Revista Controle & Instrumentação – Edição nº 127 – 2007
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Gerenciamento de ativos: mais que monitoramento

“Quando nos referimos a gerenciar ativos, estamos falando de utilizar as inúmeras informações que estes hoje possuem e de alguma forma ainda não são utilizadas de forma pró-ativa. Ou nos referimos a instalar alguns sensores adicionais em um determinado equipamento ou sistema, que nos trará a tendência de um bom funcionamento e diagnósticos que nos ajudem a entender melhor os equipamentos e com isto prever falhas inesperadas“, comenta Ronaldo Ribeiro, da Cenibra.

Jedson Alessandro Damasceno, engenheiro de automação da Atan, comenta que “atualmente muitos clientes da Atan, de diferentes segmentos, estão abrindo os olhos para o assunto Gerenciamento de Ativos e valorizando a importância de se cuidar da saúde destes ativos. Em vários casos pude observar que os clientes estão preocupados com o futuro de suas plantas e muito interessados, estimulando seus profissionais técnicos a se especializarem no assunto e investindo através ferramentas adquiridas recentemente”.

Mas a definição do que é um ativo ou do que é gerenciamento de ativos varia muito. O importante é que o conceito de Gerenciamento de Ativos já está difundido em grande parte do mercado “Agora basta que os grandes players de automação participem de forma colaborativa para a criação e participação de Grupos Internacionais que procuram padronizar as soluções de mercado, como OPC Foundation, FDT-Group, etc. Os clientes devem buscar o esclarecimento junto aos fabricantes e empresas de engenharia para sanar as diferenças de entendimento. Em alguns casos, sugerimos a promoção de Seminários voltados para o tema Gerenciamento de Ativos, permitindo o esclarecimento das dúvidas sobre soluções/tecnologias”, comenta Jedson.

Podemos então entender que os usuários vêem essa ferramenta como algo que vai predizer uma falha futura, baseada em informações presentes e associadas ao histórico dos ativos em questão. E predizer leva a classificar a ação como manutenção preditiva – mas alguns, além de entender a ação como manutenção preditiva, também a classificam como o início da manutenção Pró -ativa, que significa atuar na causa e não somente na consequencia. De qualquer forma, os conceitos de manutenções preventiva, corretiva e preditiva continuam inalterados; mas a manutenção preditiva agora tem um aliado, chamado “Gerenciamento de Ativos”, uma ferramenta mais moderna e efetiva, que está entrando não como concorrente, mas como aliada que agrega muitos valores a esses conceitos existentes.

Embora o assunto esteja virando “moda“ agora, existe muita gente com experiência, principalmente, em áreas onde uma falha pode gerar prejuízos difíceis de compensar. E existe muita gente que já fez algum tipo de projeto, algum tipo de gerenciamento, algum tipo de monitoramento de performance, vários tipos de prognósticos. Mas José Ensinas Jr, engenheiro de automação da Polietilenos União, avisa que, dependendo aonde se quer chegar e das ferramentas que serão aplicadas, um gerenciamento de ativos pode ser bastante caro, mas é plenamente justificável em alguns setores de produção pela previsão de falhas com antecedência, ou ainda no auxilio de programar paradas. E aí vem uma dúvida: mas as petroquímicas não têm histórico de paradas programadas? Nesse caso estamos falando da parada de uma unidade inteira, o que vai continuar acontecendo. “Aqui no Pólo do Grande ABC, a última parada programada aconteceu em julho de 2002 – outra só deve ocorrer no ano que vem. Foram 35 dias parados. Isso é a parada de uma unidade fabril inteira, ou de um complexo todo. Mas dentro das unidades existem vários equipamentos monitorados, e sabe-se historicamente que sua vida útil é de 4 mil horas, por exemplo; quando chega-se próximo a esse número, um monitoramento mais aprimorado e intenso é realizado para um melhor acompanhamento e programação de manutenção. Podemos assim estender o funcionamento de um equipamento sabendo sobre sua condição atual“.

