Revista Controle & Instrumentação – Edição nº 126 – 2007
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Máquinas-ferramenta: maior precisão com automação

O setor de bens de capital representado pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), que congrega 27 diferentes segmentos de fabricantes de máquinas e equipamentos, vem, já por três vezes, fechando o ano com faturamento em torno R$ 55 bilhões. E, na base dos bens de capital, temos as máquinas-ferramenta. Uma forma de definir máquinas-ferramenta seria “máquinas para processamento de metais por arranque de cavaco ou por deformação”. Máquina para fazer máquinas dá uma idéia melhor. E esse segmento tem hoje faixas de atuação divididas entre maquinaria de tecnologia tradicional – aquela operada manual ou semi-automaticamente -, maquinaria automática, e sistemas para produção – incluindo sistemas flexíveis, ilhas ou células de produção.

Isso porque o mercado continua demandando peças metálicas produzidas por cavaco ou deformação, em escala ou em pequenos lotes, mas com alta precisão, flexibilidade e baixo custo. Essa qualidade e repetibilidade são alcançadas graças à automação. No caso de tornos e fresas, essa automação é comumente reduzida a uma sigla, CNC. O Comando Numérico Computadorizado – CNC – tem por função controlar os movimentos das máquinas-ferramenta, máquinas como tornos e fresadoras – que produzem peças cilíndricas ou por movimentos cilíndricos e máquinas que produzem peças em formato de paralelepípedo, respectivamente. Numa outra definição, CNC é o conjunto de elementos de controle de uma máquina operatriz (CPU, amplificadores e motores). O CNC seria o cérebro (a inteligência), e os amplificadores e motores são os músculos, o que movem a máquina (a potência).

O mercado de CNC, no Brasil, movimenta cerca de R$130 milhões, onde 90% são colocados pelos fabricantes de máquinas e o restante vai para usuários diretamente, por retrofit ou por reformas. Pode-se considerar que o mercado de CNC no Brasil está divido igualmente entre Siemens e GE Fanuc, com alguma participação da Fagor. Segundo executivos da GE, a estimativa da empresa, apenas para balizamento interno, é de que atinjam cerca de 50% do mercado. As empresas também costumam medir a participação em feiras como um indicador de intenção de compra – ou intenção de venda, pois imagina-se que um fabricante tende a usar o CNC que julga mais fácil de vender em cada mercado, e o fato de oferecer este ou aquele CNC em sua máquina reflete sua confiança na marca que expõe em seus stands em feiras.

Segundo o engenheiro William de Almeida Pereira, da divisão de sistemas e automação de máquinas-ferramenta da Siemens, o tipo de peça a ser produzido é que determina o tamanho da máquina. Quando se compra um torno, por exemplo, já se tem uma determinada peça em mente. “Não é um setor onde se compra uma máquina hoje que vá fazer peças muito diferentes no futuro. Não sem uma reforma. Tanto que se compram as máquinas depois de um try out, é preciso provar antes que a máquina será capaz de fazer a peça”, diz o engenheiro, frisando que a automação, a capacidade do CNC, acompanha não o tamanho, mas a complexidade da máquina, a quantidade de eixos necessários. Tornos e fresadoras são encontrados em muitos setores mas comumente estão ligados às montadoras e autopeças. Hoje as empresas tendem a terceirizar a usinagem, às vezes em seu próprio site, formando uma linha de montagem maior. Sem contar que as empresas preferem terceirizar o que não é seu core business , seu know how. E um nicho que vem ganhado força é o da usinagem das peças para torres de energia eólica.

Existem muitos fabricantes de máquinas no país, onde os usuários podem escolher se querem a automação incluída ou não, pois as máquinas importadas já vêm automatizadas. Segundo a GE Fanuc, as máquinas produzidas no Brasil necessitam de um fornecedor local de automação, que forneça toda a estrutura de vendas, aplicação e suporte pós-vendas. “Suporte de campo durante a vida útil da máquina é o segundo papel do fornecedor de CNC, e aqui entra treinamento de operadores, diagnóstico de problemas, venda de peças de reposição, reparo, etc. Por último, em geral a estrutura da máquina tem uma sobrevida em relação ao equipamento eletrônico, de forma que ao fim da vida útil da máquina, frequentemente torna-se oportuno um retrofit , a substituição completa ou parcial do equipamento de controle”. A GE Fanuc aplicado CNC principalmente em tornos e centros de usinagem, mas atendem de igual forma retíficas, furadeiras, puncionadeiras e outras aplicações fora da área de corte de metal.

