Revista Controle & Instrumentação – Edição nº 125 – 2007
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Fieldbus não é mais um protocolo...

Durante uma coletiva de imprensa, em Houston/EUA, no começo deste ano, o diretor executivo da Foundation Fieldbus, Rich Timoney, verbalizou um pensamento que parece revolucionário mas que já vinha sendo tratado no dia a dia: “O  Fieldbus Foundation não é um protocolo, é uma arquitetura.” 

A Controle & Instrumentação pediu para os brasileiros experts no assunto comentarem a declaração. E houve consenso. Porque mais do que cabos entre dispositivos, a especificação do Fieldbus inclui o que o próprio usuário pede. Muito mais que uma rede, ele quer uma arquitetura aberta que permita que muitos dispositivos se conectem a um controlador que possa encontrar cada um desses dispositivos, e cada um deles por sua vez seja capaz de informar sobre muitas variáveis. Tudo isso fácil de usar.

Durante a coletiva, o diretor da FF comentou a liderança do Fieldbus frente a seu principal rival, o Profibus PA, e lembrou que os esforços da Fundação permitirão a comunicação vertical entre sistemas, complementando a comunicação horizontal da arquitetura.

Cláudio Fayad, diretor de sistemas da Emerson Process Management, escreveu muitos artigos sobre o tema e um deles, sobre confiabilidade, foi eleito, em 1999, o melhor do ISA Tech. E ressaltou que todos os artigos que escreveu começavam com uma frase parecida: “fieldbus é muito mais que um protocolo”. Segundo Fayad, não se escreve um artigo sobre um barramento, falando de determinismo, controle de campo, integração entre o equipamento e o sistema, blocos funcionais... quando se engloba tudo isto temos uma arquitetura, ou um modelo de aplicação. Hoje, barramento para a maioria das pessoas é Ethernet, é só para dados.
Então, recapitulando: a especificação de um barramento de campo é a especificação do meio físico – qual fio usar – qual a tensão, como os dados vão passar nesse fio - 1 e 0, onde1 é tensão x, 0 é tensão y. E especificar qual linguagem está passando nesse bus; o barramento de campo vai até um determinado nível de especificação.

Mas bem o lembram os experts, o FF desde o início especificou dois barramentos, o H1 e o H2 – este último abandonado – e ainda um outro, o HSE, que até hoje não decolou e está patinando como padrão porque hoje 100 MHZ é muito pouco para um mercado onde vários fabricantes já estão utilizando 1 GHZ – apesar da norma HSE mencionar 100 MHZ, ela utiliza Ethernet padrão como meio físico e camada de enlace, e assim poderia sem nenhum prejuízo, utilizar a rede de 1Giga.

Fayad lembra que desde o início a Foundation especificou a camada de usuário, que é a linguagem FF, especificando que a forma de se visualizar a configuração e os parâmetros dos equipamentos FF é através de blocos funcionais. Especificou a forma como eles os softwares se comunicam com os equipamentos FF (através de DDs) e os blocos funcionais – assim cada fornecedor tem liberdade para desenvolver seu própio software, com suas interfaces gráficas e menus, mas em todos as configurações serão parecidas, pois utilizarão blocos funcionais conectados. Especificou também que os blocos funcionais seriam uma forma do sistema enxergar as capacidades e características dos equipamentos.

O Hart tem seus comandos – standard e específicos e também define a DD como forma de descrever o equipamento, mas não define a camada de usuário – mas como isso é visto e utilizado pelo sistema de controle não está especificado no FF – não existe o conceito de bloco funcional, que é como o usuário vê toda a funcionalidade do equipamento. “Para alguns isso é só um barramento de campo. Para outros, é uma arquitetura de automação porque tem vários barramentos especificados, linguagem especificada, forma determinística de troca de dados especificada o que permite trocar dados entre instrumentos e rapidamente fazer o controle no campo. Ele é um barramento mas falar que ele é só isso é menosprezar todo o conhecimento e tecnologia por trás desse conjunto”, completa Fayad.

Marcos Peluso concorda: o diretor da Foundation tentou explicar que o Fieldbus é mais do que um simples protocolo. “Em principio, uma porção de instrumentos de campo ligados por um ou mais pares de fios ao sistema de controle é um bus. Os instrumentos podem oferecer uma simples medição, não há descrição sobre a informação sendo enviada e a interoperabilidade é um jogo de azar. Com o Foundation Fieldbus você tem uma arquitetura aberta. Toda a informação que o instrumento pode oferecer é descrita e organizada no Device Description. Tudo pode ser configurado antes mesmo que os instrumentos sejam conectados utilizando os Capability Files para configuração off line. Métodos são como wizards que guiam o operador nas tarefas de configuração, calibração etc, garantindo que todos os passos da tarefa são cumpridos corretamente e na seqüência certa”, pontua Peluso.

E tudo isso numa arquitetura aberta, interoperável por conceito mas também por testes rigorosos. Os instrumentos de campo possuem blocos de função, que permitem controle  e cálculos no campo, praticamente transformando o bus em um sistema de controle. Ainda ficam faltando a interface homem máquina, o histórico, o gerenciamento de alarmes, etc. Não quer dizer que o usuário pode dispensar o sistema de controle, mas sim que as tarefas de controle regulatório podem ser transferidas para os instrumentos de campo, trazendo uma considerável melhoria em performance, reduzindo variabilidade, e praticamente dobrando a disponibilidade.

Para Peluso, a Fieldbus Foundation está promovendo o fato de que o Fieldbus — H1, HSE, EDDL, conectividade com OPC — oferece a infra-estrutura para uma arquitetura completa. “Claro que falta muito enchimento para isso acontecer. Um bom exemplo é o PlantWeb, que alguns concorrentes têm tentado superar, mas ainda têm muito chão para percorrer. E a Emerson não está parada. Ninguém tem a nossa variedade de instrumentos de campo”.

Augusto Pereira, da Yokogawa, resume o assunto como um jogo de palavras para chamar a atenção para características importantes do Fieldbus – a interoperabilidade e a possibilidade de controle no campo – em contraponto ao seu rival mais próximo – que tem mantida acirrada a disputada pelo mercado. “Quando ele fala sobre um predomínio do Fieldbus sobre o Profibus PA, está se referindo aos mercados norte americano e asiático, mas com certeza não está pensando na Europa — onde o Profibus domina — ou no Brasil – onde PA e FF estão palmo a palmo praticamente”.


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