A vibração, por exemplo, é uma variável crítica para equipamentos rotativos, toda a vida útil de alguns componentes está baseada nessa medição. Para isso é importante que os medidores de vibração estejam funcionando apropriadamente. É trabalho para um time unido, porque gerenciamento de ativos é um sistema informatizado e automatizado que envolve equipe de automação, de mecânica, de elétrica e de manutenção. A automação é como um provedor de informações, e responsável para que todos os sistemas funcionem bem. “A principal função do gerenciamento de ativos, é acompanhar o funcionamento de todos os itens de seu escopo para que através deste monitoramento se possam tomar decisões inteligentes e de forma planejada. Casos especiais devem ser analisados em separado, o que é estatisticamente sabido, é que quando podemos planejar uma parada de equipamento, onde os ganhos e benefícios são muito maiores do que paradas não planejadas,“comenta Ronaldo Ribeiro. A automação é uma ferramenta fundamental para um processo, pois é quem trabalha com a informação, desde sua origem até a utilização no elemento final de controle e ao usuário final.

Mas gerenciamento de ativos pode ser dividido em três níveis: gerenciamento de ativos, monitoramento de condição e monitoramento de performance. Quando se precisa de todos os níveis? Segundo Carlos Fernando Albuquerque, engenheiro da Siemens, quando se vai fazer uma planta nova já se pensa em tudo isso. Outro momento é quando se definem os padrões de comunicação visando interoperabilidade, intercambiabilidade e gerenciamento de ativos. O que isso significa? “Quando se analisam as redes de comunicação padrão na indústria, seja Profibus, Foundation, Hart e mesmo Devicenet, existe algo chamado perfil de dispositivo que define a classe daquele objeto. Inversor de freqüência por exemplo, você tem um perfil de dispositivo que o define e ainda o que ele comunica ciclicamente e aciclicamente. Comunicação cíclica são comandos de ‚liga’, ‚desliga’, ‚leia feed badback’, ‚referência de velocidade’, ‚corrente’, etc. Conseqüentemente, o diagnóstico cíclico é fundamental para aquilo que chamamos de gerenciamento de ativos de planta“.

Jedson, sugere que, ao tomar a decisão de possuir um gerenciamento de ativos, deve-se adquirir softwares especializados para cada tipo de ativo. As principais soluções disponíveis no mercado permitem monitorar e gerenciar, de forma eficiente, as seguintes classes de ativos: Monitoração de Processo; Monitoração de Temperatura e Vibração de Máquinas; Eficiência de Equipamentos (OEE); Paradas de Equipamentos; Instrumentação (Ex.: FieldCare, AMS, etc.); Malhas de Controle (Ex.: Plant Triage); Dispositivos Elétricos Inteligentes (CCMi); Redes de Controle e de Comunicação (Ex.: X-Ratel para rede Ethernet); Servidores e Estações (Ex.: X-Ratel Performance Monitor); Configuração de Sistemas de TA (Ex.: RSMACC, futuro AssetCentre); Alarmes de Processo e de Sistemas. “O Gerenciamento de Ativos é um elemento vital para que as organizações possam evoluir dentro do modelo de Excelência Operacional objetivado pelas empresas em um mercado cada vez mais competitivo. O resultado das empresas é dependente do correto funcionamento dos ativos de produção e de sua infra-estrutura operacional. O gerenciamento de ativos eficiente, e que objetiva a melhoria contínua, é um dos alicerces do desempenho proporcionado pela Excelência Operacional“, lembra Jedson.

O gerenciamento de ativos gera muita informação – e informação de duas naturezas, cíclica e acíclica. Para que não aconteça uma avalanche de dados inúteis é preciso um mecanismo padrão de interpretação e apresentação da informação. Mas aí tudo se complica porque, apesar de um básico comum, cada fabricante possui um software com especificidades. Carlos Fernando recomenda, então, que se tome conhecimento das normas da Namur. “Elas são a base de todos os gerenciamentos de ativos“, explica o engenheiro. Então, para um trabalho sério sobre gerenciamento de ativos multiplataforma é preciso começar com os papers da Namur que possuem um grande diferencial em relação a ISA. Por exemplo: apenas usuários votam e estabelecem critérios. Os fornecedores participam como observadores que não podem opinar ou votar. Essa diferença torna as normas da Namur menos suscetíveis a movimentos de mercado.

Uma chave de nível capacitivo por exemplo, com uma ponta de prova imersa ou não, vai perdendo aos poucos sua capacidade de medir devido a incrustações. Mas isso é um processo gradual de degradação. Se existe na eletrônica embarcada um mecanismo de detecção da incrustação, ele pode sinalizar que o ativo está mudando de estado – vai sair de manutenção demandada, requerida, imediata e falha (estados são bem definidos pela Namur). Os dispositivos precisam, então, ter autodiagnóstico e a possibilidade de sinalizar isso conforme o padrão.