Quando se fala em CNC está-se falando em precisão de movimento e os comandos não podem falhar. A cada ano desenvolvem-se drives melhores que controlam cada vez melhor, no menor tempo possível. E quanto maior a capacidade de processamento um CNC possui, mais fácil ele controla o movimento. Numa máquina-ferramenta existe uma IHM onde o operador digita o comando que é a ordem para o CNC controlar, segundo os dados inseridos, os vários eixos existentes. E isso acontece dentro de uma linguagem de programação chamada ISO-G, que todos os fabricantes utilizam. “Apesar de a linguagem ser igual para todos, por norma, cada fabricante agrega outras características porque a norma não compreende todas as funções necessárias, daí as diferenças entre os CNCs existentes”, explica William, da Siemens. Isso também significa que os alunos do Senai ou de outro curso de CNC vão se formar sabendo o básico; para a compreensão da sintaxe da programação serão necessários treinamentos específicos nos diversos fabricantes.

Mas as empresas fornecedoras de soluções em automação não se limitam a atender os fabricantes de máquinas, elas também estão no mercado para transformar máquinas manuais ou com tecnologia defasada em máquinas-ferramenta de última geração. Na divisão de máquinas-ferramenta, a Siemens atua em OEM mas também possui uma área especialmente voltada para usuários finais. “Nessa área de retrofit podemos citar dois exemplos, o da Prensas Schuler — onde as máquinas são muito grandes e têm sido utilizadas na usinagem de partes de usinas eólicas, peças gigantes, além das máquinas. E a reforma de três tornos na Sifco, indústria de autopeças. Recebemos solicitações e atendemos o cliente direto, qualquer que seja seu tamanho”, comenta William.

Quando o usuário tem uma máquina – nova ou usada – que quer automatizar, entra em contato com o Serviço ao Cliente que envia um especialista para especificar quais as soluções possíveis para a máquina e o serviço que ela vai realizar. E existem muitas possibilidades para um mesmo range de trabalho. A Siemens dividiu sua atuação em máquinas low cost, midium range, e grande porte. Nas de low cost a empresa aplica um comando numérico que trabalha com quatro eixos e um spindle. Esse equipamento está nos novos tornos da Romi (30-D) e já existem cerca de 700 máquinas com esse comando no mercado. Os comandos numéricos do medium range da Siemens trabalham até 20 eixos/spindle e para máquinas de grande porte, existe uma família para até 31 eixos/spindle, tudo fabricado na Alemanha com estoque local de reposição. Para os executivos da GE Fanuc, o diferencial dos seus CNCs baseia-se no tripé desempenho, qualidade e confiabilidade, e acrescentam que seus produtos utilizam tecnologia à frente de seus concorrentes, como a tecnologia servo digital, introduzida há mais de 20 anos e que levou quase 10 anos para ser adotada pelo mercado.

Para comprar uma máquina-ferramenta, é preciso ter a potência e o tamanho da máquina (o curso de mesa). Normalmente quem compra é o pessoal da área mecânica, que muitas vezes não tem claro que a automação do equipamento também pode ser especificada. E saber especificar o CNC é importante porque através dele o usuário poderá – ou não – alterar comandos para gerar ganhos de velocidade e produção, por exemplo. E os usuários podem ligar para os fornecedores de CNC e pedir maiores detalhes sobre as vantagens deste ou daquele equipamento ou software. Para os usuários que acreditam que esta ou aquela marca são mais caras simplesmente porque são, William lembra que, no caso da Siemens, existem soluções em CNC para todos os tamanhos de máquina. Ao comprar uma máquina já automatizada, os usuários devem se considerar clientes também da empresa que forneceu o CNC, mesmo que a tenham adquirido de fabricantes de máquinas ou mesmo de dealers internacionais. Atender aos usuários de máquinas importadas, que possuam um CNC de sua marca é um ponto controverso para os provedores de automação no Brasil e suas estratégias variam. A Siemens atende no pós venda, na assistência técnica e para treinamento também as máquinas importadas por dealers pois sua política é atender o usuário, para reforçar a marca e a tecnologia. “Essa postura é sempre bem-vinda pelo usuário e a marca ganha pontos que se somam à satisfação com a tecnologia”, comenta William, da Siemens, que garante o acompanhamento técnico da automação, bem como oferece a esse usuário os mesmos treinamentos realizados para os compradores de máquinas locais.

Quando se compra uma máquina, o vendedor já dá o treinamento de como o todo funciona mas é consenso que seria mais que bem vinda uma formação específica para tirar do CNC tudo o que ele pode dar. “Sem um treinamento em comando numérico o usuário subutiliza o que tem em mãos e, consequentemente, não gera os ganhos todos que poderia”, frisa William.

Os treinamentos específicos são importantes mas em matéria de formação, nada como o Senai. O braço educacional da CNI mantém atualizados seus vários parques de ensino. Reconhecendo o potencial dos discentes do Senai, a Siemens elaborou um software que simula o funcionamento de um CNC sem a necessidade de um torno ou fresadeira acoplado, o que garantiu ao produto uma homologação pelo Senai – a compra fica a cargo de cada unidade.


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