6 milhões de toneladas de alumina por ano, cerca de 25% a mais que hoje.

Outro bom exemplo é o preço do cobre que, em quatro anos, subiu 336% chegando a quase quatro dólares por libra. O que para os fornecedores de tecnologia é mais que ótimo pois só a Codelco, mineradora chilena que lidera esse mercado, reservou US$2 bilhões para investir nos próximos anos. Seu objetivo é produzir dois milhões de toneladas métricas de cobre refinado por ano nos próximos 10 anos – em 2006 ela produziu 1,68 milhão de toneladas métricas.

A alta dos preços dos metais — cobre, ouro, prata, alumínio e zinco — parece não ter fim. E recordes são quebrados sucessivamente, baseados no forte crescimento da China e da Índia, e mesmo na performance das economias na Europa e EUA. Mas, apesar de estarem vivendo uma situação financeira bem folgada, as companhias de mineração precisam fazer com que a produção acompanhe o ritmo acelerado da demanda.

Mineração e siderurgia são segmentos que sofreram impacto forte da globalização mas tiveram rapidez e caixa suficiente – e uma dose de sorte? – para aproveitar oportunidades que surgiram. Mas a competição também ficou mais acirrada, o que levou – e mantém – o foco das empresas em melhoria contínua de produtividade e qualidade e redução de custos sem esquecer os cuidados sócio-ambientais. Um dos pilares para alcançar esses objetivos é a tecnologia e, dentro dela, a automação tem grande participação.

Diferenciação, lucratividade e competitividade. Sair da produção e pensar em produtividade. No caso da automação, esses setores são tão cheios de possibilidades e nichos que chegam a espantar. A automação está presente desde a extração até o embarque do produto, passando por lugares que pareceriam um playground não fossem sua criticidade – como a sala de controle, a partir da qual se guiam caminhões de minério à distância, pelo joystick!

Para saber de detalhes sobre como a automação está se inserindo nesses setores, uma boa conversa com o pessoal responsável nas empresa já deixaria a impressão de é um setor que está aplicando, pesquisando e investindo no que há de mais moderno. Para a CVRD, divulgar essas informações ainda é uma questão estratégica. Mas a empresa foi buscar na indústria petroquímica seu gerente de automação que ele está correndo o mundo. Sabe-se que a Vale está investindo também para diminuir as diferenças tecnológicas entre suas plantas já que aquelas cravadas em regiões populosas estão atualizadas, mas aquelas muito distantes possuem um gap em relação a estas. E, pelo que se ouve, as plantas greenfield, que serão erguidas do nada, deverão utilizar tecnologias que mantenham os atuais padrões de produtividade por pelo menos 15 anos!

Para a Usiminas, ao contrário, a questão tecnológica e sua divulgação é parte de sua cultura. Fundada em 1962 com participação de sócios japoneses, a Usiminas vê na tecnologia e na capacitação de pessoal desdobramentos naturais do negócio. Tanto que já em 1973 a automação industrial ganhava uma gerência exclusiva. E, de uma maneira geral, decisões sobre tecnologia são aplicadas depois de um consenso entre a Diretoria Industrial e a Diretoria de Desenvolvimento. Novos projetos são conduzidos por equipes matriciais envolvendo pessoal das duas diretorias, que têm sempre informação da manutenção para realimentar seus pontos de vista.

A Usiminas, por exemplo, já se utiliza, há mais de 10 anos, de técnicas de inteligência computacional – sistemas especialistas e lógica fuzzy. E deve aumentar sua utilização, como todas as empresas dos setores de mineração, siderurgia e metalurgia. Isso porque esses setores lidam, de maneira geral, com processos de caráter não linear e de difícil modelamento convencional – fenomenológico. Já tecnologias como wireless e redes de campo são estudadas segundo aspectos de segurança, disponibilidade, robustez e retorno de investimento. Mas é uma questão de tempo a utilização de todas elas de maneira abrangente.

A massificação de ferramentas de Tecnologia de Informação e sua inclusão no chão de fábrica, fazendo TI convergir para a tecnologia de Automação, também é um fenômeno percebido pelos setores de mineração, siderurgia e metalurgia. Na Usiminas, aumentou o quadro de profissionais de TI, que passou a ser item importante na formação do pessoal da empresa. Tanto que a área já é, informalmente, denominada de TAI. Entra aí a questão da segurança da informação que agora chega com mais força ao chão de fábrica devido a convergência TA/TI e preocupa muito porque as conseqüências advindas de acessos não autorizados ou vírus podem afetar, mais que as operações, sistemas ecológicos inteiros.

Soma-se então às variáveis tecnológicas o fato de que a automação tem que acompanhar e dar suporte às questões ambientais que se acirram cada vez mais para os players desses setores.

Os cuidados ambientais começam, hoje, com sérios estudos de como cortar a mina para que o vento não leve poeira para as redondezas e para que o programa de replantar a vegetação seja facilitado. Continua com a proteção do material transportado – que pode receber uma fina camada de cobertura ou uma rega para baixar a poeira. Todas as empresas hoje têm que ter e divulgar suas estratégias e ações sócio-ambientais.

A Usiminas estabeleceu a proteção ambiental como prioridade e foi a primeira siderúrgica no Brasil – a segunda no mundo – a obter certificação ISO 14000. E a automação responde pelos dados e informações de contaminantes e seu controle. Essas medições realimentam os processos que, automaticamente ou não, promovem ações para mitigar ou eliminar esses deslizes.

Mineração, siderurgia e metalurgia vivem uma fase de ouro que acaba se transferindo um pouco para outros setores industriais, incluindo a automação industrial. Serão ainda vários anos de investimentos que não podem prescindir da tecnologia porque o minério – qualquer que seja ele – possui uma quantidade definida. Os ganhos virão em se retirar mais, mais rapidamente, com cuidados ambientais e sociais.


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