Monitoramento é uma das ferramentas do gerenciamento. E mesmo que seja possível realizá-lo sem grandes inovações tecnológicas, não se monitora de maneira ótima sem inteligência – no ativo ou externa a ele. No motor por exemplo, a principal grandeza de monitoramento de sua condição é a vibração. Nenhum motor vem com acelerômetro embarcado ou eletrônica para detectar isso. Normalmente se tem um programa de manutenção preditiva e uma rota de inspeção que segue um ranking A B C dos motores e que determina a sua periodicidade de inspeção. Um motor muito crítico, mede-se a cada 15 dias; um motor importante, a cada mês; um motor necessário, a cada dois meses. O técnico vai com um módulo de aquisição de dados aos pontos prédeterminados nos mancais para fazer a medição; acumula os dados, volta, interpreta, faz relatório e propõe ações. Esse é o exemplo de um ativo que não tem autodiagnóstico embarcado. “Em contrapartida, quando a tecnologia está embarcada, pode-se fazer esse monitoramento de condição pelo sistema de controle. Porque se lembrarmos de incluir no firmware do transmissor de nível a marca de estado definida pela Namur – bom, manutenção requerida, manutenção necessária, manutenção emergencial, falha – transmite-se isso no telegrama de comunicação da rede. E o padrão de rede já define onde colocar essa informação no telegrama porque tem ligação com a palavra de status do perfil do dispositivo“, pontua Carlos Fernando.

Esse é um monitoramento offline mas, dependendo da criticidade do equipamento, o monitoramento pode ser online. Para o caso da vibração, por exemplo, existem os sistemas da Bentley Nevada, da CSI, da Entek, SKF, onde existe instrumentação para monitoramento de vibração 100% do tempo na máquina, coletando dados em tempo real. Então se consegue agir em tempo real. Hoje existe uma fronteira de monitoramento de condição de dispositivos eletromecânicos com inteligência embarcada e o de dispositivos mecânicos com instrumentação de condição adicionada. Mas as informações convergem para um software de gerenciamento.

No exemplo do Profibus PA, sua norma define que devem existir cinco bytes para comunicação cíclica do transmissor e um byte para diagnóstico. Então ali dentro já est a condição do estado em tempo real que serve para sinalizar´, de forma gráfica, que o ativo muda de estado. A partir daí pode-se planejar a intervenção de manutenção antes que o instrumento quebre. Mas o monitoramento de condição é apenas uma das ferramentas.

Então, definição de gerenciamento de ativos no sentido de gerenciamento de dispositivos é configurar, parametrizar e diagnosticar de forma remota. E monitoramento de condição torna-se apenas uma parte disso, diagnóstico. Configuração e parametrização remotas implicam na existência de inteligência no ativo a ser gerenciado, onde existe um conjunto de parâmetros dos quais se pode fazer upload e download remotos. “Alguns sistemas – o PDM da Siemens por exemplo – conseguem fazer o upload de cerca de 200 parâmetros de uma válvula apertando um botão. E se acontece de trocar uma válvula e colocar um novo posicionador, pode-se reparametrizar de novo em poucos segundos. O PDM também consegue fazer o upload da parametrização da mesma forma: se tenho três válvulas iguais, parametrizo uma e jogo a informação no campo, testo e valido. Puxo a parametrização dela e jogo para a válvula seguinte mudando só o tag e o endereço. Com isso também se pode fazer auditoria e a rastreablidade da mudança, ou seja, a partir do momento em que no primeiro nível de gerenciamento de ativos – o gerenciamento de dispositivos de campo – consigo ter uma base de dados central de parametrização e configuração, posso controlar mudanças. Consigo saber quem fez, o que fez e quando fez, e determinar bilhetes de acesso de leitura e escrita para os parâmetros e consigo gerenciar melhor. Isso tudo acontece no gerenciamento de dispositivos“, explica Carlos Fernando.

Cobrir todos os dados de parametrização, configuração e diagnóstico remotos da instrumentação de campo em Hart, em Profibus ou outro bus, além dos elementos de CCM, como relés de proteção de motor e inversores de freqüência, é um diferencial importante porque dessa forma se consegue gerenciar numa única ferramenta a instrumentação e o CCM o que, dentro da perspectiva de que há cada vez menos especialistas nas plantas, uma ferramenta polivalente facilita a vida, é mais que bem vinda.

E tendo isso tudo, como vou saber que aquele ativo tem um defeito para poder agir nele? Entra-se no gerenciamento de ativos de planta, um sistema de monitoramento em tempo real do estado dos ativos. Ele vai usar de informações do diagnóstico cíclico definidas pelo perfil do dispositivo em cada rede – uma rede possui um perfil de dispositivo para instrumentação, outro perfil para dispositivos de acionamento, outro perfil para remotos. Dentro da definição de perfil para cada dispositivo define-se a palavra de diagnóstico que é enviada a cada varredor de rede, de cada nó, de cada dispositivo. Tendo a definição da palavra, o sistema de controle pode interpretá-la, decodificá-la e automaticamente gerar informações de alarme, sem programação. Esse é um recurso interessante nas plataformas de SDCD têm que os PLCs não têm porque como os SDCDs têm uma base de dados única de controle e visualização, ao mesmo tempo em que decodifica a palavra de diagnóstico, automaticamente dispara um alarme que vai aparecer na tela. Se for num PLC, de um supervisório para outro, é preciso ter um código específico para descrever aquela informação e jogar no lugar certo do supervisório. A diferença é que no SDCD é automático, não precisa especificar para que a informação venha; no PLC é preciso colocar no escopo de contratação do serviço de programação do PLC e programação do supervisório: se não colocar, não vai ter e todo o diagnóstico que vem morre no PLC, é inútil para o cliente. Nesse sentido, os softwares de gerenciamento de ativos de planta vão mais além porque não são apenas alarmes de texto: existem itens de diagnóstico que vão mudar sua informação visual para indicar qual dispositivo está em modo de falha. Qual motor, bomba, inversor, relé, transmissor de vazão, válvula, switch de rede Ethernet, servidor de rede, computador pifou, porque o gerenciamento de ativos não pode, e não deve, ficar restrito apenas a instrumentação.

Para que o gerenciamento de ativos faça sentido como ferramenta holística de manutenção tem que cobrir também a parte elétrica e além disso a parte de comunicação. Uma parte muito esquecida do gerenciamento de ativos é a parte elétrica. Na Polietilenos União ela não está integrada no gerenciamento de ativos atual, porém a equipe realiza inspeções visuais e termográficas usadas no planejamento das paradas de manutenção. A área de engenharia mecânica da petroquímica tem todo o conhecimento teórico e técnico e conhece os equipamentos. Muitos desses foram melhorados – como a composição de materiais ára maior durabilidade e melhor desempenho. Mas sabem que é preciso monitorar.

Na parte de comunicação, do controlador para a operação, geralmente se fala em Ethernet. E o dispositivo no meio disso é o switch de rede. Carlos Fernando lembra que nessa área existe um protocolo de diagnóstico padronizado chamado SNMP – Single Network Management Protocol, que também está definido no modelo OSI, camada 7. É um serviço como Telnet, FTP, Single Network Mail Protocol, ou seja, define de forma multivendor, como um dispositivo de rede Ethernet deverá responder a um software de gerenciamento de ativos. Na área de TI isso é muito mais antigo porque suponha que administrador de rede Ethernet possua milhares de nós de uma corporação e não pode ir até a mesa de cada funcionário para saber se a placa de rede do computador está funcionando; não pode ir a cada planta saber se o swicht de rede está funcionando. Ele quer ser capaz de acessar remotamente cada dispositivo e descobrir seu status, definido por um protocolo. O SNMP também define o MIB – Management Information Base que, comparando com a área de redes de campo, equivaleria a um EDD; o SNMP equivaleria às funções acíclicas de um protocolo de comunicação. Consequentemente se sua rede falar SNMP e tiver a descrição MIB de cada device Ethernet, pode fazer o gerenciamento de ativos da rede.

Os serviços via web disponibilizados nos instrumentos de hoje merecem atenção especial, visto que muitas tarefas podem ser feitas utilizando a rede corporativa da empresa. Procedimentos errados podem ocasionar paradas indesejadas como a retirada de um equipamento de serviço. Segurança e os níveis de acesso das ferramentas de software devem ser constantemente checados por pessoal especializado. Essas novas possibilidades mudaram o nível de segurança na automação industrial, visto que hoje está disponibilizando informações para usuários que antes eram somente de TI.

Então, uma ferramenta de gerenciamento de ativos ampla, de planta, tem que ser capaz de ler tanto a informação de diagnóstico em tempo real dos dispositivos de campo quanto dos dispositivos Ethernet que fazem parte do sistema de controle – que têm, em geral, um mtbf pior que os dispositivos de automação.

Todos os instrumentos passam por procedimentos e rotinas de calibração – mesmo para instrumentos com grande precisão e intervalos longos de anos sem calibração.

O gerenciamento de ativos também leva a um ciclo de treinamento pessoal diferente, não só porque é um campo visível da convergência de Tecnologia de Informação (TI) com a Tecnologia de Automação (TA) mas também porque quem faz a análise do estado dos equipamentos precisa conhecer o histórico da planta, as modificações e as melhorias implementadas. Na Polietilenos são engenheiros e técnicos que atuam em inspeção e confiabilidade de equipamentos, pessoal que possui um histórico anterior ao gerenciamento de ativos, implantado em 2002. Esse conhecimento na petroquímica chega em alguns casos há 20 anos e conta com o histórico de várias mudanças. Ensinas lembra que esse conhecimento pode estar fora do gerenciamento de ativos, mas está incorporado no dia a dia da empresa. “Nossa unidade de produção foi construída na década de 1970, e hoje, após várias melhorias e upgrades, alguns equipamentos estão com performance muito acima daquela projetada e vários deles são monitorados de alguma forma”, comenta Ensinas.

Mesmo com um arsenal de primeira em automação, Ensinas, como o professor Jorge Otávio Trierweiler, da UFRGS, acredita que não é preciso estar com a última novidade em automação para fazer gerenciamento de ativos, mas apenas com a informação validada e consistente. Para requisitar, analisar, disponibilizar e arquivar não se precisa dos mais novos lançamentos de software para automação industrial, precisa-se da informação confiável e validada.

Jedson ressalta também a importância que deve ser dada aos aspectos ligados à qualificação, ao aparelhamento e à motivação dos recursos humanos, com a consciência de que nenhum valor é obtido sem que esse elo essencial da cadeia de resultados também evolua continuamente.

Monitorar, de fato, não se trata só de instrumentação, porque ainda existem processos onde essa tarefa é feita manualmente – o que pode mascarar o fato de que gerenciamento de ativos é coisa somente para grandes empresas. Muitas empresas fazem esse gerenciamento, nem sempre de forma automatizada, através de equipes ligadas à manutenção. Para essa atividade, ainda podemos encontrar empresas que prestam esse serviço, de forma terceirizada, fornecendo estudos, diagnósticos e índices para equipamentos e sistemas.

Segundo Ensinas, o investimento em gerenciamento de ativos pode trazer seu retorno de investimentos num prazo de seis meses, dependendo do equipamento. É algo bem rápido principalmente se a empresa partir do monitoramento manual para alguma automação. No inicio pode ter a geração de muita informação que vai precisar ser processada para gerar dados válidos. A capacidade das equipes internas para analisar e validar essas informações contribuem para a velocidade e eficiencia do retorno do investimento.

Para a manutenção, cada empresa adota o formato que melhor atende suas necessidades, não é possível estabelecer uma receita de bolo. Algumas empresas tentaram atribuir ao operador algumas ações de manutenção, muito além daquelas que lhe são peculiares e isto não trouxe benefícios, pois em alguns momentos as atribuições se confundiam e isto gerava uma “atribuição com dois donos“, reduzindo a qualidade da execução. Além disto, o operador desviava seu foco operacional, causando prejuízo na execução de suas atribuições. Hoje, mais focadas e experientes, as empresas mantêm equipes próprias ou não, voltadas exclusivamente para a manutenção. A equipe de manutenção na Polietilenos, por exemplo, é formada por 20% de contratados regulares terceirizados e 80 % de funcionários próprios.

A automação que possibilita o gerenciamento de ativos tem ação imediata na melhoria da rotina diária das equipes de manutenção, e também na redução do esforço físico para as ações de inspeção. Com ela somente sofrerão intervenções de manutenção aqueles equipamentos que efetivamente necessitam destas, através da análise de seu funcionamento e acompanhamento de sua performance durante seu funcionamento normal. No passado era comum que em uma parada de fábrica se retirasse o maior número possível de válvulas de controle para sofrerem revisão em oficina; já com um sistema de gerenciamento de válvulas é possível retirar para revisão somente aquelas que necessitam de manutenção.

O que ainda está faltando mesmo na automação e na instrumentação, é uma real interoperabilidade. Hoje os diversos softwares disponibilizam o básico de forma igual mas aí cada fabricante tem um plus para si mesmo mas que mal e mal conversa com as outras marcas. Aparentemente, as normas não são abrangentes o suficiente, dificultando que um software gerenciador ofereça todos os recursos para todos os instrumentos – o que compromete um pouco a filosofia do gerenciamento de ativos já que um gerenciamento bom para os instrumentos de um fabricante fica no aspecto mais básico do básico para outras marcas.

E isso tudo ainda tem que se adaptar às ferramentas corporativas de manutenção. Dois bons exemplos dessas ferramentas são o Máximo (MRO/IBM) e o módulo PM do SAP, que gerencia as ordens de trabalho de manutenção. A abordagem de Carlos Fernando da Siemens, nesse caso é aproveitar ferramentas consagradas. “Ao invés de recriar o Máximo ou o SAP, a gente complementa o que eles não têm, o tratamento de dados em tempo real no formato adequado à geração das estatísticas de manutenção e ações de manutenção ou seja, não faz sentido colocar um módulo de Profibus no Máximo para que ele decodifique todos os telegramas de diagnóstico e daí gere a ação de manutenção – isso a gente faz no controle. A gente gera a informação de estado da Namur mostrando como o ativo se encontra e joga essa informação para a ferramenta de gerenciamento de ativos corporativo para que ele possa agir. Dessa forma, não geramos excesso de informação“.

Nesse ponto é preciso fazer uma diferenciação entre o que é gerenciamento de ativos e monitoramento de performance – este está um degrau acima do gerenciamento de ativos. O gerenciamento de ativos é uma ferramenta de manutenção que garante o uptime máximo da planta; o monitoramento de performance é um pouco diferente, permite que se planeje economicamente as operações de uma planta inteira.

Ronaldo Ribeiro lembra que o fato de se ter ou não gerenciamento de ativos não impacta diretamente na cadeia de fornecedores, mas impacta diretamente nos custos de manutenção e de produção, pois quando se tem um bom sistema de gerenciamento de ativos, os custos de perdas de produção são reduzidos assim como o downtime, o tempo de paradas não programadas.

E assim o gerenciamento de ativos mudou radicalmente os ciclos de vida dos equipamentos e treinamentos, o custo, o desenvolvimento de novos materiais, e mesmo as possibilidades de testes de novos materiais e tecnologias porque se pode monitorar e validar o resultado.

A automação agrega valor, conhecimento e experiência a estas informações de processo para melhorar os resultados como um todo. A automação, portanto, é responsável por disponibilizar toda a informação para quem vai fazer a análise do desempenho dos equipamentos e programar a manutenção.

“O que precisa ficar bem claro, é que todo sistema se não for bem parametrizado e se não tiver um determinado grau de utilização, não oferecerá os benefícios que foram propostos. Logo, ao se instalar um sistema de gerenciamento de ativos, este deve possuir uma pessoa responsável para verificar e analisar os resultados por este mostrado. É um todo que deve ser pensado“, lembra Ronaldo.

Para medir a efetividade de um sistema de gerenciamento de ativos, uma boa maneira é relacionar os benefícios trazidos por este durante sua instalação, ou seja as paradas que foram evitadas, as ações que foram desenvolvidas e a tranqüilidade oferecida para futuras ações de manutenção. Quanto aos softwares existentes, não dá para dizer qual é melhor ou pior. O que se pode afirmar é que a necessidade de cada usuário, associada às suas limitações técnicas e financeiras, definirá a automação e o software a serem instalados.

Com essa tecnologia toda, pode-se acabar com as grandes causas de quedas e paradas indesejadas podem ser listadas como o término da vida útil dos equipamentos trabalhando acima de sua capacidade nominal, manutenções deficientes, falta de cuidados básicos, equipamentos não inspecionados ou monitorados em tempo hábil, agentes ambientais, dentre outros. Fatalidades acontecem. Imprevistos, não mais.

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